O delegado Vander Coelho, responsável pela 3ª Delegacia Regional da Polícia Civil com sede em Anápolis afirmou, na manhã deste sábado (4), que o caseiro Wanderson Mota Protácio, de 21 anos, suspeito de um triplo homicídio em Corumbá de Goiás, deveria estar sem se alimentar desde o início da fuga, no domingo (28). Isso porque não há registro de furtos de alimentos ou indícios de que ele tenha realizado outras refeições além do fato de ele estaria faminto quando se apresentou. Nesta manhã ele decidiu se entregar após invadir uma propriedade rural em Gameleira de Goiás. A proprietária da fazenda, Cindra Mara, teria ajudado a convencê-lo e antes disso, ele tomou café da manhã na residência.

Titular da Secretaria de Segurança Pública Rodney Miranda disse que policiais estiveram em uma fazenda vizinha à que ele apareceu neste sábado. “Estivemos na casa ao lado na madrugada anterior. Tivemos informações de que ele estava em outra propriedade e fomos até lá. Chegamos a a pensar em cães farejadores, que estavam à disposição, mas choveu muito. Tinha uma pequena mata e ele deve ter passado por lá”. O titular da secretaria agradeceu o apoio da fazendeira, mas atribui a prisão ao cerco que foi montado pelas equipes de segurança com policiais militares e civis.

“O que levou ele a se entregar foi o cerco. Logicamente que ela ajudou, mas o que levou ela a se entregar foi o cerco apertando cada dia mais. Ela foi muito corajosa sim, mas não é uma atitude aconselhável. Foi muito corajosa, fizemos agradecimentos a ela, mas volto a insistir: quem obrigou ele a tomar essa atitude foi a estratégia montada”, disse Rodney. Sobre a foto que Cindra tirou com o suspeito, o secretário falou em imprudência. “Imprudente a foto, sendo sincero. Mas não estou aqui para ficar julgando. Prestou benefício para a sociedade e temos que agradecer”.

O delegado regional Vander Coelho também falou sobre a ação e acredita que não havia outra opção a não ser o suspeito se entregar. “Prisão só aconteceu pelo cerco que foi feito. Ele não viu outra saída a não ser se entregar à polícia. Ou ele faria isso, ou nós o capturaríamos”, finalizou.

Crítica à legislação

Secretário de segurança também criticou a legislação brasileira e o fato de Wanderson estar em liberdade, mesmo já tendo cometido outros crimes graves. “Esse sujeito foi acusado de latrocínio em Minas, ficou preso três meses e foi liberado. Em Goiás, tentativa de feminicídio, ficou preso três meses e foi liberado. Não há crítica ao judiciário, mas à nossa legislação extremamente permissiva e benéfica a quem comete crime, mesmo crimes graves. O sujeito por questão de legislação foi para a rua de novo. Se a lei permitisse que poder judiciário agisse, sem tantos direitos, de repente essa família, a criança, o idosos e o feto não estariam nesta situação”.

Miranda afirmou que pelos crimes cometidos, a pena somada pode chegar a 100 anos e que a expectativa dele é de que a prisão ocorra pelo menos por 40 anos, como a lei permite atualmente. Wanderson será encaminhado ainda neste sábado (4) para o Núcleo de Custódia no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia onde ficará à disposição do poder Judiciário. Durante depoimento ele confessou os crimes.

Crimes

Wanderson é suspeito de matar a mulher, Raniere Aranha Figueiró, de 19 anos, grávida de quatro meses, a enteada, Geysa, de 2 anos, e o produtor rural Roberto Clemente de Matos, de 73, crime cometido na zona rural de Corumbá. O rapaz também teria tentado estuprar e matar a mulher de Roberto, Cristina Nascimento Silva, de 45. Ela foi atingida por um tiro no ombro, fingiu ter morrido e conseguiu ser deixada para trás por Wanderson, que fugiu com a caminhonete do casal.

O homem ainda é investigado por outros dois crimes. Um cometido em 2019, quando teria esfaqueado uma companheira no município de Goianápolis. Ele chegou a ficar preso pelo crime entre dezembro de 2019 e março de 2020, quando recebeu liberdade condicional. O outro crime teria sido cometido em São Gotardo, município de Minas Gerais, no ano de 2020. No segundo crime documentado, Wanderson teria assassinado um taxista com golpes de facas após roubá-lo na companhia de outros três colegas.

Fuga

Após o triplo homicídio na cidade de Corumbá, no domingo (28), Wanderson foi para a casa de um amigo em Alexânia, a 45 quilômetros de distância. Na cidade, Wanderson teria ido para uma praça pública, voltou para a residência onde tomou cerveja, dormiu e conseguiu vender um celular roubado de uma das vítimas por R$ 200. O rapaz que comprou o aparelho foi preso na segunda-feira em flagrante, por receptação, e continua detido.  

Depois de deixar Alexânia o suspeito teria ido para Abadiânia, a quase 30 quilômetros da cidade em que encontrou com amigos. O trajeto entre os dois municípios teria sido feito de táxi. 

Durante a madrugada da quarta-feira (1º), Wanderson teria trocado tiros com o proprietário de uma chácara localizada a poucos quilômetros do centro de Abadiânia. O proprietário da chácara contou que teria descarregado uma arma no suspeito, mas não soube dizer se alguns dos tiros o atingiu. O suspeito teria efetuado dois disparos e um deles atingiu a caminhonete do chacareiro. O novo avistamento aconteceu nesta sexta (3), na fazenda de Mocambinho.