Foi negado por unanimidade o pedido de habeas corpus para João Teixeira de Faria, o João de Deus, de 77 anos, pelo caso de armas encontradas em suas residências nas cidades de Abadiânia e Anápolis. O médium preso no Núcleo de Custódia, em Aparecida de Goiânia, não compareceu ao julgamento.

Especial João de Deus: conheça a história do médium suspeito de abusar sexualmente de mulheres em Goiás

O relator Edison Miguel da Silva Júnior votou pela derrubada da liminar dada pela Justiça de Goiás e foi acompanhado por quatro votos de desembargadores, incluindo o do presidente da sessão, o desembargador Luiz Cláudio Veiga Braga.

Advogado do líder religioso, Alberto Zacharias Toron afirmou que a defesa recorrerá ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) assim que o acórdão for publicado.

Relembre

Em 8 de dezembro do ano passado, o programa ‘Conversa com Bial’, da TV Globo, trouxe depoimentos de mulheres que afirmaram terem sido abusadas por João Teixeira de Faria, de 77 anos, o João de Deus. Os crimes teriam acontecido durante atendimento do médium na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, a cerca de 90 km de Goiânia. Na época, João de Deus emitiu uma nota negando “veementemente” as acusações.

Em seguida, a Polícia Civil e o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) criaram forças-tarefas para investigar as denúncias. O trabalho da PC resultou em sete inquéritos. Dois por posse sexual mediante fraude, um deles anteriormente já tinha sido encaminhado para o Poder Judiciário. Outros dois por posse ilegal de arma, nestes a mulher dele, Ana Keyla Teixeira Lourenço, de 40, também foi indiciada.

Os três restantes também foram encaminhados ao Poder Judiciário, mas com sugestão de arquivamento em razão da extinção da punibilidade dos fatos praticados contra algumas vítimas. “São crimes muito antigos que pelo transcurso do tempo ou já passou o prazo decadencial ou o prazo prescricional. Pela analise da data do fato não foi possível concluir as investigações no sentido do indiciamento”, explicou a titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) e integrante da força-tarefa, Paula Meotti.

Estes inquéritos, de acordo com a coordenadora da força-tarefa e delegada Karla Fernandes, foram instaurados para mostrar a gravidade das ações de João de Deus e o modo como ele agia junto às vítimas. “São fatos graves de estupro de menores de 13 anos ocorridos antes de 2009”, afirmou.

A força-tarefa do MP-GO continua trabalhando e já apresentou quatro denúncias à Justiça goiana contra o médium. As acusações são de estupro de vulnerável, posse ilegal de arma de uso restrito e uso permitido. Os promotores também representaram ainda mais um pedido de prisão preventiva contra ele.

Na época da quarta denúncia, a promotora Gabriella de Queiroz explicou que a existência de um mandado de prisão autorizado pela Justiça não inibe novos pedidos, pois os casos são analisados individualmente e os fatos de apresentam de maneira coesa e corroborando a necessidade de novas apresentações para que novas prisões sejam decretadas.

Até a quarta denúncia, mais de 680 vítimas fizeram contato com o Ministério Público pelo e-mail de denúncias. Destas, 310 foram configuradas como vítimas e mais de 160 já foram ouvidas por MPs de todo o país. João de Deus permanece preso no Núcleo de Custódia, localizado no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia e é interrogado pela força-tarefa do MP/GO à medida que novos casos vão surgindo e novas denúncias sendo feitas. A última vez que ele foi ouvido foi na terça-feira, dia 22, e voltou a negar todas as acusações.

Em 10 de janeiro deste ano, a força-tarefa da Polícia Civil concluiu mais três inquéritos contra o médium, um por violação sexual mediante fraude e dois por posse ilegal de armas. A mulher dele, Ana Keyla Teixeira Lourenço, de 40, também foi indiciada por posse do armamento.

As armas foram encontradas nas residências de João de Deus nas cidades de Abadiânia e Anápolis. "Ela (Ana Keyla) foi indiciada nos dois inquéritos uma vez que essas armas estavam na casa do casal. Em Abadiânia, cinco armas estavam dentro do quarto, inclusive uma delas dentro da gaveta de peças íntimas dela", afirmou a delega Karla Fernandes, coordenadora da força-tarefa.

Na época da conclusão dos inquéritos, a investigadora explicou que em depoimento Ana Keyla afirmou que não tinha conhecimento dessas armas e que nunca as tinha visto, fato que levou ao seu indiciamento. “Se ela afirmasse que sabia, mas que as armas eram dele, que tinha ganhando em outra situação ela não tinha a responsabilidade sobre elas”, pontou Karla.

A delegada foi enfática ao dizer que a polícia está trabalhando com um fato concreto e caso as armas estivessem totalmente escondidas Ana Keyla não teria responsabilidade, mas elas estavam dentro de cômoda e de um guarda-roupa dentro do quarto que o casal dorme. “Agora ela vai ter que provar em juízo que não tinha conhecimento das armas”, finalizou.