A aldeia Boto Velho, ou inawebohonã, na língua Inã (falada pelos povos Karajá, Javaé e Xambioá) está em luto nesta quinta-feira, 16, com mais uma vítima da Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus entre o povo Javaé. 
 
Faleceu vítima da doença, no Hospital Regional em Paraíso, o indígena Fernando Javaé, 49 anos. Ele era cunhado do cacique da aldeia, Wagner Mairea Javaé, que fica no centro da Ilha do Bananal. Ele deixa a esposa, Creuza, irmã do cacique, e seis filhos, quatro homens e duas mulheres. "É um dia triste", resume Mairea.
 
Parentes do indígena contam que ele chegou a ser atendido no hospital em Lagoa da Confusão. O município é o mais próximo da Barreira da Cruz, que dá acesso à aldeia, do que Pium, ao qual a aldeia tem ligação geográfica. E depois foi levado para Paraíso. “Estamos aguardando o corpo dele que ainda tá em Paraíso”, diz o filho, Leandro Javaé.
 
A Prefeitura de Lagoa afirma que Fernando já chegou com dificuldade de respiração na madrugada de segunda para terça-feira. A equipe que o atendeu decidiu encaminhá-lo para Paraíso. "Chegou com síndrome respiratória aguda. Foi prontamente atendido e encaminhado para referência com acompanhamento médico e em oxigênio", segundo a assessoria.
 
Fernando é a terceira vítima indígena a morrer de Covid-19 no Tocantins e o segundo na Ilha do Bananal. O Tocantins, segundo boletim do Distrito Sanitário Indígena do Tocantins (DSEI) o Estado tem 239 indígenas infectados pelo novo coronavírus.
 
A jornalista Aurielly Painkow lamenta a morte do indígena. Ela mantém amizade com o povo Javaé e lembra que Fernando era um amigo querido e gostava de acompanhar sua família em pescas que fazia na região. "Percebo o quanto estamos todos vulneráveis, principalmente os indígenas da Ilha do Bananal que são solícitos e ótimos anfitriões. Parece não haver uma política de proteção ou de enfrentamento à pandemia nas aldeias. E os índios estão à mercê da própria sorte".