Dídimo Heleno
 
Na mitologia egípcia, Maet é o nome da deusa da Justiça e do equilíbrio. Toth é também egípcio, deus da escrita e da sabedoria. Os dois primeiros são marido e mulher (e utilizo o termo no presente, afinal deuses são imortais) e tiveram a filha Madset, outra deusa egípcia, claro. 
 
Aqui no Tocantins eles ficaram mais conhecidos por darem nomes a operações da Polícia Federal. A primeira resultou em afastamentos de alguns desembargadores do Tribunal de Justiça, entre os quais Willamara Leila e Liberato Póvoa, este último falecido sem ver o seu processo ser julgado pelo Superior Tribunal de Justiça. 
 
Na terça-feira, 28 de abril, a operação Madset, desdobramento da operação Toth, resultou no afastamento do desembargador Ronaldo Eurípedes, oriundo do quinto constitucional, representante da classe dos advogados, tendo sido realizada busca e apreensão na casa e escritório do presidente da Ordem dos Advogados, Seccional do Tocantins, Gedeon Pitaluga. Outros advogados também estão sendo investigados. 
 
É sempre bom lembrar que estamos em fase de investigação e qualquer precipitação pode incorrer em injustiças e certezas açodadas. Não são poucos os execrados antes de uma sentença, condenados antecipadamente pela opinião pública. Por isso, nunca é demais recordarmos o princípio constitucional da presunção de inocência. Mas também é bom lembrar que à imprensa cabe a divulgação dos fatos. 
 
O que está sendo muito discutido no grande, indefectível e famigerado fórum das redes sociais é se o presidente Gedeon Pitaluga deve, ou não, se afastar do cargo enquanto durar as investigações, até porque o Superior Tribunal de Justiça determinou o afastamento de um desembargador, o que acaba por apontar um caminho à própria OAB. 
 
Dúvida alguma resta – independentemente do resultado da investigação – que há um desgaste natural, o que atinge não somente a pessoa do presidente da OAB, mas a própria instituição. Em nota curta, Gedeon Pitaluga se manifestou afirmando que não tem qualquer envolvimento com as supostas irregularidades que motivaram a Operação Madset e diz estar contribuindo com as investigações para que a verdade seja apurada. 
 
Até mesmo a referida nota foi motivo de polêmica nas redes sociais. O advogado Célio Henrique Magalhães Rocha, ex-secretário geral da OAB Tocantins, que foi candidato à presidência da entidade nas últimas eleições da classe, tendo concorrido com o próprio Gedeon, assim se manifestou: “Por que a nota foi divulgada pela OAB/TO? A instituição está sendo investigada ou apenas o advogado Gedeon Pitaluga? Vincular a situação individual à nossa instituição é tudo que a classe não precisa. Que ele se defenda e demonstre sua inocência sem associações com a Ordem”. 
 
Em resposta a Célio Henrique, uma internauta identificada por Isabelle Catherine disse que “não tem como não fazer associação, visto que ele é o Presidente da Instituição, precisa sim se posicionar a respeito de notícias que vinculem o exercício profissional de seu representante”.
 
Em sua decisão, o ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça, assevera que “o farto conjunto probatório apresentado pela autoridade policial revela a suposta prática de diversos crimes, como lavagem de capitais, corrupção e organização criminosa [...] se vislumbra possível existência de uma organização criminosa, na qual os investigados atuaram de forma estruturada e com divisão clara de suas tarefas para a obtenção de vantagens econômicas por meio da prática, em tese, dos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro”. 
 
Sobre o desembargador Ronaldo Eurípedes, especificamente, o ministro justificou o seu afastamento da função para não permitir que “continue dizendo o que é justo e o que não é, ou quais sentenças de primeiro grau devem e quais não devem ser reformadas, ou que tome assento nos julgamentos das questões internas do Tribunal de Justiça do Tocantins, quando ele próprio é suspeito de abjeta conduta [..] O seu afastamento, portanto, visa não apenas a resguardar a imagem do Poder Judiciário do Estado do Tocantins, mas também, primordialmente, a garantir que o jurisdicionado não será julgado por pretor suspeito, acusado de ‘venda’ de sentença e de integrar organização criminosa”. 
 
Sobre a busca e apreensão nos escritórios dos advogados investigados, o ministro Og Fernandes destacou: “Deve-se salientar que o STJ admite a busca e apreensão em escritórios de advocacia, desde que existam indícios de prática criminosa nesses ambientes. É justamente o caso dos autos. Os episódios acima tratam de supostas vendas de decisões judiciais (corrupção ativa, corrupção passiva, associação criminosa e lavagem de ativos), o que explicita, de forma cristalina, o exercício profissional voltado à atividade delitiva”. 
 
A investigação, sem dúvida, será longa e penosa a todos os envolvidos. Que a Justiça seja feita e, quando e se feita, que se levante um brinde aos eventuais absolvidos, em contraponto aos dedos sempre nervosos que nessas ocasiões insistem em apontar, precipitada e acusatoriamente, na direção de quaisquer investigados.