Dídimo Heleno
 
O Projeto de Supervisão da Tecnologia de Vigilância (Surveillance Technology Oversight Project) nos Estados Unidos, apresentou um estudo afirmando que julgamentos virtuais, por meio de videoconferência, são prejudiciais à defesa em muitos aspectos. Esse tema foi trazido por João Ozorio de Melo, no site Conjur. 
 
Segundo esse estudo, a ausência de procedimentos presenciais coloca os réus em desvantagem e pode ter consequências devastadoras. Nos EUA, diz Melo, a confidencialidade entre advogado e cliente fica evidentemente prejudicada, perdendo o direito de o réu “cochichar” com o seu defensor, manifestar expressões faciais ou, até mesmo, conversar separadamente. 
 
Numa videoconferência a privacidade não existe e tudo o que é falado é ouvido pelas demais pessoas, incluindo os promotores. Outro ponto é que se perde muito das expressões dos juízes, ficando difícil aos advogados e promotores perceberem reações do magistrado numa tela de vídeo, sem contar que “alguns juízes parecem distantes e apáticos”. 
 
Outro aspecto detectado é que testemunhas ouvidas virtualmente, de maneira geral, se sentem muito pouco à vontade quando estão num cômodo da casa, uma vez que familiares e amigos podem estar por perto escutando tudo o que se fala e isso pode causar constrangimento e, em outros casos, pode estimular o exibicionismo. Sem contar os frequentes problemas de áudios e imagens, quase sempre causados por imperícia das testemunhas em lidar com a tecnologia. 
 
Para o diretor do projeto, Alex Cahn, a situação é bastante complexa. “Se nos apressamos em reabrir as cortes, muita gente poderá contrair a Covid-19 e morrer. Se continuamos com julgamentos virtuais, especialmente sem investir em tecnologia para assegurar verdadeiro acesso à justiça, milhares de pessoas irão perder a liberdade, os meios de vida, a propriedade, os direitos familiares e muito mais”, finalizou.