Ser mãe é sinônimo de ser forte. Mulheres como a professora Clarissia Ribeiro Marques, a técnica em Enfermagem Cleane do Nascimento ou a dona de casa Juliany  Maria Anjos, entenderam real significado dessa força quando tiveram um filho, gerado no próprio ventre, ou amado à primeira vista pelo coração. Mães como a merendeira Maria de Barros, de 53 anos, que cuidam de crianças e jovens especiais e se emocionam quando são perguntadas se se sentem realizadas nesse “trabalho” em tempo integral nada fácil. Para elas, a resposta é objetiva e rápida: uma lágrima no rosto que diz tudo, com um sorriso seguido de “meu filho (a) é uma dádiva para mim”.

Dos 53 anos da merendeira Maria do Carmo Ferreira Barros, 33 foram e são cuidando da filha especial Marilene Barros Severino, de 33 anos. Hoje mulher, Marilene nasceu saudável e acabou tendo um retardo mental moderado após uma convulsão que atingiu as células do seu cérebro aos sete meses.

Maria conta que durante todo esse tempo teve um único medo. “Quando ela começou ter esse problema depois de uma convulsão, ficou com sequela, achei que eu ia perder ela, era meu pior medo, mas Deus me deu a oportunidade de ter ela comigo, de resto nós superamos tudo todo dia”, afirma.

Mãe de sete filhos, Maria diz que cuidou de todos sozinha e atualmente trabalha na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), onde a filha também recebe assistência.

Sempre cuidando da jovem, agora Maria também se tornou mãe duas vezes recentemente, depois de Marilene ter engravidado e tido Maria Alice que hoje tem um mês. “Descobrir que ela estava grávida foi fácil porque conversamos muito, mas quando eu permiti ela namorar foi bem difícil, só que eu vi que ela tinha que ter o direito dela de mulher, então quando começou a namorar com um rapaz que também frequenta a Apae, depois ficou grávida e de lá para cá foi só alegria, curtindo a gravidez dela e agora da bebê”, lembra, já sorrindo das dificuldades outrora enfrentadas.

Maria não desviou ao responder como é ser mãe de Marilene. “Minha filha é especial e é um presente de Deus para mim, ela é uma menina muito dedicada, animada, eu até me emociono porque falar dela é... ela é tudo para mim. Sou uma mãe realizada”, finaliza Maria, a mãe tão forte quanto seu nome promete.

Marilene afirma a reportagem que é muito feliz por ter Maria do Carmo como sua mãe. "Ela é uma mulher batalhadora e tenho muito orgulho dela". Questionada sobre como é ser mãe da Maria Alice, Marilene chora e diz que é um momento único na sua vida. 

 Presente

Mãe do João Gabriel Facundes Marques, de três anos, Clarissia é solteira e mora em Palmas só com o filho, contando com ajuda do ex-marido para cuidar do pequeno que nasceu com parte do coração - uma doença chamada cardiopatia congênita. Segundo ela, a descoberta do problema se deu ainda na gestação, quando foi informada que o bebê tinha Síndrome de Hipoplasia do Coração Esquerdo (SHCE). “Foi um choque, eu perdi o chão. Porque, em principio, é uma cardiopatia incompatível com a vida. Depois descobrimos que tem sim como salvar a vida dessas crianças. É muito difícil, pois uma criança a cada cinco mil é diagnosticada e poucas têm acesso ao tratamento por ser particular. Descobrir que o Gabriel tinha essa cardiopatia foi um desespero”, conta a professora.

Com o descobrimento da doença, Clarissia também descobriu em si uma força e amor tão grandes que a fizeram tentar de tudo para que seu filho nascesse bem.

“Sabendo disso, fui correndo atrás do tratamento até ele conseguir nascer em São Paulo, em um hospital adequado para tratar da doença. Com dois dias de nascido ele fez a primeira cirurgia cardíaca, com três meses a segunda e agora com quase dois anos fez a terceira”, explica.

Clarissia diz que o João está com um atraso na fala e ela está buscando descobrir se ele pode ter Transtorno do Espectro Autista (TEA), no entanto, ainda não há nada comprovado. Atualmente, ela busca apoio na  Apae para ter um tratamento adequado e oferecer qualidade de vida ao filho. “Eu até digo que agradeço a Deus por ter um filho especial e passado a ver o mundo de outras formas. Porque ser mãe de uma criança especial não é para qualquer pessoa. Porque precisamos ter o psicológico bom para poder ajudar eles”, relata.

Ao longo da entrevista, Clarissia não conteve a emoção ao responder o que é ser mãe do João Miguel. “Ser mãe dele é ser abençoada. Sou muito agradecida. Deus escolhe as pessoas. Ele para mim é tudo”, completa, chorando.

Ensinamentos

Cleane do Nascimento tem 36 anos, é técnica em enfermagem, e como Clarissia, tem um título muito mais importante no seu currículo de vida: é mãe de uma criança especial. Feliz, Cleane conta que em meio às dificuldades, que começaram logo no início da sua jornada com a filha, sempre dita o seu lema: “Se Deus permitiu é porque a gente dá conta”.

A filha de Cleane, Sofia Ferreira do Nascimento, de cinco anos, teve paralisia cerebral ao nascer por falta de oxigênio no cérebro. “No pré-natal descobrimos que íamos ter uma menina e que a gravidez ia bem. Somente quando a gestação completou 37 semanas, eu senti dores e fui ao hospital, fiquei esperando dilatar e não dilatou. Esperei o dia inteiro por um exame para descobrir como estavam os batimentos do bebê. Quando saiu, descobrimos que eu e a bebê estávamos com arritmia”, relata. Com complicações, a mãe foi levada para o centro cirúrgico e a criança acabou tendo falta de oxigênio no cérebro, o que acarretou diversos problemas por negligência médica, segundo ela.

“Ela teve muita crise convulsiva e não teve reação, teve que ser entubada durante sete dias. A Sofia acabou tendo o cérebro lesionado. Depois que tiraram o sedativo ela não mamou. Ficou quatro meses no hospital internada. Teve que colocar sonda na barriga. Ela usa até hoje porque, mesmo aos cinco anos, ela não consegue deglutir [engolir]”, relembra das batalhas que ainda hoje são motivo de luta diária para Cleane.

É no fato de ser mãe que Cleane encontra a força. “Eu sou muito feliz. Independente do quadro que ela está eu cuido dela e tenho o pai dela. É muito gratificante ser mãe dela, mesmo com todas as dificuldades. Era um sonho que eu tinha. Quando descobri que era uma menina fiquei muito feliz. Agora é só cuidar e é Deus que me dá forças”, comenta.

Atualmente, Sofia também é assistida pela Apae de Palmas e conta com tratamento de multiprofissionais para ajudar a melhorar a qualidade de vida e diminuir os sintomas, uma vez que a doença não tem cura.

“Me dói muito saber que ela tem necessidades especiais por negligência médica, mas me resta cuidar. Foi uma fatalidade e fui pouco assistida. Hoje eu encontro força nas outras pessoas que fazemos amizade, pessoas que compartilham suas histórias e querem saber sobre a gente”, afirma.

Aceitação

Outra mulher que começou a longa jornada de ser mãe mais cedo é a dona de casa Juliany Maria dos Anjos, de 28 anos. Com sete meses de gestação, a bolsa gestacional rompeu e a Rayane Vitória Rodrigues dos Anjos chegou ao mundo, mas a luta só estava começando. “Ela foi para UTI e lá teve uma parada cardíaca. Quando eles foram fazer exames na cabeça dela, perceberam que tinha tido hidrocefalia. Ela teve acompanhamento e ficou por dois meses no hospital”, lembra a mãe.

Só depois de um tempo, já em casa, Juliany descobriu que a filha tinha necessidades especiais e começou a batalha com tratamento, médicos, exames. “A minha vida é cuidar dela o tempo todo, 24 horas por dia. Tenho o mais velho de 10 anos, o João Gabriel, que me ajuda com ela e também o meu marido é muito presente com os filhos”, explica.

A dona de casa conta que a aceitação da doença foi uma das maiores dificuldades no início. “No começo eu não queria aceitar. Porque a minha gravidez foi normal, eu não bebia, não fumava e nem nada. Com o tempo passando  fui aceitando e conheci o verdadeiro amor através dela. Eu já conhecia o amor com o irmão dela, mas foi através dela que eu soube o que é ter paciência, a ter fé, coisas que eu não tinha”, ressalta.

Mesmo com amor, Juliany não deixa de contar das dores que enfrenta. “Não é fácil. Tem hora que eu não aguento. Só eu sei o que passo ao carregar ela para cima e para baixo com ela no colo, pois a cadeira de rodas dela já era para ter chegado. Tem dias que eu falto na Apae por causa da coluna que dói bastante. Se não fosse meu marido fazendo massagem nas minhas costas, eu já estava na cadeira de rodas”, diz, já emocionada.

Rayane ainda não fala e não consegue comer sozinha, mas também é uma menina saudável, brincalhona e raramente adoece, conforme conta a mãe. Com tratamento contínuo, a criança já está conseguindo ficar em pé e pode chegar a dar os primeiros passos em breve. “O maior presente do dia das mães para mim é poder a ver andando”, finaliza, com a certeza de que o amor supera.