A “mancha” de 8 quilômetros (km) que foi formada após o tombamento de um caminhão do tipo bitrem nas margens do Rio Vermelho, na GO-164, entre Faina e cidade de Goiás, ainda está compacta e sem conseguir dissolver pelo leito do curso d´água. Ela avança em uma velocidade de cerca de 1 quilômetro por hora (km/h) e há estimativa que desague no Rio Araguaia, em Aruanã, entre 4 e 5 dias. O veículo estava carregado com um preparado de sangue bovino que seria levado a uma fábrica de rações para cães. 

O diretor técnico da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) da cidade de Goiás, Pedro Vieira, no entanto, afirma que é ainda necessário acompanhar o andamento da mancha nos próximos dias. “Na região está chovendo, o que aumenta o volume da água e isso pode ajudar a diluir. Mas fomos até cerca de 3 km além da cidade e ela ainda estava intacta, avançando”, conta. 

A Semma ainda não conseguiu confirmar o que havia no preparado que caiu dentro do Rio Vermelho, que corta o município e é um dos pontos turísticos da região. Pela informação do motorista da carga, de acordo com o Corpo de Bombeiros, que atendeu a ocorrência, seria 10 mil litros de sangue bovino, que comumente é vendido por frigoríficos para a fabricação de rações para animais de pequenos portes. 

No entanto, é provável que tenha mais alguma substância utilizada para conservar o sangue e evitar a sua coagulação. A indicação disso é que não havia cheiro característico na mancha, conforme descrito por moradores e técnicos da prefeitura, e ainda a abundância de espuma. “Quando passou nas corredeiras, em contato com as pedras, a espuma aumentava e isso pode ser a reação química. Alguma reação tem, mas ainda não sabemos qual”, afirma Vieira. A Semma obteve, até então, apenas a placa do caminhão, mas não conseguiu identificar ainda o proprietário e de quem seria a carga.

Apenas ao identificar toda a transação da carga é que será possível confirmar o que tinha no preparado e se ele é nocivo ao meio ambiente. “Com certeza há algum dano ambiental, mas ainda não conseguimos quantificar ou verificar qual é”, confirma o diretor. Duas amostras da água foram recolhidas para análise laboratorial. Uma será feita na Vigilância Sanitária da cidade de Goiás e outra foi trazida a Goiânia.

Vieira afirma que, de todo modo, a indicação para a população, especialmente as ribeirinhas, é para não utilizar a água do Rio Vermelho. O alerta serve tanto para consumo como para o lazer, já que é necessário definir ainda se há riscos pela contaminação e o que poderia ocorrer. O alerta serve pelo menos até que tudo seja dissolvido.

Análise indica aumento de nitrito

O projeto de pesquisa Águas do Cerrado, do Câmpus Cora Coralina da Universidade Estadual de Goiás (UEG), realizou uma análise preliminar da água do Rio Vermelho para verificar a qualidade da substância. A amostra foi coletada às 15 horas, no Largo da Carioca, quando a mancha já tinha passado pelo local. Segundo o estudante de turismo da UEG, João Dorneles, que participou do estudo, a análise é pouco criteriosa e outra amostra, colhida às 11 horas, foi levada a um laboratório para verificação mais complexa.

Os resultados preliminares indicam que não houve alteração no Potencial Hidrogeniônico (pH), que verifica o nível de acidez da água. O pH foi indicado entre 6,8 e 7,2. Em relação à quantidade de oxigênio dissolvido na água verificou-se níveis de 10 ppm (parte por milhão), sendo próximo aos indicadores normais do rio. No entanto, a concentração de nitrito (NO2) está em 0,25 ppm, acima do limite considerado bom.

De acordo com o Águas do Cerrado, “a presença de nitrito sugere contaminação recente proveniente de decomposição biológica”. Isso pode ocorrer desde a presença de esgotamento sanitário jogado in natura no manancial a até o despejo da carga no acidente ocorrido nestas sexta-feira (23). Para o grupo, é necessário que a população aguarde mais alguns dias antes de utilizar o Rio Vermelho. De acordo com a prefeitura da cidade de Goiás, não há captação de água deste rio, o que é feito apenas quando os rios Bacalhau e Pedro Ludovico estão em níveis baixos.

Motorista teve ferimentos

O motorista do caminhão bitrem carregado com um preparado de sangue bovino perdeu o controle do veículo em uma curva acentuada após a ponte sobre o Rio Vermelho e tombou cerca de 5 km da cidade de Goiás, por volta das 4 horas, na GO-164, entre Faina e Goiás. O Corpo de Bombeiros foi quem atendeu a ocorrência e o condutor, que não teve a identidade revelada, ficou preso nas ferragens. 

Segundo o tenente-coronel Jailton Pinto de Figueiredo, comandante do Corpo de Bombeiros da cidade de Goiás, a vítima apresentou traumatismos craniano e raquimedular, estando com os membros superiores e inferiores dormentes. Ele foi levado consciente para um hospital, onde ficou constatado uma fratura na perna. “O rio não apresentava odor forte, mas acho que era pela quantidade de água também”, diz. A alteração deixou moradores assombrados com a situação. “Nós achamos que uma represa poderia ter arrebentado por causa da cor vermelho terra do rio”, relata Naiara Oliveira, de 26 anos, auxiliar de serviço geral em um estabelecimento próximo ao Rio Vermelho. 

Apesar do tom avermelhado, a diretora do Museu Casa de Cora Coralina, Marlene Velasco, afirma que o rio não exalava nenhum odor. A casa, ponto turístico da cidade, está localizada às margens do rio. Marlene relata que percebeu a cor avermelhada às 9 horas (Colaborou Alessandra Rocha, estagiária do GJC em convênio com a PUC-Goiás).