Dídimo Heleno
 
A trajetória do ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça Sergio Moro é, no mínimo, peculiar. Num passado recente ele gozou do epíteto de “juiz herói” – o que eu particularmente repudio, na medida em que apenas cumpriu com sua obrigação – por conta da atuação durante a operação Lava Jato e suas incontáveis etapas. 
 
Depois desse período de glórias e confetes, eis que o então magistrado, no alto dos seus 22 anos de exercício na magistratura, resolve aceitar o cargo de ministro no governo Bolsonaro, o mesmo que concorreu com o PT, partido do ex-presidente Lula, que não foi candidato à presidência justamente porque foi condenado pelo juiz Sergio Moro, sentença que foi mantida em todas as demais instâncias. 
 
Confesso que achei o cúmulo um juiz aceitar o cargo de ministro num governo cujo candidato eleito tinha como adversário maior justamente o partido político daquele que ele havia mandado para o xilindró. Ali percebi que o magistrado era dado a trapalhadas e ambições. 
 
Agora, depois de pouco mais de um ano no ministério da Justiça ele sai do governo Bolsonaro de forma conturbada e jogando tudo no ventilador, tendo prestado depoimento de mais de 7 horas num inquérito instaurado com base em suas acusações contra o ex-chefe. O problema é que, caso o juiz venha a comprovar que o presidente da República tentou por diversas vezes interferir na Polícia Federal, o próprio estaria confessando o crime de prevaricação, uma vez que, se ele sabia de tais interferências, por que nada fez?
 
Isso sem falar no fato de o próprio magistrado, em suas declarações bombásticas no momento em que pediu exoneração, ter dito que condicionou sua nomeação ao cargo a uma pensão vitalícia para sua família caso viesse a perder a vida em razão do combate ao crime organizado. Há quem diga que aí também há a confissão de outro crime, o de corrupção passiva. 
 
Tudo isso é inacreditável, principalmente por se tratar de um juiz, conhecedor da lei – ao menos em tese. O fato é que o “juiz herói” está hoje desempregado, perdeu o cargo de magistrado federal, está sendo execrado dia sim e dia também por grande parte dos antes admiradores, que agora fica ao lado do presidente Bolsonaro, perdeu a chance de ser indicado para o STF e se transformou em persona non grata entre nove de dez políticos, justamente por sua atuação contundente durante a Lava Jato, que levou para a cadeia inúmeros meliantes de colarinho branco. 
 
Poucas vezes se viu tanta trapalhada cometida por um “herói”. Claro que não faltará emprego para Sergio Moro, afinal são muitos os grandes escritórios de advocacia que gostariam de tê-lo em seus quadros, além de outras inúmeras tarefas às quais poderia se dedicar, como a de dar palestras pelo mundo. Mas ele conseguiu uma inacreditável guinada negativa em sua carreira. Saiu da tão festejada “república de Curitiba” para a República propriamente dita. Esse pode ter sido o seu maior erro.