A bancária Fernanda Heloany mora no 9º andar de um edifício na zona norte de São Paulo. Sozinha, de máscara, pegou o elevador no térreo e apertou o botão correspondente ao seu destino. No caminho, sentiu o infortúnio de algumas paradas – e, em cada uma delas, ver subir outros moradores. “Fiquei na dúvida se devia descer ou continuar até o fim. Se eu descesse, os meus vizinhos podiam me achar metida ou coisa assim”, disse.

O que Fernanda passou pode ser chamado de “o novo medo de elevador”, um sentimento que vem sendo compartilhado por muitos usuários. “O medo é justificado. Em tese, é um ambiente de risco em que é necessário todos os cuidados para evitar a Covid-19. Principalmente se a gente pensar na transmissão por aerossol (por gotículas que ficam no ar). A lógica é a mesma do transporte público. Por isso, higiene e distanciamento dentro de um elevador são fundamentais”, observa Eliseu Alves Waldman, professor de epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP.

É certa que Covid-19 impôs novas regras de etiqueta para usuários de elevador. Algumas cenas cotidianas do mundo pré-pandemia parecem impensáveis atualmente. Pode esquecer aquela corridinha para se apertar em um elevador prestes a fechar suas portas. A conversa fiada entre desconhecidos também está suspensa. Até mesmo a profissão (já inusual) de ascensorista pode estar definitivamente condenada.

A reportagem visitou o icônico Edifício Itália, no centro de São Paulo. Antes do coronavírus, circulavam pelos elevadores do prédio cerca de 8.500 pessoas por dia. Hoje, o movimento não ultrapassa o de 1 mil por dia – o que facilita o novo procedimento adotado pelo prédio. Antes de subir no elevador do Terraço Itália, a pessoa tem sua temperatura aferida. Totens de álcool em gel estão espalhados pelo hall. Marcas no chão delimitam a distância entre os usuários dentro e fora dos elevadores. Aliás, antes da pandemia, a ocupação máxima era de até 17 pessoas por cabine. Agora, são permitidas apenas 7 pessoas. E cada uma delas precisa ocupar uma marca no chão.

O comportamento dos usuários também mudou sensivelmente. Primeiro, na hora de chamar o elevador. A reportagem flagrou um usuário apertando o botão com o joelho. Sim, o joelho! Apertões com o cotovelo e também com o próprio aparelho de celular aparecem de forma mais corriqueiras. Dentro das cabines, todos usam máscaras, as distâncias são observadas e, mesmo entre conhecidos, as conversas raramente acontecem. 

A advogada Márcia Regina Bull conta que, desde o início da pandemia, “só sobe no elevador sozinha” e diz contar com o bom senso alheio para não ser surpreendida por outro passageiro no caminho. O também advogado João Florêncio de Salles Gomes é outro que só faz a viagem se for de forma solitária. “Não brigo com ninguém. Se alguém entra, eu saio.”

Já o dentista Paulo Puggina resolveu essa questão simplesmente abolindo o uso. “Sou atleta. Moro no quinto andar. Não uso elevadores. Subo e desço pelas escadas.”

Aliás, a empresa CBRE, que administra mais de 100 edifícios comerciais no Brasil, adotou um protocolo unificado de distanciamento e higienização parecido com o do edifício Itália. “O distanciamento entre as pessoas é de 1 metro e meio, além do álcool em gel e toda a limpeza que acontece várias vezes por dia. Não recomendamos o uso de escadas. Já que elas precisam estar livres para emergências, como, inclusive, é a recomendação dos bombeiros”, disse o gerente regional da empresa, Alípio Neto.

O setor hoteleiro, que começa a se preparar para uma retomada, já aprontou os elevadores para receber seus hóspedes. No Sheraton São Paulo WTC Hotel, os elevadores irão comportar quatro usuários por vez – e com demarcações no chão. “Como a ocupação está baixíssima, não temos problemas com filas. Mas estaremos preparados para implementar um distanciamento quando isso acontecer. Além disso, teremos um segurança na área do elevador para garantir que as normas sejam obedecidas e lembrar os usuários da necessidade, por exemplo, do uso de máscaras”, comentou Fernando Guinato, diretor-geral do Sheraton São Paulo.

No hotel, a gerente de qualidade Loyana Mayer e a gerente de compras Isabella Foschi enumeram seus cuidados no elevador. “No meu prédio, não subo com mais ninguém, só com família. Uso sempre álcool em gel e uso o cotovelo para apertar os andares”, disse Loyana. “Se alguém segura a porta do elevador pra mim, agradeço, digo obrigado, mas aviso que vou no próximo”, completou Isabella.

Ao menos por enquanto, os elevadores de shopping vêm sendo menos acionados. Inconscientemente, as pessoas parecem preferir usar as escadas rolantes – mesmo aquelas que não são tão cuidadosas em relação ao uso dos corrimões. No Shopping Frei Caneca, são 12 elevadores sociais. Todos eles, com sinalização para evitar lotação e álcool em gel, mas dificilmente é possível encontrar mais de uma pessoa dentro de cada cabine. “Uso o celular para apertar os botões, uso máscara o tempo inteiro e só subo com a família!”, garante a dentista Bruna Benessi. “Trabalho na rua e tenho todo o cuidado. Entro em elevador vazio e procuro não falar”, comentou o taxista Sidnei Oliveira.

Nos edifícios residenciais, a principal questão foi limitar o uso conjunto para no máximo duas pessoas: integrantes da mesma família ou que vivem em um mesmo apartamento. “Foi um processo bem aceito e que a gente vem reforçando, como a indicação, por exemplo, para as pessoas não apertarem sem necessidade os botões do elevador”, contou a síndica do Alfa Vita, edifício localizado na região de Alphaville, Taula Armentano.

Para a diretora da associação Condomínio Profissional, Natachy Petrini, é preciso reforçar junto aos moradores os cuidados básicos nos elevadores. “Parece que agora começa a existir um relaxamento. Isso não pode acontecer. Em abril e maio, implementamos com sucesso uma série de protocolos. Mas já temos notícia de que muita gente acha que a pandemia acabou.”

Marici Santos, diretora de Instalações Existentes e Modernização da Atlas Schindler (empresa que fabrica, instala e realiza serviços de manutenção em elevadores) contou que, no início da pandemia, o maior esforço foi o de comunicação. “Com medo do contágio, síndicos, porteiros e zeladores não deixavam nossos técnicos entrarem nos edifícios para realizar a manutenção. E tinha gente que ligava perguntando quantos minutos poderia ficar dentro de um elevador sem correr risco de pegar covid”, conta Marici.

Segundo ela, esse momento de desinformação ficou para trás. Agora, a empresa tem oferecido soluções para um novo normal dentro dos elevadores. Entre as novidades, Marici enumerou elevadores que fazem gerenciamento de tráfego. Ou seja, elevadores que só funcionam dentro do limite de usuários programados. Se a ocupação prevista é de 4 usuários, o equipamento não sai do chão se cinco pessoas estiverem ocupando-o. 

Além disso, a empresa também investe em elevadores com botões que são acionados por aproximação e não necessitam do toque dos dedos. Outra solução, mais simples, é a utilização de capas plásticas no painel dos andares (que seriam de fácil limpeza). Por fim, elevadores acionados por cartões de acesso (tipo de cartão mais usado por funcionários e seguranças antes da pandemia) serão encontrados com mais facilidade. “Os elevadores devem atender os novos hábitos que vieram para ficar. Ou que devem demorar para sair da nossa rotina”, completou Marici.