Após a chacina de uma família em uma chácara na BR-070, em Ceilândia (DF), no dia 9 de junho, Lázaro Barbosa de Souza, de 32 anos, deixou com as vítimas dos crimes que vieram na sequência uma série de pistas do que pode ter acontecido na propriedade rural e o que pretendia fazer em seguida. Foram pelo menos seis roubos e na maioria ele passou horas com quem estava nas casas, aproveitando para falar que não estava sozinho nas mortes no Distrito Federal e que depois do crime estava atrás de dinheiro para fugir do Estado.

Quando foi morto em uma abordagem policial no dia 28 de junho, após 20 dias escapando do cerco montado pela força-tarefa criada pela Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), Lázaro estava com R$ 4,4 mil em dinheiro, comida, remédios para tratar de um ferimento a bala e duas armas, sendo que uma delas foi roubada em Ceilândia no dia 16 de abril. A outra arma não teve a origem revelada. Horas antes, ele deixou 350 reais com a ex-mulher, como pensão para o filho de 3 anos.

Desde 24 de junho, com a prisão do chacareiro Elmi Caetano Evangelista, de 73 anos, a SSP-GO tem trabalhado oficialmente com a tese de que Lázaro teria uma rede de apoio para fugir e que cometia crimes a mando de fazendeiros, empresários e até políticos da região. “Temos informações que ele atuava como jagunço e segurança de algumas pessoas”, chegou a dizer Rodney Miranda, titular da SSP-GO, no dia em que Lázaro foi morto.

Levantamento feito pelo POPULAR com base nos relatos das vítimas dos roubos que Lázaro teria cometido após a chacina aponta que ele conseguiu pegar nestas chácaras pelo menos R$ 2,7 mil em dinheiro, mais celulares, carregadores e comida. Em duas casas invadidas ele aproveitou para fazer a barba, se depilar e na última, próxima à residência da ex, teria roubado os pacotes de miojo encontrados na mochila.

Além disso, O POPULAR refez a rota de fuga de Lázaro, saindo da chácara onde a família foi morta em Ceilândia em 9 de junho e terminando na área em que ele foi morto pela polícia no dia 28, em Águas Lindas de Goiás, a dois quilômetros da casa da ex-mulher. Neste caminho, cinco pontos se destacam por serem onde ele passou mais tempo escondido e próximos a residências onde ou ele morou ou trabalhou como caseiro por algum tempo. “Ele só ficou escondido em regiões que ele conhecia muito bem”, contou um policial.

A primeira região em que Lázaro procurou se esconder foi no Incra 9, setor onde fica a chácara da família que ele é acusado de ter matado. Neste local ele teria permanecido por pelo menos dois dias, realizando pelo menos três roubos após a chacina, num raio de menos de 7 quilômetros de distância. Ele passava o dia escondido dentro das propriedades, em áreas de difícil visualização.

Há registro de ocorrências de roubos e invasões cometidas por Lázaro nesta região entre o Incra 9 e o Setor Sol Nascente desde abril. A polícia do DF afirmou que ele teria uma casa que servia de abrigo para ele em Ceilândia há pelo menos dois meses antes da chacina. Agentes chegaram a ir ao local, mas não encontraram nada. Pelo menos dois moradores de Ceilândia foram investigados por suspeita de cumplicidade em roubos na região.

A chacina foi por volta de 2h30 de 9 de junho. No mesmo dia, às 17h30, ele invadiu uma chácara a cerca de 3 quilômetros. Levou celular e 4 reais. No dia 10, às 11 horas, ele entrou em outra, a menos de um quilômetro. Neste local ele permaneceu até 14h30, levando 350 reais e aparelhos celulares. Menos de dois quilômetros depois, já às 21h30, ele invadiu outra propriedade, fazendo o caseiro e a família de reféns e permanecendo no local até 1h do dia 11. Em seguida, fugiu levando cem reais e um carro, que foi abandonado incendiado já em Cocalzinho.

Em um destes roubos, Lázaro obrigou as vítimas a lhe prepararem uma refeição e enquanto comia ligou a TV e viu telejornais. Enquanto passava a notícia sobre a chacina, ele demonstrou tranquilidade e comentou para os moradores da casa, que estavam contra a parede, que as informações estavam erradas, que ele não agiu sozinho, que a polícia estava atrás só dele e que a mulher do dono da chácara foi levada por outras pessoas, sem especificar quantas nem quem.

“Ele ficou falando que só matou porque tentaram reagir, que alguém pegou uma faca, que a mulher tentou correr. E falou que não estava sozinho, que deixou uma faca cair e que acha que os policiais pegaram a digital dele lá”, comentou uma das vítimas feitas de refém.

Em todos estes crimes, ele demonstrava tranquilidade, apesar de estar próximo do local da morte da família. No terceiro assalto, ele levou o carro e foi localizado porque um dos celulares que ele levou tinha rastreador e os policiais do Distrito Federal conseguiram descobrir a região onde ele estava se escondendo. Em uma das casas da região, inclusive, vários dos celulares foram encontrados.

Lázaro também conseguiu escapar do cerco policial permanecendo na mata e em chácaras próximas a dois córregos, um no Distrito de Girassol e outro no de Edilândia, ambos em Cocalzinho. De acordo com policiais da região, Lázaro chegou a trabalhar em diversas chácaras nestes locais, cheios de grutas e grotas d’água. De março até junho, ele teria cometido pelo menos dois roubos, um duplo latrocínio e um homicídio nestas áreas. E em pelo menos duas chácaras que ele foi visto durante a fuga onde sua mãe teria trabalhado em anos anteriores.

Nestes distritos, além das casas que ele invadiu e furtou de comida a dinheiro, também foram registrados três roubos, sendo que em dois deles pelo menos ele informou a vontade de juntar dinheiro para sair do Estado. Em um dos assaltos, no qual ele fez uma família refém, levou para um córrego e chegou a trocar tiros com a polícia, ele comentou que queria que as vítimas falassem para a polícia que ele queria sair do Estado e que se não deixassem ele iria continuar cometendo este tipo de crime, apavorando a população.

Já em Águas Lindas, Lázaro foi visto no Setor Águas Bonitas, onde ele já morou com a ex-mulher e com a atual, e também no Mansões Itamaracá, onde mora a ex e onde ele também morou com ela. Em ambos os bairros, há uma mata fechada com córrego, além de chácaras, pastos e grotas. Policiais que investigaram crimes antigos de Lázaro contam que ele tinha como prática após cometer um crime se esconder durante o dia nestes matagais.

Policiais ouvidos pela reportagem dizem que ele teve pelo menos duas grandes chances de fugir, uma quando esteve em Edilândia e poderia ter saído para Corumbá, e outra em Águas Bonitas, mas preferiu permanecer escondido em áreas que tinha bastante conhecimento - não só do mato como das casas existentes. Coincidência ou não, ele foi encontrado e morto numa abordagem policial quando saiu da sua aparente zona de conforto.

 

10 inquéritos em Goiás após fuga

Há em Goiás dez inquéritos tramitando em quatro delegacias para apurar crimes cometidos pelo Lázaro, a morte dele durante o suposto confronto com policiais militares e também, o que a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) está dando mais atenção, o que investiga a suposta rede de apoio que teria, segundo as palavras do titular da pasta, Rodney Miranda, “patrocinado” a fuga de Lázaro, que durou 20 dias e movimentou mais de 250 policiais de Goiás e do Distrito Federal.

São cinco inquéritos com o delegado Raphael Neris, titular da delegacia de Cocalzinho, que apuram roubos cometidos pelo fugitivo, sendo quatro deles após a fuga e um em 29 de maio.

Há também um no Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) de Águas Lindas, que apura a morte de um caseiro no dia 5 de junho e um no 2º DP da mesma cidade, que apura um suposto tiro que teria sido efetuado em direção a uma janela por Lázaro, sem ferir ninguém.

Um duplo latrocínio que teria sido cometido por Lázaro no dia 27 de abril em Cocalzinho teve o inquérito reencaminhado para a Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH), em Goiânia, que ficou com outros dois inquéritos, inclusive o da morte de Lázaro. Todos estão sob responsabilidade da delegada adjunta Rafaela Azzi.
 
A investigação sobre a rede de apoio a Lázaro estaria sendo feita em cima do inquérito do duplo latrocínio, pois nele teria sido feito um pedido de quebra de sigilo telefônico dos celulares roubados por Lázaro. A delegada chegou a dizer no programa Fantástico, da Rede Globo, que Lázaro pertenceria a uma organização criminosa e trabalharia para “empresários, fazendeiros e políticos”.