Ramis Tetu

O pior mofo é o que contamina as ideias da nossa economia

Os fungos são lembrados como algo ruim – mofo, bolor, causadores de perda de alimentos e materiais ou de doenças em humanos, animais e plantas. Mas são fundamentais nos ciclos da vida no planeta e em campos distintos das atividades humanas como a gastronomia, a agricultura, a indústria e a medicina. Mais uma prova e uma razão de que o Brasil, detentor de grande parte da biodiversidade do planeta, precisa acabar com sua cegueira econômica e ideológica e colocar de vez a economia verde (aliada à do conhecimento) como parte central do nosso projeto de nação.

Os cinco reinos da Terra

O sistema de classificação dos seres vivos mais usado pela Ciência é o proposto por Whittaker, onde temos os Reinos: Monera, Protista, Fungi, Animalia e Plantae, onde basicamente estão as bactérias, as algas e protozoários, os fungos, os animais e as plantas. Infinitamente mais interessante do que Game of Thrones.

Um dos domínios do desconhecido

O número de espécies de fungos catalogadas é da ordem de 50.000, mas especialistas estimam as existentes em até 5 milhões. Na verdade, a humanidade está longe de conhecer a quantidade, diversidade e utilidade dos seres que habitam o planeta, em especial os invisíveis a olho nu e os escondidos da superfície.     

Alimentos, bebidas e cultura

Não se trata apenas do toque exótico dos cogumelos, shitakes e dos fungos específicos dos queijos roquefort, camembert ou do molho shoyu, entre outros meandros fúngicos do universo gourmet ou dos probióticos. As leveduras da espécie Saccharomyces cerevisiae são as responsáveis pela fermentação do vinho, cerveja, cachaça e pães, fazendo parte da história da alimentação humana desde seus primórdios.  

 

Etanol

Esta mesma espécie, a S. cerevisae, é a que garante a produção industrial de etanol a partir da cana. Mas a participação dos fungos na indústria não pára aí: tem a produção de ração animal, biodiesel a partir de óleos e graxas residuais; surfactantes naturais usados em alimentos e cosméticos (com vantagens sobre os petroquímicos), etc. E estudos mostram que fungos de solos dos nossos distintos biomas são bastante promissores para muito mais avanços.   

Biofármacos

A penicilina é um dos antibióticos mais importantes da história da Medicina, e com uma interessante história sobre a sua descoberta a partir do Penicillium. Mas outras espécies de fungos também são responsáveis pela produção de medicamentos como as cefalosporinas (antibióticos), a ergotamina (vasoconstritor), a ciclosporina (imunossupressora) e a lodamina (que atua contra células cancerígenas). Fungos não só adoecem, eles também curam.

Biodefensivos

Os fungos são extremamente promissores no combate a insetos (em suas diversas fases de vida), plantas daninhas, nematoides e patógenos diversos que afetam as culturas no solo ou em sua parte áerea. Já existem até estudos com fungos promissores no parasitismo de ovos e larvas do Aedes aegypti. Isto para não falar em seu potencial probiótico nas culturas.  

Biorremediação

Estudos com fungos do gênero Pleurotes, presentes na vinhaça, parte líquida derivada da produção do álcool, mostram que suas enzimas degradam o índigo, corante têxtil muito usado e altamente poluidor de águas, ou seja, atuam como descontaminantes. Na mesma linha, fungos presentes em ambientes poluídos estão sendo estudados e usados para a produção de enzimas que degradam as substâncias poluidoras destes mesmos ambientes. 

Galhadas adubo, não lixo

Enquanto muitos queimam ou jogam galhadas nas ruas ou nos aterros e lixões tocantinenses e brasileiros, o esforço e a visão de um único técnico – Roberto Sahium, resultou na descoberta e uso de fungos que transformam tais restos vegetais em adubo orgânico. Aqui em Palmas. Resta contaminar o país.    

Perguntas do desenvolvimento

Quais doenças humanas, pragas agrícolas e problemas de poluição podem ser resolvidos, quais cadeias produtivas podem ser turbinadas a partir da bioprospecção de seres, enzimas e moléculas presentes na natureza brasileira e ainda não conhecidos? Quem está pensando nisto?

Os comentários publicados aqui não representam a opinião do jornal e são de total responsabilidade de seus autores.

Comentários