Apontado como uma das armas mais eficazes para tentar conter o avanço da pandemia do novo coronavírus, o isolamento social está em queda e bem abaixo do índice considerado ideal em todo o Brasil. Nos últimos dias, o número de pessoas que evitou sair às ruas ficou em patamar próximo aos da primeira quinzena de março, quando os casos de covid-19 ainda eram reduzidos no País. O afrouxamento da quarentena por parte da população coincide com o momento em que o sistema público de saúde começa a entrar em colapso e em que até mesmo a rede privada dá sinais de não conseguir absorver a demanda de pacientes.

Para avaliar melhor o comportamento da população nesse momento o Estadão vai divulgar um monitor do isolamento feito com base em dados da Inloco, empresa de  tecnologia que fornece inteligência a partir de dados de localização. A empresa tem no Recife e escritórios em São Paulo, Palo Alto (Vale do Silício) e Nova York.  O monitor permite verificar o indicador de isolamento do país e também separado por Estados, além de gráficos com o histórico das taxas.

Os dados mostram que a média de isolamento no País está em 43,4%, enquanto que especialistas apontam para a necessidade de o número mínimo ser de 70%. Nenhum Estado brasileiro chega nem sequer perto disso - todos apresentam índice de isolamento inferior a 51%.

São Paulo, epicentro da doença no País, ocupa apenas o 13.º lugar em isolamento entre todos os estados. Nem mesmo o rodízio de veículos mais rigoroso na capital, promovido desde segunda-feira, melhorou os números gerais. Ontem, o monitoramento apontou uma taxa de isolamento social de 43,03%

Sobre São Paulo, o monitor inloco/Estadão apresenta números mais baixos do que os índices apresentados pelo governo estadual. A diferença está na metodologia. Enquanto os dados oficiais são baseados em dados de telefonia móvel de cidades com mais de 70 mil habitantes, os analisados pela inloco/Estadão partem de dados captados a partir de uma tecnologia que leva em conta além dos sinais de GPS, a localização captada também por meio de sensores presentes no Wi-Fi e Bluetooth. Um modelo já premiado por órgãos reconhecidos em computação, como ACM - Conference on Economics and Computation e o Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), nos EUA.

A situação de calamidade na saúde vista de norte a sul também não tem sido suficiente para convencer a população a seguir as orientações de afastamento. O Amazonas - que nos últimos dias bateu recordes diários de infecção por covid-19, está com seu serviço público de saúde saturado, e enfrentou dificuldades para atender ao aumento da demanda por urnas funerárias - tem menos da metade de seus habitantes em isolamento.

Ainda assim, o número consegue ser melhor do que aquele visto no centro-oeste do Brasil, cuja população menos tem ficado em casa nesta época de pandemia. Os três piores índices de isolamento ficam na região. A população de Goiás é a menos afeita ao distanciamento - apenas 36,9%. Tocantins (37,5%) e Mato Grosso (39%) vêm na sequência.

Lockdown
O monitoramento inloco/Estadão tem atualização diária e os dados mais recentes demonstram pouca eficácia no lockdown das duas unidades que o decretaram na semana passada, Pará e Maranhão. O número de pessoas que têm evitado ir às ruas ainda é baixo naqueles Estados. Enquanto o Pará registrou 55% de isolamento no fim de semana, essa curva voltou a cair e, na quarta, era de 49,5%. No Maranhão, chegou a 50% no dia das Mães, mas dois dias depois caiu para 48,7%.

Os dois Estados enfrentam uma grave crise em seu sistema de saúde por causa da pandemia de covid-19. O Pará está com a taxa de ocupação de seus leitos acima de 90% há pelo menos três semanas, mesmo com a inauguração de novos hospitais de campanha no período. O Estado contava com 152 respiradores vindos da China para ampliar o atendimento aos pacientes graves de covid-19, mas todos chegaram com defeito. No Maranhão, a pandemia é agravada pelos baixos índices econômicos e sociais, e o isolamento se torna particularmente difícil pela grande quantidade de trabalhadores informais.

O monitoramento inloco/Estadão também permite observar a evolução do isolamento no País desde o fim de janeiro - e isso evidencia um afrouxamento por parte da população após meados de março, justamente quando a pandemia começou a ganhar força. O pico de isolamento no Brasil foi registrado no dia 22 daquele mês, quando 62,6% da população ficou em casa. Desde então, contudo, as curvas de isolamento têm apresentado tendência de queda - o inverso do que registram as curvas de contaminação e mortes por covid-19.

O Ceará, que na quarta-feira se tornou o segundo Estado com mais infectados, atualmente possui o melhor índice de quarentena - 50,9% da população tem evitado ir às ruas. Em terceiro no ranking de infectados por covid-19, o Rio de Janeiro tem taxa de isolamento social em queda diária, e atualmente é de 46,7%. No auge, superou os 64%. Parte da piora pode ser creditada à população da capital fluminense, que nas últimas semanas relaxou à quarentena. Alguns chegaram até mesmo a ir à praia no feriado. Iniciativas de algumas prefeituras, porém, poderão aumentar o distanciamento social. Esta semana, Niterói, São Gonçalo e Rio apresentaram medidas de lockdown parcial.

No Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite (PSDB) estabeleceu um plano de "distanciamento controlado", que passou a vigorar na segunda-feira, 11. A medida prevê diferentes níveis de isolamento no Estado, que serão baseados no tipo de atividade econômica e nas curvas de contaminação pelo novo coronavírus. O plano deverá ter impacto no índice de isolamento social do Estado, que já é baixo - segundo o inloco/Estadão, inferior na casa dios 42%.