Berço da cultura tocantina, a cidade de Porto Nacional comemora 282 anos de história e memória, além de 159 anos de emancipação nesta segunda-feira, 13. Em lembrança a essa data, a “Capital da Cultura”, mesmo em meio à pandemia da Covid-19, esbanja uma programação de aniversário online recheada de atrações, que seguem até o final de julho.
 
“Vivemos um momento diferente. Anualmente comemoramos no dia 13 de julho sempre em um momento festivo, que vem junto com o verão tocantinense. Grandes festas e a população curtindo as praias portuenses em alegres confraternizações. Entretanto, com a pandemia o momento é diferente e para não passar a data em branco estamos com uma programação criativa, que vem sendo sucesso ao oportunizar um espaço aos artistas e manter nossas tradicionais ações, mas digitalmente”, relata o prefeito Joaquim Maia.
 
Essa programação diferenciada está disponível na plataforma multifuncional do Projeto Porto Verão 2020 - 100% Digital e disponibiliza aos internautas apresentações musicais, além das atrações da 3ª Feira Literária Portuense e da 39ª Semana da Cultura. Também faz parte das ações o Liquida Porto Nacional, voltado à economia.
 
“Queremos que essa data continue sendo símbolo de esperança e festa continua, mesmo que não seja de forma presencial. Que a alegria dessa data continue no coração dos portuenses, que comemoram em casa. E que nos próximos anos a festa possa acontecer normalmente”, declara Maia. Conforme o gestor, além de atender a demanda dos artistas locais, que precisam de apoio neste período, e manter as tradições, a versão digital do Porto Real triplicou o número de atrações, ao incluir artistas de outras regiões, e facilitar o acesso.
 
“Não só o portuense pode acessar, mas também todo o Estado, País e o mundo. Inclusive, pelo sucesso do formato, mesmo que voltamos ao modelo presencial da festa, devemos continuar com o digital. O que queremos é boas expectativas e que Porto Nacional continue avançando em todos os setores”, finaliza.
 
Para esta edição online, o espaço Livro e Leitura da Feira leva o nome do jornalista Tião Pinheiro, editor-chefe do Jornal do Tocantins e supervisor editorial do Jornal Daqui (Palmas) e coordenador de jornalismo da CBN Tocantins (Palmas e Araguaína). 
Já a Feira tem como patronos os poetas Carlos Drummond de Andrade (nacional) e Célio Pedreira (regional). A iniciativa ainda apresenta a história de vida do sanfoneiro Antista do Acordeon, um dos homenageados. O Espaço Félix Camoa, que traz indicações de gastronomia e artesanato, Liquida Porto e o Boiuna Tech, campeonato de jogos online e Hackaton. A programação Porto Verão conta com palestras, além de lançamentos de obras e outras atrações, com mais de 70 shows. Todas as apresentações têm tradução em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Já a galeria de fotos das praias Porto Real e Luzimangues tem registros de 2017 a 2019.
 

Conheça um pouco da história de Porto Nacional

A história de Porto Nacional está ligada à navegação pelo rio Tocantins e à extração de ouro, que trouxe muitos garimpeiros e se tornou responsável pelos pequenos núcleos de habitantes que se estabeleceram na região.  Na época, a travessia de mineradores, tropeiros, mascates e viajantes era realizada em barcos do português Félix Camôa, um barqueiro e primeiro morador, onde atualmente fica o núcleo histórico da cidade que chega aos 182 anos de história e 159 anos de emancipação.  
 
Conforme os dados históricos do Iphan e da Prefeitura de Porto Nacional, no final do século XVI, os bandeirantes chegaram à região pelo sul da Província de Goiás quando o capitão Sebastião Marinho chegou as nascentes do rio Tocantins, em 1592. Em 1723, Bartolomeu Bueno da Silva anunciou a descoberta de ouro na região e os vários povoados surgiram para a extração do minério, um deles era Porto Real, a atual Porto Nacional, em 1738.  
 
Anos depois, em 1791, o cabo Thomaz de Souza Villa Real estabeleceu uma rota de comércio sul-norte e instalou um destacamento militar na região, encarregado da vigilância da navegação que também incentivou o povoamento, vindo a passar a à categoria de vila e mudar o nome para Vila de Porto Imperial, já em 1831. 
 
Com a história, que devido uma localização privilegiada entre dois povoados mineradores, Pontal e Carmo, Porto Real começa a se desenvolver com o comércio e a navegação, que segundo documentos, Félix Camoa, ainda em 1738, já explorava anteriormente com o transporte de passageiros entre as duas margens do Tocantins, em busca de minas de ouro do arraial do Carmo ou o movimento arraial Pontal, que por determinação real, mantinha em suas terras o Presídio Matança.
 
No início do século XIX, inúmeros casebres começaram a desenhar um pequeno aglomerado com agricultores, pescadores, trabalhadores de transporte de cargas e mineradores.  Dessa junção, no decorrer dos anos, ergueu-se um povoado estável e cristalizado. Com a chegada da família real portuguesa, em 1808, no Brasil, houve a retomada do crescimento da futura cidade de Porto Nacional.
 
D. João VI, em 9 de março de 1809, criou a Comarca no Norte da Província de Goiás, denominada São João da Barra, atual Marabá (PA). E no mesmo período, o desembargador Joaquim Teotônio Segurado teve sua designação para dirigir a comarca e desenvolver a navegação nos rios Araguaia e Tocantins. Com esse progresso, em 18 de Março de 1809, o lugarejo passou a ser Julgado, ficando solidificado e sozinho em destaque à beira do rio Tocantins, devido ao declínio da mineração, principalmente, no arraial do Carmo e no desaparecimento de Pontal, povoado encravado nas terras dos selvagens índios Xerentes, que em 1805 teve parte da população dizimada.
 
Em meio a necessidade do estabelecimento de uma nova rota comercial entre Porto Real do Pontal e centros mais desenvolvidos do Brasil colonial, se instalou uma obreira carpintaria e grandes embarcações surgiram para rumar à  rumo a Belém (PA), levando materiais e  produtos produzidos e retirados desta terra de Félix Camoa. A pequena Porto Real se transformou em um importante entreposto comercial para os negociantes que faziam a viagem em botes pelo rio Tocantins.
 
Anos depois, o surgimento deste porto comercial também chegou ao local os primeiros passos para a estruturação das áreas administrativas, intelectual, cultural e religiosa do povoado. Por força de lei provincial, em 14 de novembro de 1831, ano em que D. Pedro I abdicou ao trono, o Julgado de Porto Real se tornou a Porto Imperial.
 
Já no início da década de 1860, Porto Imperial havia se transformado em um importante empório comercial, com muitos comerciantes, comércio fluvial intenso com o Norte e mais de 4.000 habitantes, sendo de 3.897 pessoas livres e 416 escravos. Segundo o escritor Durval Godinho, além um levantamento censitário daquele ano apontou a existência de 3 escolas para alunos do sexo masculino e uma para estudantes do sexo feminino.
 
Após trinta anos da instalação, 13 de julho de 1861, por determinação da resolução provincial n° 333, assinada por José Martins Alencastro, presidente da Província de Goiaz, Porto Real adquire o título de cidade e nasce recebendo o nome de Porto Nacional. Na época, o novo município já era um importante polo cultural, político, econômico e social do então Norte Goiano, hoje Tocantins. 
 
Em 1868, Couto Magalhães fundou a Companhia de Navegação do Araguaia, com navios a vapor para desenvolver a economia do norte de Goiás e a cidade passa a viver um período importante para a expansão de sua área construída, com a chegada, em 1886, dos primeiros religiosos da Missão Dominicana vindos da Europa e instalam iniciando a construção de praças, vielas e casarões.
 
Conforme a Prefeitura Municipal e o Iphan, em meio as décadas anteriores e as seguintes, nascem pontos históricos importantes até hoje a Catedral Nossa Senhora das Mercês, Seminário São José, Prefeitura Velha e Arquivo Municipal, Caetanato como a primeira sede do Colégio das Irmãs Dominicanas, Colégio Sagrado Coração de Jesus, Prédio do Abrigo João XXIII e Biblioteca Municipal Eli Brasiliense.
 
Iniciada em 1894 e concluída 1904, a obra monumental da Catedral Nossa Senhora das Mercês, nas proximidades da margem direita do rio Tocantins, no mesmo local da antiga capela de Nossa Sra. das Mercês, representa a Ordem Dominicana em Porto Nacional, projetada em pedra e tijolos no estilo românico de Toulouse, França. A maioria das suas imagens sacras foram trazidas da França, a exemplo do primeiro sino de bronze, e de Belém do Pará. Já o Seminário São José, Antigo Convento Santa Rosa de Lima e atual sede da congregação dos padres dominicanos, chega no início da década de 1920.
 
Atualmente, a área tombada como patrimônio histórico pelo Iphan, abrange parte da zona central e compreende o sítio natural, a malha urbana e as arquiteturas implantadas desde a fundação do município até a década de 1960. O local apresenta remanescentes da maior parte do acervo arquitetônico representativo do período da mineração do ouro da metade do século XVIII até meados do século XX. Esse centro histórico de Porto Nacional, tombado pelo Iphan em 2008 abrange cerca de 250 edificações, conjuntos de ruas, largos e praças, incluindo a Avenida Beira Lago e o entorno da Catedral Nossa Senhora das Mercês.