As causas como base do desenvolvimento integrado

A separação de temas, com seus problemas e soluções, por áreas (social, econômica ou ambiental) é, na melhor das hipóteses, apenas didática, para aqueles que ainda não conseguem pensar em sistemas; na pior, um estorvo ou mesmo impedimento para a eficácia das políticas públicas e da governança e, consequentemente, para os seus melhores resultados possíveis, podendo ainda ser o combustível para a radicalização e o divisionismo que ora prevalecem no país e no mundo. A vida e a realidade das pessoas, a economia, os meios naturais de suporte de vida da nave espacial Terra: tudo acontece de forma entrelaçada, conectada e interdependente. Assim, a escalação dos diversos temas – do menor ao maior (o que depende do referencial!), deve ser vista como tijolos, brita, areia e cimento na construção das bases sólidas do desenvolvimento sustentável, tanto no combate a certos males como na promoção de bons propósitos e boas práticas. Esta evolução do pensar causa invariavelmente um forte deslocamento nas prioridades e nas estratégias dos gestores. E traz a certeza de que a separação e rotulação das causas por campos não faz mais nenhum sentido, é tudo uma coisa só: gestão para o desenvolvimento. É disto que precisamos.

Causas sociais

Educação em todos os níveis, que prepare as crianças e jovens para a vida pessoal, familiar e em comunidade, para o trabalho, os ofícios e a cidadania, inclusive planetária. Saúde, com prioridade para a preventiva – a promoção e o cuidado da saúde e da qualidade de vida, de elevada eficácia e relação custo/benefício, inclusive interligada à saúde ambiental e à comunicação; depois, a que cuida das doenças, clínica e hospitalar de baixa, média e alta complexidade. Seguranças: hídrica, alimentar, climática, genética, ambiental, urbana, de trânsito, pública. Todas elas seguranças nacionais. Erradicação da fome e da miséria, redução da pobreza. Pacificação social e redução da violência em todas as suas formas. Assistência social a grupos específicos diversos. Meritocracia, trabalho e empreendedorismo como formas de libertação.

Causas econômicas

Renda pelo trabalho, ambiente de negócios, desburocratização, redução da dependência econômica do estado, inclusão do capital natural e do conhecimento como forças a turbinar o PIB, com a TEEB. Fortalecimento da economia pela sua diversificação integrada às múltiplas vocações locais e regionais, com a criação de muitas economias: verde, limpa, digital, do conhecimento, industrial, de serviços, solidária, colaborativa, economia das pequenas, médias e grandes empresas. Economia do turismo, a maior indústria do mundo, diversificada e democrática. Não pode ser só Agro, que é Pop e Tech, essencial, mas não tudo. A economia das muitas economias: economia sistêmica. A vocação brasileira é múltipla, somos abençoados de muitas formas.

Causas ambientais

Cuidar de tudo junto: solos, águas, climas, paisagens, plantas, bichos, gentes. Bem usar todos eles, mas sem abusar, cada qual do jeito certo. Combater não só desmate, mas queimadas, erosão, poluição, garimpo, lixo, invasoras, tráfico de animais, extinção de espécies, perda de biodiversidade. Gestão ambiental empreendedora e inteligente, só comando e controle não resolvem e burocracia só atrapalha.

É tudo uma coisa só

O cuidar das causas de uma dimensão invariavelmente traz bons resultados e desenvolvimento para as outras. Este ciclo de interdependência não só é possível, como necessário e eficaz, na medida em que ele qualifica e sinergiza as relações entre as diversas pautas e áreas. É só mudar a forma de pensar, valorar e fazer.

Prioridade multidimensional

Saneamento é um dos maiores e mais eficazes programas ambientais e de saúde pública possíveis de serem feitos no Brasil e ainda uma enorme turbina para a nossa economia. O país dos estádios de futebol, dos monotrilhos, do trem bala, das pontes que ligam o nada ao lugar nenhum, dos investimentos “modernos” mas sem sentido, das vontades das empreiteiras e dos maus políticos, ele precisa evoluir para a nação do tratamento de água, esgoto e lixo como uma gigantesca prioridade, um investimento eficaz do tipo 3 em 1.

Projetos integrados e integradores

É possível planejar e desenvolver inúmeros projetos que contemplem muitas dimensões e causas ao mesmo tempo e ainda por cima desafiem setores a trabalharem juntos. Exemplos: parques urbanos como política integrada de parques e jardins, mobilidade urbana, saúde pública e desenvolvimento econômico; Projeto TAMAR, um raro e bem sucedido projeto de gestão ambiental empreendedora, que concilia proteção às tartarugas, educação ambiental, turismo de observação de animais com engajamento (e empoderamento) das comunidades tradicionais locais. O céu é o limite.

Dia Nacional do Não Dia

Todo dia é dia de pensar e agir em prol de cada causa que conta. É preciso cuidado para que as datas comemorativas não se transformem em base para políticas midiáticas, hipócritas, ineficazes ou de faz de conta. O problema não são só as fake news, mas as fake policies.