Líder afro tradicional do candomblé de Angola da casa Nzo Jimona dya Nzambi, Tata Ngynzetala diz que pretende buscar ajuda do Ministério Público para ter garantia de segurança e liberdade religiosa. Ele é responsável por uma casa Quinta das Águas Bonitas em Águas Lindas de Goiás e diz que desde que Lázaro passou a ser procurado na região, as casas tradicionais de matriz africana têm sido alvo de invasões e buscas, mesmo sem mandados judiciais.

O sacerdote diz estar insatisfeito com a forma com que as casas e os espaços considerados sagrados na religião têm sido tratados pelos agentes de segurança pública que chegam para realizar as buscas. Ele comenta que em algumas situações, as abordagens são menos agressivas, mas isso não impede a violência com que considera estar sendo tratado. Na opinião dele, motivadas por racismo religioso estrutural por parte das equipes de investigação.

O líder religioso ainda diz que pretende buscar reparação junto ao Estado de Goiás porque, no entendimento dele e de outros líderes, eles estão sendo atacados e ofendidos moralmente, sendo associados a crimes praticados por Lázaro que nada tem a ver com a tradição das religiões de matriz africada ou com as casas. “Queremos, no mínimo, que o Ministério Público nos dê garantia de segurança e de liberdade nos nossos espaços e depois a gente quer reparação moral.”

Tata Ngynzetala detalha que as casas, no geral, naquela região estão sendo alvo de perseguição das polícias. “Tivemos casas com portas quebradas e pessoas torturadas. As imagens sagradas internadas, privativas, publicadas como sendo do Lázaro. O que não é verdade. Lázaro não tem nenhum vínculo com nossas casas e mesmo que ele tivesse, o crime seria civis e não pode ser associado a uma tradição só porque é uma tradição africana, já negativada desde a época da escravização.”

Ele conta que a casa liderada por ele recebeu duas equipes da Polícia Civil de Goiás. “Foram muito educados, mas isso não faz diferença. Só o fato de virem aqui, entrarem e quererem revistar a casa, não diminui o impacto, já que não tem mandado ou algo que vincule nossas casas, a minha casa especificamente, e cada casa que foi invadida. É uma violência muito grande.”

O líder religioso acrescenta que foi à Polícia e registrou boletim de ocorrência sobre a invasão à Casa do Seu André, no terceiro dia de busca de Lázaro. “Ele foi acusado de ser o acorbetador de Lázaro, um senhor de mais de 80 anos, e teve as imagens privativas de sua casa como sendo do Lázaro, como sendo da casa da família do Lázaro, e o satanismo do Lázaro, e são coisas que não nos vinculam.”

O sacerdote ainda diz que neste sábado recebeu homens da Polícia Militar em sua casa. “Foram mais de 30 homens pulando muro. Arrebentaram a primeira porta. Quando eu vi eu perguntei se eles poderiam esperar, porque além do constrangimento e da acusação indevida, sem mandado judicial, sem nenhuma acusação formal, eu pedi para abrir as portas.” Ele explica que não queria ter as outras portas arrombadas para não ter prejuízos. “Aí ele perguntou se eu queria ser preso por desacato ou por impor barreiras à polícia, à investigação.”

Despois disso ele diz que o fizeram sentar sob a mira de um fuzil e depois foi acompanhado sob a mira de vários fuzis para abrir os espaços da casa. “Inclusive espaços sagrados, espaços que só são acessados por pessoas iniciadas depois de muitas liturgias, banhos, troca de roupa. Eles violaram nossos espaços e meu celular, que é particular, para buscar prova, para periciar, sem nenhum mandado.” Ele ainda detalha que o o computador também foi acessado. “Minhas mensagens foram lidas e ouvidas em voz alta, como se eu estivesse envolvido.”

Tata Ngynzetala diz que cada casa já passou por várias abordagens. “São grupos de comandos diferentes, uma hora é militar, outra hora civil, uma hora é do DF, outra hora de Goiás, a gente não sabe. Nós tivemos aqui (na casa dele) três abordagens educadas, mas não menos agressivas para nosso sagrado e para nossa tradição, e depois tivemos uma muito grave, de maneira muito ofensiva.”

O sacerdote acredita que esta perseguição começou depois que foram publicadas na imprensa imagens de objetos sagrados do candomblé que remetem às tradições afro vinculando à pessoa do Lázaro. “Essa imagem, inclusive, tinha sido fruto de violação de uma casa. Foi tirada em uma casa que a polícia violou. Quando a gente viu essa imagem no jornal a gente não acreditou. A partir daí viramos alvo. Não tem nada que nos vincule e nossas casas afro estão sendo vítimas de racismo religioso estrutural.”