O piso de chão batido forrado com lonas e restos de tapetes; as paredes feitas de lonas e restos de pano; o teto é uma tenda emprestada após as primeiras chuvas terem danificado as lonas que abrigavam o local dos raios de sol; tudo isso sustentado por uma estrutura de troncos de madeiras retirados na mata. Essa é a estrutura da Escola de Reforço Alegria do Saber, que localizada no bairro Novo Horizonte, em Miracema do Tocantins.

Lá a simplicidade não impede que os alunos absorvam conhecimento, reforçando as disciplinas da escola regular; e ainda ensina valores, respeito ao próximo e devolve a esperança de dias melhores a famílias esquecidas pelo poder público.

O projeto social tem dez anos e foi idealizado pelo estudante Carlos André Costa Rocha, quando ele tinha 11 anos de idade. Iniciou com cinco alunos numa casinha de palha cedida pela avó Maria Cleonice Rocha Silva. Tempos mais tarde ela desmanchou aquela casinha e deu um outro terreno para o neto continuar o projeto. E foi recolhendo materiais que antes iam para o lixo e retirando madeiras na mata que aos poucos ele foi erguendo a nova estrutura que conta com quatro salas de aula, uma biblioteca, sala do diretor (Carlos André), sala dos professores (todos voluntários), sala de recursos (a escola tem três alunos especiais) e cantina cujo lanche é feito pela mãe de Carlos, dona Maria Tereza e a tia Maria da Penha.

Hoje são 60 alunos que estudam no período da manhã e da tarde, sempre aos sábados, domingos, feriados e nas férias da escola regular. “Surgiu na época que comecei a estudar e achei interessante a maneira dos professores dar aula. Aí resolvi construir uma escola, comecei dar aula para cinco crianças. Começou a crescer o número de aluno, então construí uma escola grande com as turmas divididas igual era na escola que estudava e hoje já tenho uns 60 alunos”, conta Carlos André.

O jovem que hoje tem 21 anos, é natural do Floriano (PI), mudou para Miracema aos seis anos com toda a família. Ele é o mais velho de sete irmãos, mora com os pais e tem como vizinhos, a avó, tios e primos. Começou estudar numa escola regular aos dez anos, até então frequentava a Associação dos Pais e Amigos do Excepcionais (Apae) e na escola frequentava a sala de recursos. Atualmente, ele faz o primeiro ano da Educação de Jovens e Adultos (Eja) e quer cursar Pedagogia; já ganhou uma bolsa de estudos na Capital.

Aprendizado e repercussão

Na escola, os alunos da pré-escola ao 7º ano do ensino fundamental recebem reforço de todas a matérias e fazem os trabalhos escolares com a orientação dos professores voluntários: o próprio Carlos André, as primas dele e a professora Antônia Silva Antero, 70 anos, considerada como peça fundamental para o projeto tomar corpo. Ela conheceu o projeto em 2014 e partir daí começou a dar aulas, conseguiu livros para a biblioteca, materiais para a sala de recursos e doação de armários e carteiras que não tinham mais utilidade em escolas.

O projeto é sustentado basicamente por doações das família de Carlos André, dos voluntários e da comunidade. Mas desde que o militar da reserva, Bartolomeu Benício, o Babá Benício, conheceu o projeto em setembro, promessas de políticos e empresários surgiram. Uma associação está sendo criada para receber a doação de um novo terreno e materiais de construção.  “Eu sou da periferia, sempre gostei de estar na periferia ajudando quem precisa. Viim aqui no setor para ajudar uma outra pessoa e me deparei com o projeto, fiz um vídeo e publiquei nas redes sociais e deu uma repercussão boa. Chamou atenção de empresário e autoridades. Temos promessas de doação de terreno para construir uma escola, de maquinário, tijolos, telhas, e outros materiais de construção”, informa Babá.

A Prefeitura de Miracema se comprometeu a doar uma área ao lado com 30 metros de frente por 25 metros de profundidade. A nova escola já tem projeto pronto e vai contar, inicialmente, com quatro salas, dois banheiros e refeitório. “Eu estou vendo que esse menino está dando lições para muitos adultos aqui. Eu quero que essas crianças tenham uma estrutura melhor para aprender”, conclui.