Além da arara-canindé (Ara ararauna) ser um dos símbolos do Tocantins, por carregar as cores do Estado em sua plumagem, agora um raro periquito também ganha reconhecimento por sua importância no ecossistema do Estado na região sudeste do Tocantins. É o tiriba-do-paranã (𝘗𝘺𝘳𝘳𝘩𝘶𝘳𝘢 𝘱𝘧𝘳𝘪𝘮𝘦𝘳𝘪) que passa a ser a ave-símbolo, reconhecida por lei do município de Aurora do Tocantins. A espécie é uma das aves mais ameaçadas do Estado e do Brasil, no entanto, com esse reconhecimento as esperanças dos estudiosos da área é que venham mais ações ambientais para preservação e proteção do pássaro.

Essa ave pode ser encontrada no Vão do Paranã, uma região de planície que é cortada pelo rio que lhe empresta o nome, o Paranã. É esta região central do Brasil, no Tocantins fica próximo às Serras Gerais, que abriga a tiriba-do-paranã. A ave é nativa do Cerrado e se alimenta de flores, frutas e sementes. A Lei nº 189/2021 também dedica o dia 14 de novembro ao periquito no município.

“O tiriba-do-paranã é uma espécie de ave exclusivamente das matas secas da bacia do rio Paranã, entre Tocantins e Goiás. "Logo se essa importante bacia hidrográfica e suas florestas secas estão inseridas integralmente nos limites do cerrado, a tiriba-do-paranã também pode ser considerada uma ave exclusiva do bioma", destaca o biólogo do pós-doutorado em Ciências Ambientais da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Túlio Dornas. 

O especialista ainda aponta que este ato reconhece à singularidade da espécie, um exclusivo representante regional. “A expectativa é que este seja um primeiro passo, de muitos que ainda virão para consolidar a proteção da espécie no município. A tiriba-do-paranã, com certeza, agradece a todos os envolvidos pelo pioneirismo e dedicação, e espera que este ato se repercuta e propague para outros municípios do sudeste de Tocantins e Nordeste de Goiás”, completa.

Conforme o pesquisador, a estimativa é que entre 1995 e 2019 a população do pássaro tenha sido reduzida entre 80% e 90%, na região sudeste do Tocantins e Nordeste de Goiás. Em 1995 ele aposta que havia aproximadamente 300 mil indivíduos. Já em 2019, entre 15 mil e 30 mil. “De lá para cá, a mata seca perdeu 25% do seu território. A estimativa é de que apenas 40% da vegetação dessa mata ainda estejam de pé”. 

Dornas aposta que a população atual da ave, nos dois estados, é de 15 mil a 30 mil indivíduos. Somente para o Tocantins, ele calcula em torno de cinco mil a 10 mil. 

O número de indivíduos dessa espécie, segundo ele, reduziu drasticamente no Estado, como causa, o estudioso julga a perda de habitat pelo desmatamento intenso e a degradação das matas devido às queimadas. Dornas menciona que no Tocantins não há Unidades de Conservação que protegem a espécie legalmente, salvo uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de 15 hectares em Aurora do Tocantins. “Mas 15 hectares é muito pequeno. Em Goiás, há quatro unidades de conservação”.

Projeto Tiriba-do-Paranã

A bacia do rio Paranã está localizada entre o nordeste de Goiás e o sudeste do Tocantins. Os rios Paranã, Palma e Corrente são seus principais cursos d'água. Toda a drenagem deságua no rio Tocantins.

De acordo com o pesquisador, a ameaçada tiriba-do-paranã tem sua distribuição geográfica restrita à porção cística da bacia, estando associadas às matas secas (florestas estacionais deciduais) sobre solos derivados de calcário ou sobre os afloramentos calcários da região. “A preservação do rio Paranã e seus afluentes é fundamental para dispersão da espécie e o estabelecimento da deste ameaçado periquito nas matas secas da região”.

Lei 
A lei municipal que institui a ave símbolo do município de Aurora do Tocantins, tiriba-do-paranã, foi publicada em fevereiro deste ano. A escolha, segundo a legislação, se deve à importância "ímpar" regional e global atribuídas à ave, sobretudo das pesquisas que apontam a necessidade de conservação da espécie, que segundo o Poder Público, é um elemento representativo do turismo da região.