“Criança saudável ou doente?” Essa é a primeira de uma série de perguntas que agora fazem parte do protocolo para a marcação de consultas no consultório pediátrico onde a brasileira Priscila Elsbach, de 32 anos, costuma levar seus três filhos. A família mora em Hessen, na Alemanha, um dos países em que as medidas para relaxar o confinamento já começaram.

Triagens mais detalhadas como essa passaram a fazer parte da nova rotina para clínicas médicas e odontológicas em todo o mundo após a pandemia provocada pelo coronavírus. Assim como a obrigatoriedade de aumentar o intervalo de atendimento entre os pacientes, tanto para promover uma desinfecção cuidadosa quanto para evitar que as pessoas se encontrem nas salas de espera.

Na Europa, a liberação para abertura de consultórios médicos e dentários ao atendimento não-emergencial começou ainda em abril, em países como Dinamarca e Suíça. A França deu a permissão no mês de maio, enquanto o Reino Unido continua vetando tratamentos odontológicos eletivos, por exemplo. Nos Estados Unidos, a maioria dos locais já passou a permitir o trabalho normal nos consultórios dentários - o Estado de Nova York é uma das poucas exceções, segundo a Associação Americana de Dentistas.

A assistente escolar Priscila, que é casada com um alemão, conta que o atendimento no consultório do pediatra vem sendo feito de acordo com a necessidade de cada criança.

“Aqui, os horários agora são separados para crianças que estão em busca de tratamentos preventivos ou vacinas e para as que estão doentes ou apresentam algum problema aparente”, explica.

Os pais também são orientados para que apenas um adulto acompanhe a criança e todos os atendimentos devem ser agendados por telefone. “Caso contrário, há um aviso de que ‘infelizmente’ seremos mandados de volta para casa se aparecermos no consultório sem uma consulta marcada”, conta. No site do pediatra, há também um aviso de que até o fim de setembro a espera por um atendimento ou um exame pode demorar mais tempo do que o normal. Tudo para reduzir a lotação e o tempo gasto nas salas de espera.

No Brasil, a preocupação começou antes mesmo do fim da quarentena. Patrícia Savoi é médica nutróloga e desde abril tem organizado uma estrutura diferente de atendimento. Parte da sua agenda agora é preenchida por teleatendimentos, que foram regulamentados pelo Ministério da Saúde no início da pandemia. O consultório em São Paulo ficou reservado apenas para atender os casos mais urgentes. “Além do reforço nos equipamentos de proteção, como máscaras e viseiras, para evitar a exposição do paciente e da minha equipe, eu fazia tudo sozinha”, conta Patrícia. “Abria o consultório, atendia, fazia a cobrança da consulta.” Agora, a preocupação é em retomar os atendimentos marcando no máximo dois pacientes por hora.

A estratégia também está nos planos da dermatologista Gisele Torok para a reabertura gradual da sua clínica no Rio de Janeiro. “Atenderemos menos pacientes e o ideal é que não venham com acompanhantes”, explica. Ela já se prepara para medidas mais rígidas como aferição de temperatura e uso obrigatório de máscaras e propés (espécie de touca colocada nos pés calçados) para os pacientes e os funcionários. Também há uma recomendação para aumentar a coleta prévia de informações antes de marcar consultas presenciais.

Já no consultório da oftalmopediatra Sophia Zanatta, o espaço da brinquedoteca está fechado desde março, quando também começou a atender apenas urgências. “E deve continuar assim por um tempo. Mas sei que é uma adaptação momentânea necessária”, afirma.

Sophia também é médica assistente no Hospital São Paulo, onde as mudanças já começam a aparecer. O ambulatório, que antes atendia até sete especialidades ao mesmo tempo, agora se prepara para permitir apenas duas por dia. “É impossível pensar num cenário como antes da pandemia, com muitos pacientes na sala de espera”, avalia. Com isso, há uma preocupação maior em triar casos mais urgentes e entender quais especialidades precisam de mais dias de atendimento.

CUIDADOS NA ODONTOLOGIA
Nos consultórios odontológicos, o retorno às atividades é um desafio à parte. A área é uma das que mais oferecem riscos de contaminação e, por isso, a preocupação deve ser redobrada, como explica Rodrigo Beltrão, coordenador de pós-graduação em Odontologia da IMED, em Porto Alegre.

Atualmente, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) orienta que apenas casos urgentes sejam atendidos e reforça o uso de protetor facial, óculos de proteção, avental e luvas descartáveis, gorros e máscaras N95. “A preocupação maior ocorre porque a proximidade entre paciente e dentista é inevitável e o uso de aparelhos com aerossóis, frequente. Isso pode espalhar gotículas de saliva e de sangue pelo consultório”, explica Beltrão.

Na China, por exemplo, antes do atendimento, os consultórios rastreiam se o paciente saiu da cidade nos últimos quinze dias. Nos EUA, alguns consultórios já separam os pacientes que vão precisar fazer uso de equipamentos como brocas de alta rotação, deixando-os por último para aumentar o período disponível para fazer a desinfecção dos equipamentos e do ambiente. A Dinamarca, por sua vez, que permitiu a volta dos tratamentos eletivos ainda em abril, fez várias recomendações sobre equipamentos extras de proteção para os dentistas.

Para Ana Patrícia, cirurgiã-dentista no Rio Grande do Norte, o maior desafio profissional tem sido identificar quais os pacientes realmente precisam ir ao consultório. “Muitas pessoas só confiam na abordagem presencial e por isso relatam ser urgência,  mas entendo que com este novo cenário é difícil também para o paciente ter uma boa noção de seu caso”, revela. Ela ressalta que cabe ao profissional realizar um boa e detalhada  anamnese para decidir qual será a abordagem a seguir.

Criador do movimento Dental Startup Brasil, Victor Hugo Ribeiro acredita que a pandemia acelerou uma transformação que já era necessária. “Na odontologia, a maioria das inovações acontece geralmente na indústria, com equipamentos novos, cadeiras diferentes, materiais e tratamentos atualizados”, afirma.

Para ele, com o isolamento social, as pessoas perceberam que ir ao consultório é uma parte do atendimento, mas o relacionamento não pode depender 100% desse contato presencial. Sem tecnologia, muitos pacientes que precisam ir ao consultório mensalmente deixam de fazer um acompanhamento correto. “Com a tecnologia, esse acompanhamento é mais fácil. Precisamos enxergar a odontologia além do consultório. Certamente, vai ser bom para todos.”

EXPERIÊNCIA DO PACIENTE
Outra área médica que ganhou mais visibilidade com a pandemia foi a da experiência do paciente. “Tecnicamente, a gente forma profissionais para entender a doença e não o paciente. Essa área tenta inverter a lógica”, explica Kelly Rodrigues, fundadora da Patient Centricity Consulting. Ela, porém, ressalta que não é uma discussão sobre agradar o paciente ou tirar o protagonismo do médico, mas sim uma nova forma de pensar em um trabalho conjunto.

Para exemplificar, Kelly criou um projeto colaborativo para mapear boas práticas que vêm sendo adotadas

em todo o mundo durante a pandemia da covid-19, privilegiando pacientes, parentes e profissionais de saúde, e podem ser adotadas de forma rápida pelas demais Instituições.

O material está disponível gratuitamente e destaca dezenas de ações, entre elas o apoio psicológico do governo argentino por telefone para idosos em isolamento, a campanha Direito de Dizer Adeus, na Itália, para promover a despedida de pacientes terminais e seus parentes, o quadro de comunicados com as Vitórias do Dia na Espanha e o projeto que imprime fotos nos aventais da equipe médica para reduzir o distanciamento causado pelo uso de EPIs, nos Estados Unidos.

O espanhol Óscar López é CEO da Acuam, consultoria de assistência médica especializada e de envolvimento do paciente. Ele é um dos idealizadores do grupo que reúne familiares e pacientes que tiveram covid-19, uma das ações citadas no relatório da Patient Centricity Consulting. Para López, a criação desse espaço é importante não só para permitir que essas pessoas compartilhem experiências. “Essas iniciativas são vitais para avaliarmos como agimos diante dessa crise e o que podemos melhorar para estarmos mais preparados para a próxima pandemia.”

Telemonitoramento em casa e menos idas aos hospitais são apostas para futuro da Saúde
Pandemia provocada pelo novo coronavírus aumentou debate sobre a telemedicina no Brasil

Com as consultas eletivas paradas durante a pandemia, o impacto das filas reprimidas no sistema público já despertou um grande debate no setor de saúde. “Com a pandemia, a capacidade econômica brasileira caiu e isso significa uma dependência maior do SUS, que já tem problema de lotação e ainda vai sofrer com o impacto das consultas adiadas”, avalia Rom Justa, fundador do Saúde 2030, plataforma de ensino sobre a saúde do futuro.

É nesse cenário que ele acredita que a telemedicina deve ganhar um protagonismo, tardio mas necessário no Brasil, já que em países como Estados Unidos a prática já é comum desde os anos 1970. “Num país continental como o nosso, a garantia do acesso pleno à saúde só é possível com o avanço de tecnologias digitais”, aponta.

Para Justa, agora é ainda mais importante garantir uma maior presença na vida dos pacientes, sem que isso signifique que ele precise procurar uma unidade de saúde. E isso envolverá mais do que a realização de consultas por videochamadas. Com o desenvolvimento tecnológico, é possível realizar não só o atendimento, como também o monitoramento, o diagnóstico e a educação do paciente a distância.

Imagine um paciente que foi diagnosticado com hipertensão. Um sistema integrado, como já ocorre em Israel, por exemplo, pode permitir que ele receba em casa um equipamento para aferir a pressão diariamente. Esses dados podem ser registrados em um aplicativo que emite um alerta para o médico em caso de oscilação anormal. Além disso, o paciente tem como receber semanalmente alertas por SMS sobre rotinas mais saudáveis para controlar a pressão alta.

No Brasil, iniciativas fazem uso da tecnologia para permitir que o médico atenda e acompanhe o paciente sem que ele precise sair de casa. Adriana Mallet é médica e fundadora do SAS Brasil, uma organização sem fins lucrativos que já atuava havia sete anos com um projeto itinerante que leva atendimento médico gratuito para cidades em regiões isoladas do Brasil. “Já utilizávamos a telemedicina para fazer a triagem de pacientes com suspeita de câncer de pele para que eles pudessem ser operados durante nossas expedições, mas sempre tínhamos um médico em cada ponta”, conta. Com o avanço do coronavírus no País e a situação alarmante nas periferias brasileiras, eles adaptaram o sistema para atender diretamente o paciente.

“Esse momento serviu para entendermos que o ambiente do hospital deve ser preservado para quem realmente precisa, mas que também é primordial não deixar de dar assistência a quem necessita de ajuda médica”, afirma. O projeto já realizou mais de 1.800 teleatendimentos médicos e psicológicos gratuitos não só de pessoas que estavam com suspeita de covid-19 como também de pacientes com outras queixas.

Em relatório divulgado com resultados dos primeiros dois meses de ação, 96% dos pacientes atendidos pela equipe tiveram seus problemas resolvidos pelo atendimento online. Apenas 4% precisaram ser encaminhados para hospitais. “A telemedicina é uma nova engrenagem que chega para auxiliar o sistema atual”, comenta Adriana, que também é médica socorrista do SAMU.

Mas, como toda nova ferramenta, há muitos aspectos desafiadores. “Temos de lidar com a qualidade de internet do paciente e ver como vamos encaminhar a receita para ele. Também é preciso ter cuidado com a proteção dos dados porque fazer telemedicina por WhatsApp não é seguro, mas nem sempre outro aplicativo é acessível para as pessoas”, conta Adriana.

NA PALMA DA MÃO
“Aos poucos, deixamos de sair de casa para ir ao banco, para pedir um táxi ou comprar comida. Acredito que cada vez mais isso também deve se tornar comum na saúde”, aposta Marco Antonio Bustamante, médico cardiologista e sócio fundador da ECGNow. Atualmente, a empresa trabalha com o envio de laudos de eletrocardiogramas. Mas a aposta está num futuro ainda mais conectado.

A teleconsulta, por exemplo, pode ser extremamente útil para o tratamento de doenças cardiovasculares, outra epidemia silenciosa e principal causa de mortes em todo o mundo. Só no Brasil são 380 mil mortes anuais, segundo Sociedade Brasileira de Cardiologia. “Em pacientes com problemas cardiológicos, muitas vidas poderiam ser salvas se o atendimento não começasse apenas no hospital”, afirma.

Leia mais: Entenda o risco da infecção por coronavírus para quem tem doenças cardiovasculares

Bustamante exemplifica com casos de infartos. “As decisões tomadas na primeira hora geralmente definem se o paciente vai sobreviver ou não”, alerta. Com a teleconsulta, ele explica que é possível conseguir extrair informação com o paciente ainda em casa, ganhando tempo para acionar uma cadeia de atendimento, que vai desde o chamado à unidade de resgate, passando pelo envio de orientações aos familiares da vítima até o contato com o hospital mais próximo, deixando equipe e sala de cirurgia preparada para assim que o paciente chegar, evitando a burocracia de ter de passar pela recepção e esperar o atendimento do médico.

FALTA LEGISLAÇÃO
Consultora jurídica especializada em Direito Médico e Saúde, Sandra Franco ressalta que apesar de ter ganhado os holofotes durante essa crise, não há legislação no País que trate do futuro da telemedicina no pós-pandemia. A Lei 1389/20 foi sancionada após a portaria 467, mas autoriza a teleconsulta apenas durante a crise provocada pela epidemia da covid-19 no Brasil.

Além do aspecto legal, ela pontua que é preciso definir autoridades que certifiquem esses sistemas com padrão de proteção de dados e  que haja um debate até sobre a inclusão da telemedicina como disciplina obrigatória nas faculdades de Medicina no Brasil.

“Ao garantir uma implementação de forma estruturada, podemos trazer benefícios para área da saúde. Os dados gerados a partir da telemedicina permitem fazer políticas públicas mais direcionadas, perceber dificuldades de acesso à saúde, aprimorar tratamentos para doenças, evoluir tratamentos utilizados e a democratização do acesso à saúde”, aposta Sandra.

Diretor do Conselho Federal de Medicina, Donizetti Giamberardino pondera que é preciso garantir que essa consulta online tenha a mesma segurança que um atendimento presencial. Para ele, é mais preocupante a situação nas primeiras consultas, quando médico e paciente ainda não se conhecem. “É importante que ambos saibam os limites do teleatendimento, o que pode ou não ser resolvido por aquele canal.”

Giamberardino defende que a telemedicina precisa avançar, mas é necessário ter um plano para não transformar esse contato em um ato impessoal. “Ter um médico de confiança, que acompanha você, é importante”, afirma. “Por isso, acredito que não podemos simplesmente colocar a tecnologia em todos os hospitais. É preciso ter um objetivo claro.”

Ele também confirma que o CFM já está preparando uma atualização da resolução vigente que trata sobre a telemedicina no Brasil, de 2002. “Está claro que tem de visar a segurança do paciente. Não é uma nova medicina. É um sistema propedêutico.”

Ainda assim, o chefe global do setor público e assistência médica da Everis, Alejandro Morán, pondera que a telemedicina é tratada como o futuro, mas deveria ser o presente. “A tecnologia é básica. Uma videochamada e um prontuário digital são ferramentas que já existem há bastante tempo”, esclarece.

Para ele, o futuro deve vir acompanhado de uma perspectiva ampla. “Precisamos estar cientes de que não estamos só substituindo um hábito do presencial para o online”, alerta. “Temos de perder o medo de introduzir a tecnologia na medicina, mas é importante um debate profundo. Porque se ele não acontece e não criamos meios e protocolos para regularizar esses aplicativos, sistemas e chatbots que dão diagnóstico, por exemplo, colocamos a saúde, a segurança e a privacidade das pessoas em risco.”

Cinco perguntas para...
DRAUZIO VARELLA, MÉDICO

Com mais de 2 milhões de inscritos em seu canal do Youtube e mais 1 milhão de seguidores no Instagram, o médico Drauzio Varella tem usado as redes sociais para orientar a população. Nesta entrevista, ele fala do desafio que é lidar com as fakes news em um momento de pandemia como o atual e diz que o novo coronavírus fez os brasileiros ficarem atentos a todas as regiões do País - e não só no que ocorre no lugar em que vivem. Confira, abaixo, os principais trechos da conversa:

● Acredita que já temos a real dimensão da pandemia?  

Quando foi a última vez que acompanhamos uma cobertura diária sobre todo o País? Nesta semana, eu já vi matérias sobre Macapá, Boa Vista, Aracaju. Infelizmente, devido a uma grande tragédia. Mas acredito que esse momento aumentou consciência do País. A gente sempre diz que o Brasil é um país continental mas no dia a dia nós não temos a dimensão dessa realidade. Agora estamos mais preocupados com o todo porque enquanto houver brasileiros infectados, a epidemia não desaparece. É diferente, por exemplo, quando falamos da malária no Acre. Está lá. O mosquito não vai sair de lá para me picar em São Paulo. Agora temos realidades e preocupações em comum. Isso é uma novidade muito grande.

● As informações sobre a covid-19 foram sendo conhecidas quase que simultaneamente por médicos e pacientes. Como tem sido a experiência de não só se manter atualizado, mas de encontrar a melhor maneira de repassar isso para os seus seguidores?

O maior desafio são as fake news. Tanta gente que usa as redes sociais para divulgar notícias falsas e criar boatos que correm muito rápido na rede. Não se tem controle. Se digo que sou contra a vacina, por exemplo, isso pode ser espalhado rapidamente e prestar um enorme desserviço à população. E essa é a parte ruim.

● O que mais mudou na relação entre médico e paciente durante a pandemia?

Essa discussão da telemedicina até ano passado foi calorosa, com conselhos regionais querendo estabelecer modelos rígidos por acreditar que essa tecnologia ia destruir a relação entre médico e paciente. Eu sempre fui a favor. Acho que não tem sentido dispor essa tecnologia e não utilizar. Por que, por exemplo, eu não posso fotografar uma anormalidade na pele de um paciente e encaminhar para outro especialista que vai saber mais do que eu tendo o paciente na minha frente? Temos regiões do País que não têm e nunca vão ter médicos. Cidades que não têm cinema, escola ou agência bancária dificilmente vão atrair uma pessoa que estudou seis anos e fez mais quatro de residência. Precisamos ter outras formas de levar assistência médica para lugares mais distantes. E isso envolve pensar no médico como mais um componente de uma equipe inteira de profissionais, que envolve enfermeiros, assistentes sociais. Nada substitui o contato com o paciente, mas em muitos casos eu consigo fazer o acompanhamento pós-diagnóstico por telemedicina. Porque aí, nesse caso, é melhor do que ter de esperar seis meses para um retorno.

● A telemedicina veio para ficar, então?

Nada substitui o toque. Medicina se faz com as mãos. Mas não acho que existe competição. Ao contrário, uma é complementa a outra. Não tem sentido desprezar uma tecnologia dessas. Se nas nossas relações pessoais não temos condições de estar frente a frente, vamos usar a tecnologia. Na medicina, vai ser a mesma coisa. Um não substitui o outro. Certamente, vai ser melhor do que ser impossível qualquer contato.

● Qual será o maior aprendizado dessa pandemia para o sistema de saúde brasileiro?

Eu acho que o maior aprendizado é entender a importância do Sistema Único de Saúde (SUS), maior sistema de saúde do mundo. Nenhum país com mais de 100 milhões de pessoas têm algo assim. Mas no Brasil tanto a população quanto os governantes ainda desprezam o SUS. Acredito que ele sai engrandecido porque é o que temos agora. Muita gente faz plano de saúde e acha que não vai mais precisar do sistema público. Quando surge uma pandemia desta, vemos uma realidade em que hospitais particulares estão sem vagas e você precisa recorrer ao SUS. Também está claro que Brasil não tem uma política de saúde pública. E isso não é de agora. Um exemplo são as frequentes trocas de ministros. Nos últimos anos, foram 13. Não dá para criar um plano dessa forma.