Ramis Tetu

Esporte não é um luxo, mas algo essencial para o desenvolvimento da nação

A promoção de esportes (não só o futebol!) é política central e eficaz de saúde, educação, construção de cidadania, resgate e desenvolvimento social, com ótima relação custo/benefício em todas elas, para todos os recortes sociais e em todas as escalas. No caso das mulheres, torna-se necessário um fator compensatório, um empenho ainda maior, dados o preconceito advindo de nossa cultura machista e a desigualdade de oportunidades – a prática de exercícios físicos por elas no país é 40% inferior a dos homens, segundo o relatório “Movimento é Vida - PNUD”, da ONU. Os grandes eventos esportivos devem servir para refletirmos, reverberarmos e avançarmos nesta questão. Muito e urgente.

Imperativo, não possibilidade

O artigo 217 da Constituição Federal é claro: “É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um”. Precisamos entender e cumprir isto no cotidiano das políticas de saúde, educação, desenvolvimento urbano e parques e jardins, entre outras. E a responsabilidade é de todos nós, não só da política, é jogo coletivo! 

Uma Vitória Leva à Outra

Este é o nome sugestivo do projeto que promove o empoderamento feminino de jovens meninas por meio do esporte, um programa conjunto entre a ONU Mulheres e o Comitê Olímpico Internacional, em parceria com as ONGs Women Win e Empodera. Nele, o esporte é uma ferramenta para desenvolver habilidades para a vida. Exemplo a ser replicado.

Machismo, um dos males a ser combatido

Muitos dos nossos problemas surgem a partir da cultura machista que prevalece no país em tudo: nas profissões, instituições e pessoas, não só nos esportes; explícita ou disfarçada; de direita e também de esquerda. Algo a ser superado a partir de uma nova premissa de que lugar de mulher é qualquer um aonde ela possa e queira crescer como ser humano e cidadã. O empoderamento feminino não pode ser um conceito bonito sob a bandeira feminista, mas sim uma política de estado aliada ao avanço civilizatório da nossa sociedade.     

Sinais inequívocos deste mal

Compare: os ganhos da jogadora Marta, maior goleadora de Copas do Mundo (incluindo as de futebol masculino) e seis vezes a melhor do mundo, não chega a 1% dos rendimentos do Neymar; o fosso que existe entre os investimentos nas categorias masculina e feminina - no futebol e nos demais esportes; o esforço e as dificuldades que uma atleta mulher enfrenta, em comparação com o homem. Depois assista os depoimentos de atletas mulheres e as mensagens ofensivas para as mulheres do Esporte da Globo, ambos no Esporte Espetacular de 10MAR19. Aí então você poderá perceber o nosso grau civilizatório e dele se envergonhar.

#joguecomoumagarota

As histórias individuais e coletivas de superação cotidiana no futebol feminino, o nível técnico e tático da partida e as atitudes das nossas jogadoras na derrota bonita e honrosa para a França na Copa do Mundo, domingo passado. Tudo isto nos coloca a pensar: quem usa salto alto, na vida e no futebol?

Dia nacional do não dia

É preciso insistir com o mantra: as causas nobres do desenvolvimento não podem ser restritas a um dia. Todo dia é dia de todos nós agirmos em prol das boas causas do Brasil, da Humanidade e da Teia da Vida, inclusive integrando-as.  

Perguntas do desenvolvimento

O que Vossas Excelências (seus assessores e equipe técnica), escolas, universidades, empresas, imprensa e cidadãos estão fazendo Brasil afora e Tocantins adentro para promover o esporte feminino? Vai ser só futebol? Percebe-se que é caso não só de obra, mas de gestão e mudança de cultura? Será que isto não pode se reverter em (justo) capital político?

Dicas de leitura

Para se aprofundar no assunto, leia os livros “A mulher brasileira e o esporte” do professor da USP Jorge Knijnik; e “Heroines of sport: the politics of difference e identity” de Jennifer Hargreaves (entre outros livros desta autora).    

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