Eleito para o cargo de reitor da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) em junho deste ano, ao lado de Darlene Castro para o cargo de vice-reitora, Augusto Rezende assumiu a reitoria em 2018 e com a eleição para um novo ciclo, deve ficar por lá até 2023. Do quadro efetivo dos docentes desde 2016, o professor conversou com o Jornal do Tocantins na manhã desta terça-feira, 28, e falou sobre os desafios da gestão de uma universidade pública, criação do curso de medicina em Augustinópolis e sobre a pandemia da Covid-19.

 Dentro de uma sala de aula desde os 18 anos, quando começou como professor de pré-vestibular e ministrava aulas de matemática e física em Goiânia (GO), Augusto Rezende, que tem 42 anos, conta quais foram suas impressões iniciais da Unitins e que antes de assumir o cargo de reitor tinha uma visão diferente da instituição de ensino e fazia seu papel de docente no curso de Sistemas de Informação, do Câmpus de Palmas.

“Enquanto professor eu tinha uma observação de Unitins, ainda muito recente, tinha só um ano e meio de instituição. O propósito muito simples era dar aula, participar das reuniões e ir embora, pois eu morava em Gurupi. Após assumir a reitoria, dentro de uma roupagem mais técnica, a gente passou a tentar entender um pouco mais da complexidade da instituição. Em um primeiro momento encontramos uma instituição extremamente politizada e esse foi um dos maiores desafios. Para mudarmos isso, começamos dentro das possibilidades de cargos de nomeação e depois na parte dos contratos dos docentes. A gente entendia que o professor tinha que ter um modo de seleção diferente do ambiente político. Fizemos um enxugamento e mesmo assim nenhuma turma ficou descoberta. Depois veio o processo seletivo simplificado e a seleção se deu por meio do mérito curricular.”, pontua.

Rezende também ressalta que viu dificuldade na gestão intermediária da Unitins e que os processos ficavam longos períodos sem andamento. “Outra dificuldade que encontramos aqui foi a ausência de profissionalismo na gestão. Processos e rotinas de gestão praticamente inexistentes, fluxos de baixa complexidade demoravam muito tempo, processo que se perdiam. A gente tentou mudar isso. Não que hoje esteja 100%, mas a gestão pública trabalha em cima de rotinas e protocolos. Situação como a de uma simples licitação para compras de lâmpadas, por exemplo, chegavam a demorar um ano e meio para ficar pronta. Não é para isso acontecer. Reestruturamos equipes várias vezes para isso que isso mudasse.”, comentou o reitor, que já ocupou o cargo de Secretário de Administração de Gurupi.

Vestibulares e Câmpus

Em 2018, a Universidade Estadual voltou a realizar o vestibular de forma semestral. Em 2020, Paraíso do Tocantins se juntou à Palmas, Dianópolis, Augustinópolis e Araguatins nas cidades que têm câmpus da Unitins. O reitor afirma que a volta do vestibular semestral e a criação de um novo câmpus foi resultado de análises feitas pela equipe técnica, que apontou uma relação defasada entre os custos e a quantidade de alunos.

“Quando entramos tivemos que fazer uma conta das despesas que a Unitins tinha e a relação disso com a quantidade de alunos. Era uma equação não muito boa. O que tinha que ser feito era diminuir as despesas e deixar a universidade mais estruturada. A partir disso, poderíamos identificar com mais facilidade para onde seria destinado os investimentos na instituição. O que oportunizou o aumento no número de alunos.”, ressalta Rezende, que afirma que a universidade teve um crescimento de aproximadamente 30% na quantidade de alunos nos último dois anos .

O reitor foi questionado sobre a criação do câmpus de Paraíso do Tocantins, cidade que fica apenas a 50 km de Palmas. Sobre isso, Rezende diz que a Unitins está na vanguarda da educação, com formação de mais 90 mil pessoas em todo o País e que a instituição funciona como uma ferramenta de desenvolvimento de uma região.

“Não podemos pensar que a Unitins como ferrementa de desenvolvimento fique apensa em Palmas. Isso é muito cômodo. Seria mais fácil ter apenas um câmpus até para própria captação de recursos, mas como vamos desenvolver as outras regiões do Estado? Temos que pensar de forma ampla. Então não é só Palmas, temos o Bico do Papagaio, a região sudeste e a região do Vale do Araguaia, que por muito anos foi esquecida de receber política pública. Além disso, o câmpus é uma oportunidade para aquelas pessoas que moram 80 ou 90 km de Paraíso e que vir para Palmas ficaria ainda mais longe para um bate e volta. Paraíso fica em uma região estratégica e em desenvolvimento, e que agora volta a contar com um câmpus da Universidade Estadual”, disse o reitor, que completou a informação ao falar que a criação desse câmpus passou por estudos técnicos.

Medicina

No mês passado a Unitins anunciou que os trabalhos para implementação do curso de medicina no câmpus de Augustinópolis, região do Bico do Papagaio, estão encaminhados, com a previsão que as vagas sejam ofertadas no vestibular do primeiro semestre de 2021. Rezende acredita que a implementação do curso será um marco não só para o Tocantins, mas para a Região Norte do País, por se tratar de uma Universidade Estadual que irá oferecer o curso.

“A Região Norte do Brasil tem poucos estados com um curso de medicina nas universidades estaduais. Com certeza a implementação será expressiva. Parte da estrutura já está em Augustinópolis graças ao curso de enfermagem que a Unitins tem lá. Isso ajuda na questão de professores e estrutura física. Sem contar que voltamos na parte do desenvolvimento da região. O quanto isso pode ajudar, um exemplo são os residentes, quandos estão no Hospital Estadual de Augustinópolis? Então eu tenho campo prático aberto ali. Sem contar com os hospitais de baixa complexidade, as unidades básicas de saúde daquela região e as UPA’s. Em um estudo nosso na região, que inclui Imperatriz (MA) e Marabá (PA), a gente consegue mais de 95% das cadeiras do docentes e que nos faz buscar uma demanda muito baixa em outros locais, isso é um ponto positivo.”

O reitor também afirma que existe uma comissão que trabalha em duas frentes: pedagógica e administrativa. Para que o novo projeto seja implementado, a Untins já dispõe de R$ 2,5 milhões via emendas parlamentares destinadas pelos deputados estaduais: Eduardo Siqueira Campos, Fabion Gomes, Amélio Cayres, Jair Farias e Ricardo Ayres. Também está instituída a equipe responsável pela implantação do curso de Pedagogia no câmpus de Palmas. A Unitins tem direito a parte dos 25% que o Estado arrecada com tributos e precisa destinar a educação. Sobre isso, Rezende comenta que liberação dos recursos é conversada com o Estado e a Secretaria de Educação (Seduc). Outro ponto abordado pelo reitor é sobre pesquisas e parcerias que a universidade tem buscado para se fortalecer.

Covid-19

As aulas do segundo semestre da Unitins estavam marcadas para começar no dia 3 de agosto, conforme o calendário acadêmico divulgado no início de 2020. Mas a pandemia mudou tudo. A maior parte do primeiro semestre teve que ser no formato remoto e Augusto Rezende afirma que esse está sendo um momento desafiador e que a maioria dos alunos optou por seguir o segundo semestre de forma remota, conforme apontou uma pesquisa interna da universidade.

“No começo foi complicado, mas optamos pela cautela. Com as aulas presenciais suspensas em março, a gente passou a avaliar com a comunidade acadêmica estava recebendo o conteúdo e os ensinamentos. Fizemos uma pesquisa, na qual quase 80% concordavam com o ensino remoto. Outros 10% discordavam do formato, por falta dos recursos tecnológicos e estavam dispostos a trancar o curso. Dentro dessa pesquisa também foi avaliada a questão sobre a continuação do segundo semestre no mesmo formato ou a paralisação do semestre. A maioria concordou com a continuação, desde que algumas coisas fossem melhoradas, por exemplo a estrutura da aula e a seleção de matéria. Por isso no dia 3 de agosto os professores começam a formação continuada, que terá duração de três semanas e vão passar pelo aperfeiçoamento de algumas técnicas”, ressalta.

Rezende também foi questionado sobre os alunos que não dispõem dos equipamentos necessários para seguir nas aulas remotas. “Quem não tem computar, não tem. Por mais que ele tenha um smartphone, às vezes a conexão é limitada. Por isso, estamos desenvolvendo um protocolo para que os laboratórios de informática da Unitins sejam remodelados e esses alunos tenham acesso durante dois períodos do dia de forma agendada. Eles não terão aula presencial, mas vão poder acompanhar o que sido passado pelo professores no modelo semipresencial.”, finaliza.

As aulas do segundo semestre da Unitins retornam dia 24 de agosto, no formato remoto.