Aprender a disciplina de Química é um desafio gigantesco para alunos que não possuem tanta afinidade com as ciências da natureza. E pode ser maior ainda para estudantes com deficiência auditiva, principalmente no ensino superior. Sensibilizado com a situação de um aluno surdo do curso de Engenharia Civil do Instituto Federal do Tocantins, em Gurupi, o professor de química Frankinaldo Pereira Lima desenvolveu o projeto Libras Quimic, que consiste em atividade de ensino com a participação da turma do 1° ano do ensino médio.

A iniciativa, que começou em 2018, recebeu diversos prêmios no meio acadêmico, e tamanha visibilidade chamou a atenção da produção do programa Como Será? da Rede Globo, que irá mostrar neste sábado, 23, um pouco desse projeto didático que inclui o aprendizado da química e de libras.

“O trabalho começou com alunos que acabaram de chegar no IFTO. Na disciplina de química, eu estava iniciando a atividade básica com o Israel, que deixou de aprender os fundamentos porque não tinha intérprete. Então os ensinos fundamental e médio ocorreram sem o intérprete e o sistema foi empurrando”, conta o professor, se referindo ao aluno Israel Lopes Cardoso, aluno de engenharia civil que o inspirou a criar o projeto.

Quando a turma do 1° ano começou, ele explicou aos alunos sobre a ideia de trabalhar com libras e química, justamente para ajudar Israel, e todos se encantaram: “O Israel ensinou libras para eles dentro da sala de aula, e os alunos deram a contrapartida”.

Dentre as atividades de ensino de química com libras, o professor elaborou um baralho chamado sinalário de química interativo, onde um aluno faz um sinal de um elemento em libras e a turma mostra o movimento. “Tem uma imagem que relaciona o nome e o sinal porque o aluno surdo é visual, e tem um QR Code, que ele usa um aplicativo para mostrar um ‘GIF’, e também tem o baralho de reações químicas”. Ao todo, foram elaborados seis materiais didáticos, entre jogos e brincadeiras, que unem química e libras.

Lima explicou ainda que a elaboração desses materiais teve que ser com conteúdos do primeiro ano do ensino médio, turma que apoiou o aprendizado do aluno portador de deficiência auditiva.  “Eles se colocaram no lugar dele e praticamos a empatia. Todos ficaram preocupados em colaborar, e isso foi maravilhoso”, comemora.

Visibilidade

Para o professor, os jogos foram de extrema importância para o aprendizado do aluno, e já ocorreram muitas evoluções. “O Israel era um menino tímido, e com esse trabalho ele começou a desenvolver todas as capacidades, e fora que quebra o preconceito dentro da sala de aula. Passamos a dar visibilidade para esse público de surdos, que são pessoas pouco visíveis na sociedade”.

As ações do projeto deram tão certo que Lima passou a ser chamado para ministrar cursos e palestras mostrando o trabalho em universidades e institutos federais de diversos estados, sendo reconhecido pela sua importância, e ele acredita que dessa forma a produção do Como Será? da Rede Globo, tomou conhecimento e o convidou para apresentar a iniciativa no programa.

Pela surpresa, a princípio ele pensou que era trote, então ele pediu ao setor de comunicação do IFTO de Gurupi retornar a ligação e confirmar a participação no programa. “Meu trabalho vai entrar em um quadro chamado Nós.Doc, de projetos do Brasil que mostra práticas educativas”.

“Eu ganhei conhecendo o Israel, porque mudei como professor. Eu não só o vi, mas o ouvi pelo meu coração e abracei a causa. Estamos na luta, mudou a autoestima do aluno e vai aparecer isso na TV. Vamos mostrar alguns dos materiais, sendo que todos são para educação de surdos, que de fato há uma grande carência de material didático de química”, finaliza.