Dídimo Heleno

O deputado Daniel Silveira, que foi preso na noite da última terça-feira é tão viciado em vídeos que fez um no momento da sua prisão. Deixou a Polícia Federal esperando na sala e foi para o quarto, onde, mais uma vez, desafiou os ministros do STF. O gajo se mostrava muito confiante, dizendo que apenas passaria a noite preso, acreditando que no dia seguinte estaria livre. O sol nasceu quadrado para ele na quarta-feira e nada de liberdade. O deputado, que parece ter mais músculos do que neurônios, deve ter percebido que as coisas não estão saindo como imaginou. 

O momento que o parlamentar escolheu para fazer arruaça foi o menos adequado a Bolsonaro, que mantém até agora um silêncio tumular a respeito do episódio. Ora, ele está em plena lua de mel com o Congresso Nacional e acaba de eleger às presidências da Câmara e do Senado dois apadrinhados, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. Também sinalizava uma aproximação com o STF. A cabeça e o coração do presidente foram fisgados pelo “Centrão”. Daniel Silveira só atrapalha esse relacionamento. 

E o presidente Bolsonaro já demonstrou que não pensa duas vezes para abandonar um impertinente seguidor, caso seja necessário. Quem não se lembra do ex-senador Magno Malta, que nas horas vagas é pastor evangélico e foi puxador de orações fervorosas durante a campana presidencial? Era gente de dentro da cozinha bolsonárica. Envolvido em episódios nebulosos, caiu em desgraça num piscar d’olhos, não foi reeleito e sequer nomeado a cargos no governo.

Outro notório abandonado foi o professor e astrólogo Olavo de Carvalho, conhecido como guru do bolsonarismo. Ele montou um bunker na Virgínia, nos EUA, e de lá dava as cartas no início do governo. Começou a ficar “tão doidão” que o presidente viu logo a necessidade de manter distância. Ano passado o homem chegou a reclamar que só recebia condecorações e até mandou o primeiro mandatário da Nação enfiar uma dessas naquele lugar, em pleno Twitter. Hoje amarga uma dívida astronômica por conta de uma multa aplicada num processo que foi movido contra ele pelo cantor Caetano Veloso. Foi abandonado por inúmeras empresas que o patrocinavam nas redes sociais. Endividado, amarga um ostracismo incômodo. O presidente Bolsonaro o esqueceu. 

Outros abandonados pelo presidente foram os deputados Alexandre Frota, que participou da campanha presidencial ativamente, com o seu conhecido estilo histriônico e espalhafatoso, e a estridente deputada Joice Hasselmann, igualmente largada pelo meio do caminho, tendo sofrido explícito bullying político dos seus próprios pares. Ninguém dá conta do seu paradeiro. 

A mais recente abandonada por Jair Bolsonaro é a espevitada Sara Winter, jovem que liderava até outro dia um esquisito grupo apelidado de “300 do Brasil”, numa alusão ao filme “Os 300 de Esparta”. Fez um barulhão danado, emulou uma sessão ao estilo Ku Klux Klan em frente ao STF, com seus seguidores segurando tochas, lançou vídeo xingando o ministro Alexandre de Moraes, foi presa, aprontou o maior estardalhaço e, recentemente, apareceu toda chorosa numa “live”, gemendo e rangendo os dentes, reclamando do abandono presidencial, por quem jurou dar a vida. Foi abatida ainda no início do voo. 

Agora o deputado Daniel Silveira parece ir pelo mesmo caminho. Ele, que esperava apoio do presidente, se enganou redondamente. Ontem a sua prisão foi referendada pelo STF, por unanimidade, o procurador-geral da República ofereceu denúncia relâmpago contra ele e a Câmara irá decidir o seu destino. Para quem imaginava apenas dormir na Polícia Federal, esses dois dias se transformaram em eternidade. Ainda que ele seja solto, fica o gosto amargo do abandono e da falta de apoio, a não ser de um ou outro deputado extremista como ele, que tem pouquíssimo poder de persuasão. O homem exagerou tanto em sua manifestação que nem mesmo alguns colegas de partido acharam conveniente apoiá-lo. Como disse o colunista Josias de Souza, Silveira confundiu imunidade parlamentar com insanidade pra lamentar.