Dídimo Heleno
 
Sempre relutei em escrever sobre Siqueira Campos, o ex-governador. E isso se dava porque detesto dizer o óbvio. Não há como se referir a ele sem reconhecer que foi de muita importância para o Tocantins e Palmas, que se trata de um grande líder e outros clichês. Sem qualquer conotação política – é muito difícil dissociar dele esse viés – o que mais me impressiona é o seu poder hipnótico de conquistar fidelidade, como a do cão pelo dono. 
 
Durante muitos anos eu fui servidor público aqui no Estado e pude ver de perto a influência que o ex-governador exercia sobre qualquer pessoa que detivesse alguma função de poder. E essa autoridade era ainda mais inegável e onipresente nos primeiros anos de Tocantins. Quase todos lhe rendiam reverências. 
 
Antes de considerar negativamente esse fato, vejo que o poder quase hipnótico que alguns homens exercem sobre outros é, antes de tudo, virtude. Lembro-me de um tio querido que era crítico de Siqueira Campos, mas teve a oportunidade de uma audiência com ele. Saiu de lá “dominado”, como se diz no jargão popular. Teceu inúmeros elogios ao político, derramou loas ao seu carisma e, de crítico, passou a admirador. 
 
Apesar de eu ser amigo de muitos fiéis amigos de Siqueira, jamais tive a oportunidade de estar com ele durante o tempo necessário para ouvi-lo e, como os demais, ser hipnotizado. Infelizmente, ou felizmente, não tive a chance de ser atraído por tão propalado magnetismo. E eu certamente não teria sido poupado dos seus encantos. 
 
À beira do centenário, Siqueira, segundo os mais próximos, continua lúcido e atento à vida política, o palco sobre o qual sempre brilhou. Jamais faltaram críticas aos que conduzem com mão de ferro, que misturam, em certa medida, autoridade com autoritarismo. Ninguém consegue apartar Antônio Carlos Magalhães e Bahia, Sarney e Maranhão, Arraes e Pernambuco, Barbalho e Pará e, claro, Siqueira e Tocantins. Foram – e alguns ainda são – amados e odiados pelo seu povo. Mais amados que odiados, é verdade. 
 
Como tocantinense de Dianópolis eu preciso me render a esse encantador de serpentes. Se tem algo que se pode reconhecer em Siqueira Campos é o fato de ele ter resgatado a nossa identidade. Nós, os homens e mulheres daqui, sempre fomos nortistas e sertanejos. Estivemos distantes de Goiás e desse Centro-Oeste imaginário, isolados no então pejorativo “corredor da miséria”, esquecidos por todos os políticos, que apenas vinham, em época de eleições, nos arrancar o voto e a dignidade de cidadãos. 
 
E haveremos de convir que não é todo dia que se encontra ainda vivo o fundador de uma capital. Siqueira foi também – além de outros que contribuíram para a criação do nosso Estado – fator importante para que não nos tornássemos apátridas. Éramos tocantinenses antes de existir o Tocantins. Agora o somos oficialmente. E isso em muito se deve a Siqueira Campos, queiramos ou não. 
 
Palmas, 26.11.2020.