Ramis Tetu

A linguagem econômica é o inglês da sustentabilidade

Não interessa a causa e sua motivação; a lógica, a linguagem e os argumentos devem ser econômicos, pois eles trazem viabilidade às diversas causas ambientais e sociais e têm melhor chance de serem aceitos pelos gestores públicos e privados. Os elementos naturais devem ser vistos como ativos de enorme valor objetivo, mesmo que muitas vezes de difícil mensuração, por sua grandiosidade e complexidade, compondo o capital natural, uma força maior do que o capital financeiro, tecnológico, de infraestrutura ou mesmo humano.  A Teia da Vida deve ser também entendida, explicada e manejada como uma fantástica teia econômica.

TEEB, não PIB

O estudo da ONU "A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade" (TEEB, na sigla em inglês), cujo coordenador é o economista indiano Pavan Sukhdev, traz a necessidade de precificação dos produtos, ativos e serviços ambientais (e incorporarmos os mesmos no PIB dos países), como forma de valorizá-los e alertar para a sua perda. Já que a generosidade da natureza ainda hoje, via de regra, é retribuída com degradação.   

Ativos

O solo é o banco do agricultor, com caráter biológico, físico e químico. As florestas são fábricas de chuvas em escala local e continental e estoque de biodiversidade com aplicações múltiplas; as águas são a base de todas as atividades humanas. Árvores, áreas verdes, parques, florestas, plantas, animais, microorganismos, todos eles são responsáveis por produtos e serviços ambientais de enorme valor para o desenvolvimento econômico e social nas cidades, no campo, na indústria.  

Passivos

Erosão, queimadas, desmate, esgoto, poluição química, perda de biodiversidade: todas as mazelas ambientais são passivos econômicos, trazem prejuízos, danos e custos para governos, empresas e sociedade em geral, dentro ou fora da atividade envolvida.   

Externalidades

Quando um problema, custo ou dano de uma atividade fica para o governo, a sociedade ou terceiros alheios ao processo, então temos uma externalidade. Todas as mazelas crônicas bem como os grandes desastres ambientais se enquadram neste conceito. Enquanto uns enriquecem, outros perdem.              

Internalizar custos

O desempenho de diversas atividades muda de avaliação quando os impactos, custos e prejuízos ambientais e sociais são precificados. Há um encarecimento da operação, mas é justo que eles sejam contabilizados. Esta internalização favorece os mais tecnificados e conscientes da cadeia produtiva. Não são só lucros que contam, mas também responsabilidades.  

Custo de oportunidade

Este conceito se refere aos ganhos comparativos entre diferentes atividades e vocações em uma certa situação. Quanto deixou de se ganhar com a atividade preterida em relação ao ganho da atividade escolhida. Por exemplo, se uma propriedade com alta beleza cênica e com alto potencial para ecoturismo, manejo florestal ou agroflorestal é desmatada e usada para plantio de commodities agrícolas, é preciso verificar quanto deixou de se ganhar naquela alternativa. 

Commodities X PVAs

Economia desenvolvida trabalha agregação de valor e diversificação da cesta de produtos. Apenas commodities de exportação nos levam a uma posição de colônia moderna, onde os produtos são de baixo valor e os impactos da sua produção são de alto custo, escala territorial ampliada e externalizados, ou seja, sobram para nós.              

Relação custo/benefício

Este conceito é decisivo na tomada das grandes decisões da nação. Na saúde pública, 1 real de investimentos em saneamento resultam em economia de 9 reais em gastos com médicos, remédios, internações e procedimentos clínicos e hospitalares. Na mesma linha, a medicina preventiva e a promoção da saúde e do bem estar antes do cuidado da doença são estratégias com alto retorno econômico. E por que não fazemos isto?

Lógica econômica na prevenção do crime

O endurecimento pelo sistema jurídico do combate à corrupção, ao crime violento e organizado com medidas como a prisão em 2ª instância, entre outras, eleva o custo de tais crimes para quem os pratica, em favor da sociedade. Ao afrouxar este enfrentamento, fica barato para os corruptos e bandidos agirem, e quem sai perdendo muito são os cidadãos de bem. Qual sistema queremos promover: a democracia ou a cleptocracia?

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