Com  a proposta de ampliar e aprofundar o conhecimento dos estudantes em suas áreas de interesse, o Novo Ensino Médio começa a ser implantado neste ano letivo de 2022 em toda a rede pública e privada do País. No Tocantins, o processo será realizado de forma gradual, com, neste ano, apenas os estudantes da primeira série, em 2023 incluindo a segunda série em 2024, completando a implementação, com a terceira série do Ensino Médio.  

O Novo Ensino Médio manterá as áreas do conhecimento básico, entretanto a partir dos itinerários formativos terá agora uma parte do currículo flexível. Para o Tocantins, a  Secretaria  da Educação, Juventude e Esportes (Seduc), criou 16 opções de trilhas de aprofundamento para que os estudantes possam escolher o que se aproxima com suas aspirações, seus interesses e quem quer ser na vida adulta.  

Essas medidas são realizadas em âmbito nacional pelas redes de ensino com base na Lei nº 13.415/2017, que determinou as mudanças foi publicada em 2017, com previsão para que as alterações passassem a valer em 2022. O Jornal do Tocantins conversou com a gerente do Ensino Médio da Seduc, Schierley Colino, para tirar algumas dúvidas com relação à implantação. 

Ampliação da carga horária e de conhecimentos 

Atualmente, a carga horária de aulas é de 800 horas por ano, com o Novo Ensino Médio passará a ser de 1 mil, com total de 3 mil horas ao longo dos três anos. “Na nossa Rede Estadual, nós adotamos já para a primeira série, neste ano, 800 horas de currículo por área do conhecimento da formação geral básica. E as demais 200 são da parte flexível do currículo, que nós adotamos o nome de itinerários formativos”, relatou a gerente Schierley. As disciplinas eletivas serão desenvolvidas por cada escola, focando em interesses específicos da comunidade local, sendo que, em média, cada unidade deverá fornecer aproximadamente seis disciplinas. 

Para Schierley, esse novo modelo irá auxiliar os estudantes na sua escolha para o percurso formativo, podendo aprofundar e ampliar seus conhecimentos dentro da área que tem interesse.  “O diferencial do novo currículo, além da ampliação da carga horária, é trabalhar o projeto de vida do estudante, o seu protagonismo. Oportunizar ao estudante fortalecer, com o estudante, a importância que ele tem como agente social para a sua vida e para o contexto o qual está inserido. Que o estudante passe a ter um pouco de autonomia para fazer suas escolhas. Essa proposta é bem arrojada e visa colocar o estudante como centro realmente do desse currículo”, afirmou. 

Dentro dos itinerários formativos haverão os aprofundamentos das quatro grandes áreas com trilhas. “Como, por exemplo, o meu projeto de vida é ser um é ser um juiz, um bacharel em trabalhar na área do médico do judiciário. Então ele pode escolher humanas, né? As trilhas que trabalhem com a linguagem”, exemplificou.  Após completar todo o Ensino Médio, na trilha escolhida, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vai questionar ao aluno qual a área de conhecimento que quer fazer a prova. “No primeiro dia ele vai fazer uma formação geral básica que aí inclui as quatro áreas, mais redação. No segundo dia ele vai fazer por área a partir da  trilha que ele escolheu. Será avaliado por aquela área de conhecimento”, explicou Schierley, ao afirmar que esse modelo do Enem ainda será elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). 

O Novo Ensino Médio tem a proposta de um aprofundamento do conhecimento em uma área específica e almejada pelo estudante.  A partir dessa ideia, a Seduc formulou 16 trilhas com base em um consulta pública - inicialmente seriam 24 trilhas -. Como exemplo, a gerente do Ensino Médio cita uma trilha  de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, que recebeu o nome de Sementes do Cerrado, que trabalha com matérias como história e geografia por módulos. “O estudante irá trabalhar quatro módulos e ampliar o conhecimento naquela área específica, com conteúdos diferenciados que acabam ficando de fora na formação básica devido ao tempo reduzido”, explica.

A ideia do Novo Ensino Médio é que ao escolher uma área e suas trilhas, o estudante se sentia mais preparado para suas escolhas. “Sejam escolhas para a vida pessoal, a vida acadêmica ou para o mundo do trabalho. Que o estudante saia mais preparado para seguir o caminho desejado. Por isso também trabalhamos o projeto de vida que vem com essa proposta de aprimorar as ideias do estudante, dele perceber quem ele é e quais suas possibilidades e escolhas podem fazer. Estaremos trabalhando nesse processo as competências cognitivas, quando falamos de aprofundamento de conhecimento, e também as competências socioemocionais”, comenta. 

Confira a divisão das trilhas dentro das quatro grandes áreas do conhecimento:

Linguagens e suas Tecnologias 

  • Clube dos Literatos Juvenis 
  • Eu sou o meu padrão! 
  • Cultura Digital - na vibe das redes 
  • Aperta o Play 

Matemática e suas Tecnologias 

  • Contribuições da matemática para o mundo digital 
  • Como a Matemática se conecta com a Juventude, com a democracia e a sociedade? 
  • Finanças Pessoais: o que o mundo exige na vida adulta que a gente pode aprender na escola? 
  • Meu mundo, Meu futuro: Me ajuda a construir? 
  • Modelagem Matemática aplicada à vida: construindo o saber matemático a partir das relações sociais 

Ciências Humanas e Sociais Aplicadas 

  • Vozes da juventude: passado e presente para um novo futuro 
  • Sementes do cerrado: Cidadania e Sustentabilidade 
  • Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão 

Ciências da Natureza e suas Tecnologias 

  • Agronegócio e Agricultura Familiar 
  • Ecoturismo em face do empreendedorismo 
  • Nutrição e qualidade de vida: cuidado do corpo e da mente 

Durante entrevista com a gerente Schierley o Jornal do Tocantins questionou também com relação à possibilidade do estudante mudar a área de conhecimento e as trilhas escolhidas. “Pode mudar só uma vez. Por quê? Por causa da quantidade de horas de cada trilha”, comentou ao explicar que é preciso finalizar o semestre em uma área para que no final dos três anos seja possível completar as três mil horas desse currículo flexível.  

Escolas do interior, estrutura física, de pessoal e carga horária dos educadores 

Questionada sobre as situações em escolas de cidades do interior do Tocantins, onde é comum haver falta de professores e até mesmo educadores lecionando disciplinas fora de sua formação inicial, Schierley disse que o primeiro passo adotado pela Seduc foi manter na casa quem já estava. “Nós nos organizamos nesse sentido, de modo que não, que não causasse um impacto no início do ano letivo. Focamos em assegurar a permanência daquele professor que já estava contratado, além dos efetivos”, comentou.  

Segundo a gerente do Ensino Médio, nos dias antes da volta às aulas – marcada agora para 14 de fevereiro na Rede Estadual -, os professores que atuam nessas séries receberam uma nova formação, para atualizar seus conhecimentos e realizar um planejamento voltado para o novo currículo. “Além de formação nós estamos também desenvolvendo lives, tem um curso pelo MEC (Ministério da Educação). Vamos mesclar a formação desses profissionais online e presencial para que todo realmente iniciem o ano letivo de uma forma mais assertiva”, explica.  

O Jornal do Tocantins questionou se não haveria novas contratações, entretanto, Schierley disse que para esse primeiro momento da implantação a estrutura atual conseguirá trabalhar com o novo currículo. “Aquele profissional que está lá vai  atender sua área do conhecimento e migrar para ministrar aulas na parte flexível do currículo. O profissional é mesmo”, relatou. 

Em relação à carga horária dos professores, a gerente do Ensino Médio disse que será mantida, com os educadores com 40 horas, mantendo as 40 horas. "Conseguimos fazer essa distribuição na nova estrutura. Quando  falo que tenho 800 horas nas áreas de conhecimento e  de itinerários é complicado. Mas conseguimos fazer uma  estrutura curricular que não  causou um impacto tão grande na rede, pelo menos para esse primeiro momento”, explica. 

Entretanto, a própria gerente afirma que o modelo desenvolvido pela Seduc vai necessitar de mais profissionais atuando nas escolas ou a ampliação da carga horária dos professores. “Quando a gente vai pra segunda série percebemos que em 2023 vai precisar ter mais profissionais inseridos para os desenvolvimentos das trilhas nos módulos”. Isso porque, nesse primeiro momento, uma trilha voltada para humanas e ciências, por exemplo, terá um quantitativo de horas aulas em determinado assunto, que aumentará no próximo ano, já que vai precisar de outro profissional para ministrar um novo assunto no ano seguinte. 

Por fim, a gerente Schierley  disse que serão necessários investimentos em obras e reformas e que, inclusive, existe em andamento um planejamento da Seduc para realizar investimento nas unidades escolares. “Também 215 escolas, que ofertam Ensino Médio, e aderiram ao programa de implantação de itinerários formativos,  recebem recursos federais, sendo que parcela foi repassada em dezembro e outra no segundo semestre. Além de outro recurso federal que terá um edital a partir de abril”, explicou.