Desde que foram revelados os diálogos entre o ministro Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, a grande imprensa nacional vem se dividindo entre quem dá crédito ao site Intercept Brasil e quem o desacredita. A cada dia são publicadas diversas reportagens sobre o tema e, se de um lado há os que pretendem desmoralizar o autor das divulgações, por outro há os que o incentivam. Surgiu recentemente a informação de que a Polícia Federal estaria investigando o jornalista Glenn Greenwald, um dos proprietários do site. Isso gerou muita balbúrdia, afinal estar-se-ia diante de uma censura prévia, punindo um jornalista por divulgação de conteúdo a ele repassado. Novamente voltam à discussão da origem das provas, que teriam sido adquiridas por meio ilícito. Mas aí, dizem os defensores do Intercept, que se puna quem violou as regras, e não o jornalista que divulga os diálogos.

O fato é que, mais uma vez, o país está dividido. Para alguns, não houve qualquer quebra da imparcialidade do então juiz Sergio Moro e os diálogos com o Ministério Público são normais. Para outros, houve, sim, parcialidade, além de orientações por parte do magistrado, o que é vedado. Ademais, como disse o ministro Gilmar Mendes, não há qualquer revelação de diálogos entre o juiz e a defesa do Lula, por exemplo, mas apenas com a acusação, o que denunciaria a parcialidade.

A grande questão é a seguinte: não há dúvida de que a Lava-Jato é um marco no combate à corrupção no país; também não se pode dizer que os presos são inocentes, uma vez que bilhões foram recuperados e as delações comprovam os ilícitos; o empreiteiro Leo Pinheiro enviou uma carta ao jornal Folha de São Paulo, admitindo que, de fato, se corrompeu e o tríplex de Lula foi dado como propina. Por outro lado, caso a Justiça entenda que houve parcialidade do juiz isso pode ser motivo para se anular parte da operação e, inclusive, revogar prisões e cassar sentenças. O prejuízo não seria pouco, para qualquer lado que se olhe. Fazer vista grossa a possíveis parcialidades seria apequenar o Estado de Direito; levá-las em conta seria enfraquecer a Lava-Jato e, por conseguinte, o combate à corrupção. Estamos diante do que no jargão popular se denomina “sinuca de bico”.