A contaminação de um xarope para tosse com dietilenoglicol, a mesma substância química encontrada na cerveja Belorizontina, causou a morte de 78 pessoas e levou à retirada de 60 mil frascos do remédio dos pontos de venda, a partir de 2007, no Panamá. Ao menos 100 pacientes afetados passaram por tratamento, mas o número total dos atingidos ainda é desconhecido. O caso foi objeto de um vasto estudo, publicado em 2014, em boletim da Organização Mundial de Saúde (OMS).

A investigação começou depois que, em setembro de 2006, um médico panamenho relatou um número incomum de pacientes com insuficiência renal aguda inexplicada, frequentemente acompanhada por disfunção neurológica grave. Doze (57%) dos 21 pacientes morreram da doença. Um grupo de médicos decidiu iniciar a pesquisa sobre a causa da doença e a fonte do surto. Caso-controle e investigações laboratoriais foram adotados. Os pacientes do caso foram comparados individualmente aos controles hospitalizados por idade, sexo e data de internação.

Após o controle de hipertensão preexistente e doença renal, foi encontrada uma associação significativa entre a ingestão do xarope para tosse prescrito e o início da doença. Análises laboratoriais confirmaram a presença de dietilenoglicol (DEG) em amostras biológicas de pacientes com casos, contaminação com 8% de DEG em amostras de xarope e 22% de contaminação na glicerina usada para preparar o xarope. A fonte do surto foi o xarope para tosse contaminado com a substância.

A presença de dietilenoglicol foi finalmente confirmada em um único lote de um produto rotulado como glicerina e que foi importado para o Panamá da China, através de uma corretora europeia. A glicerina contaminada, identificada no xarope, também foi usada na produção de outro medicamento líquido prescrito e dois cremes tópicos. Esses achados levaram ao recall de mais de 60 mil medicamentos possivelmente contaminados pelo dietilenoglicol e a uma ampla seleção de disfunções renais em consumidores potencialmente expostos.

Em abril de 2007, foram identificados 119 pacientes de casos oficiais, dos quais 78 morreram apesar de hemodiálise e cuidados de suporte (taxa de mortalidade de casos de 65,5%). Parada cardíaca, choque e arritmia cardíaca foram causas mais comuns listadas para esses óbitos.

Ainda não se conseguiu determinar a magnitude desse surto. Existe a preocupação de que possa ter havido um número de indivíduos gravemente doentes ou expostos que não entraram em contato com o sistema médico. Também é proposto que algumas mortes relacionadas ao dietilenoglicol podem ter ocorrido antes do reconhecimento do surto.

Para resolver esse problema, o governo panamenho está realizando estudos retrospectivos para identificar indivíduos diagnosticados com síndrome de Guillain-Barré ou insuficiência renal aguda dentro de um prazo coincidente com a distribuição do lote contaminado de xarope para tosse. Outra consideração é que a dose mínima tóxica de dietilenoglicol não está bem estabelecida. Portanto, pode haver milhares de pessoas que foram expostas ao xarope contaminado, mas que apresentaram apenas sintomas leves.