Desprezando Nelson Rodrigues, para quem no Maracanã se vaia até minuto de silêncio, o presidente Jair Bolsonaro foi ao estádio assistir ao jogo final da Copa América no último domingo. Ao seu lado se via um impoluto ministro Sergio Moro, que tem sido alvo de vazamentos por meio do site Intercept Brasil, o que o tem colocado em situação, no mínimo, constrangedora.

Essa não é a primeira vez que presidentes brasileiros recorrem aos estádios para procurar o apoio popular, afinal o futebol é uma paixão nacional. Contudo, essa é prática bem controversa, que quase sempre não surte os efeitos esperados. É sabido que o presidente Jair Bolsonaro é amante do futebol, torcedor do Palmeiras, e sempre que pode vai aos estádios. Recentemente esteve no Mané Garrincha numa partida entre Flamengo e CSA, oportunidade em que até vestiu uma camisa rubro-negra, fazendo com que o ministro Moro também vestisse uma, que foi entregue por um torcedor.

No Maracanã, como advertiu Rodrigues, a coisa é mais complicada e, assim que o presidente entrou em campo para homenagear a seleção vitoriosa, ouviu-se um coro alto de vaias, misturado a uns tantos aplausos. O que é preciso ficar patente de uma vez por todas é que o apoio popular não vai, de forma alguma, resolver o problema do ministro Moro com relação aos vazamentos dos diálogos com Deltan Dallagnol.

Essa questão da parcialidade ou imparcialidade do então juiz é de cunho técnico-jurídico e será enfrentada pelos ministros do STF em agosto quando do julgamento de mérito do habeas corpus impetrado pela defesa do ex-presidente Lula. Ainda que cem mil aplaudissem o presidente e o seu ministro da Justiça em pleno Maracanã, isso de nada adiantaria. O foco, no caso, é convencer apenas cinco: Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Carmen Lúcia, Edson Fachin e Celso de Mello, ministros escalados para o time da 2ª Turma da Suprema Corte.