Entidades de reitores e alunos reagiram nesta sexta-feira, 22, à acusação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, de que haveria "plantações extensivas de maconha" nas universidades federais. Ao site Jornal da Cidade, ele ainda disse que as instituições são "madrassas de doutrinação", em referência às escolas islâmicas. 

Desde que assumiu o cargo no MEC em abril, Weintraub protagoniza uma série de polêmicas com professores e alunos. Além de sucessivas acusações sobre “balbúrdia” e “doutrinação” nas faculdades, ele tem apontado suposto excesso de gastos nas instituições e foi alvo de protestos após bloquear verbas – o dinheiro só foi liberado meses depois. 

Em nota, a Andifes, associação que reúne os reitores das federais, disse que as instituições são sempre “objeto dos ataques” e da “retórica agressiva” do ministro. Conforme a entidade, Weintraub “ultrapassa todas as fronteiras” com a declaração, “ofendendo a um só tempo toda a comunidade acadêmica e a fé muçulmana”. 

A Associação Nacional de Pós-Graduandos disse que o titular do MEC “mente, acusa sem provas, desrespeita a universidade, a produção científica e a comunidade acadêmica”. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) disse reiterar "sua solidariedade às universidades públicas brasileiras, que estão sendo duramente criticadas, de forma injusta e inverídica, pelo atual ministro da Educação". 

Também nesta sexta, o presidente Jair Bolsonaro negou os rumores de que planeja trocar o ministro. Ele disse que a intenção de rumores sobre a troca de ministros é "dizer que governo bate cabeça, vai mal". Para Bolsonaro, os números dizem o contrário. "A gente está bem na Economia, bem na Educação, bem na Defesa. Tudo foi descontingenciado. Qual a intenção disso? Se eu afundar, afunda o Brasil todo. Vocês vão 'pro 'beleléu' também junto comigo."

Governo Bolsonaro quer canal de denúncia contra professores

A ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, afirmou esta semana que o governo federal vai criar um canal para que pais de alunos possam reclamar de professores que, durante as aulas, atentem "contra a moral, a religião e a ética da família". Ela disse que o dispositivo, desenvolvido em parceria com o MEC, será anunciado ainda este ano, mas não deu detalhes sobre o funcionamento. 

A gestão Jair Bolsonaro é crítica de uma suposta doutrinação e pregação da "ideologia de gênero" em sala de aula pelos docentes. Esse termo vem sendo usado por grupos conservadores, mas não é adotado em universidades e escolas. O combate à doutrinação é uma bandeira do Movimento Escola sem Partido, grupo criado em 2004 para cobrar mecanismos que vigiem e punam supostos excessos de professores. Nos últimos anos, têm tramitado no Congresso e nos Legislativos locais projetos de lei inspirados nessa ideia - parte foi aprovada. 

De acordo com especialistas, uma ferramenta do tipo pode criar um clima de desconfiança entre alunos e docentes e eventuais problemas com professores deverriam ser resolvidos dentro do ambiente escolar.