Dídimo Heleno
 
Essa história de que o poder emana do povo, como ensina a Constituição, é bem relativa hoje no Brasil. Ultimamente o poder tem emanado muito mais do Judiciário. Embora o Legislativo represente o povo por excelência e tenha votado a favor do juiz de garantias, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, numa canetada liminar passou por cima da decisão anterior do presidente da Corte, Dias Toffoli, além de ter ignorado o presidente da República e o próprio Congresso Nacional. 
 
O ministro, como se sabe, é contra  a implantação do juiz de garantias e, quanto a isso, é um direito dele. Mas não se pode, por mero capricho, modificar tudo de supetão. Como ele também é o relator do caso no Supremo, certamente só colocará em pauta a questão quando isso lhe der na telha. Ou, quem sabe, isso não lhe dará na telha. 
 
O ministro Fux é o mesmo que, numa liminar, determinou que fosse pago o auxílio-moradia a todos os juízes do Brasil. Depois disso, engavetou a questão, que só foi modificada mais de quatro anos depois, quando muito dinheiro já havia saído dos cofres públicos. Tudo isso, um dia, não vai acabar bem. O Supremo tem sido composto pelas famosas onze ilhas, cada uma com muito poder e causando espécie dia após dia. 
 
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse algo que chama a atenção pelo acerto: “O Brasil é de fato um país interessante. O vice-presidente do Supremo decide contra o presidente do próprio Supremo, e o ministro da Justiça elogia a decisão que é contra o presidente da República”. De fato, o nosso país está se transformando numa grande piada. E tanto mais grave quando o piadista é, também, ministro do Supremo.