“Me preocupo muito, todo dia. Quando ela está de plantão meu coração fica apertadinho. Eu choro sempre que penso nisso, mas aí eu rezo muito e tento me apegar ao fato de que essa é a missão da vida dela: cuidar das pessoas”, esse é o relato da advogada Laís Leão, 27 anos, filha da médica Edna Meireles, 59 anos, que atua na linha de frente do combate a pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

A advogada está certa em se preocupar com a mãe. Na quinta-feira, 14, o secretário-substituto de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Eduardo Macário, apresentou dados, coletados pelo SUS, sobre a contaminação dos profissionais de saúde pela Covid-19. Até o momento foram identificados 199.768 casos com suspeita da doença. Destes, 31.790 foram confirmados e 114.301 estão em investigação. Outros 53.677 descartados.

Mesmo com a preocupação a filha sabe que a mãe faz o que gosta. “Quem sou eu para tentar impedi-la? Ela ama o que faz, ela está se cuidando e só se sente verdadeiramente completa e viva ali dentro daquelas UTIs ajudando quem precisa. Depois que eu entendi como ela se sente realizada ao lidar com tudo isso, eu tenho tentado me acalmar mais. O medo de perdê-la é enorme, porque ela é do grupo de risco, mas ela não seria ela estando em casa parada nesse momento, assistindo tudo como mera expectadora”, ressalta a advogada.

Formada há 34 anos e com 21 deles lidando com pessoas em Unidade de Terapia Intensiva, Edna atua na rede privada e pública de saúde na Capital, tem uma média de 4 a 5 plantões por semana, cada um deles de 12 horas. Assim que os casos começaram a aparecer em Palmas, a médica relata que não se assustou, mas sabia que as coisas começariam a mudar a partir disso.

“Os relatos de casos em Palmas começaram no início de março, por volta do dia 8. No início me senti muito tranquila, mas sabendo que teria que me atualizar e me aperfeiçoar para enfrentar essa nova situação”, comenta a goiana que mora no Tocantins há 16 anos.

Família e Trabalho

No trabalho, profissionais de saúde envolvidos no combate à pandemia precisaram se adaptar a novas jornadas e aprender a lidar com muitos sentimentos. Em casa, a rotina familiar mudou. Álcool em gel e máscaras são comuns e o carinho de forma física tem que ser controlado.

“O medo e a incerteza diante do desconhecido, fizeram com que passássemos a usar máscaras, álcool gel (que eu já usava, mas não com tanta frequência), nos afastar fisicamente dos nossos amigos, reduzir nossas manifestações físicas de carinho e ficar em isolamento social.”, pontua Edna, que além da filha Laís, tem outro chamado Luiz e os dois estão com ela nesse período de quarentena.

Durante o trabalho a médica afirma que toma todos os cuidados preconizados, usa roupas adequadas, máscara adequada e luvas. Ao sair do trabalho, toma banho e lavar cabelo antes de entrar em casa. Calçado que usa no hospital fica na UTI. Ao chegar em casa, o calçado fica de fora até ser higienizado.

Preocupação

A médica relata que no começo a família ficou apavorada, pois ela é do grupo de risco e que se for infectada com a Covid-19 pode ter complicação com a doença. “No início minha família ficou muito apavorada, pois sou cardiopata e hipertensa. Mas atualmente eles aceitam, mesmo sabendo que sofrem toda vez que sabem que estou no plantão”, comenta, antes de completar que já testou negativo para a doença e garante que se tomar cuidado diminui as chances de se contaminar.

Questionada sobre qual foi o momento mais crítico depois que começou a enfrentar a pandemia, a médica aponta que todos são difíceis, desde a relação com a família e amigos, a seu primeiro contato com um paciente infectado. “Desde o começo, todos os momentos são tensos. Quando você admite um doente com Covid-19, quando você tem que examiná-lo, quando você chega no plantão. Mas o pior momento foi me deparar com a primeira paciente grave, pois ainda estávamos aprendendo como lidar com essa doença.”

Com a pressão em lidar com pessoas doentes, o medo de contaminar a família ou ser contaminada e com os números de infectados e mortos em ascensão, Edna procura ler livros, assistir filmes e ficar com seus filhos, quando não está na linha de frente. Sobre os cuidados que as pessoas precisam tomar, ela diz: “Não se exponham, se cuidem e cuidem dos seus, pois a forma grave dessa doença é desesperadora”.