A funcionária pública Seyjane Sousa Cruz conta que seu filho de 12 anos faz o uso diário de somatropina, o hormônio responsável pelo crescimento, geralmente usado em crianças que apresentam nanismo. O remédio é caro e custa em torno de R$ 1 mil para cada 30 dias. Por isso, através de uma ação judicial, ela conseguiu que o Estado fornecesse gratuitamente o hormônio.

Porém, nem sempre o governo fornece o medicamento de forma regular. Segundo Seyjane, em determinados meses ela não consegue pegar o medicamento, porque o mesmo está em falta na Assistência Farmacêutica do Estado. “A gente pega o remédio em um mês, daí no outro falta e depois não conseguimos mais repor o retroativo do que faltou. E acontece desse jeito, meu filho fica sem tomar a medicação de forma regular e o remédio não que tem a mesma eficácia”, enfatiza.

Pelo fato da medicação ser muito cara, a funcionária pública justifica que comprar as doses se torna algo inviável, por isso recorreu ao poder público. “Eu como mãe me sinto impotente diante desta situação. Não é que seja um remédio vital, mas é uma questão que atrapalha o desenvolvimento dele, caso não tome, e pode desencadear outros problemas no futuro, como depressão devido à autoestima dele que fica abalada”, desabafa.

Seyjane nem considera o caso de seu filho como um dos mais críticos. Segundo ela, a situação se torna ainda pior para os pais que moram no interior e vem até Palmas acreditando que vão conseguir o medicamento e acabam dando viagem perdida. “Eu tenho a vantagem de morar na Capital. Mas existem casos muitos piores do que o meu. No grupo que eu faço parte teve pais que não conseguiram obter o medicamento porque ele acabou. Geralmente a medicação até chega, mas não é suficiente para todo mundo”, relata a mãe.

Para discutir o problema e lutarem por justiça no cumprimento da demanda, em torno de 250 pais criaram o grupo “Tratamento Hormonal” nas redes sociais.

Inoperante

De acordo com o pediatra Reinaldo Sérgio M. Souza Telles, que também ajuda os pais na causa destaca que a Assistência Farmacêutica do Estado tem um sistema inoperante, burocrático e nem sempre funciona. De acordo com ele, pelo menos 30 medicamentos que são essenciais para a saúde da população, estão em falta. “Pelo menos 250 crianças, na faixa de 8 a 12, precisam do medicamento e estão na fila de espera. No caso das meninas é mais difícil ainda porque o ciclo menstrual vem por volta dos 10 a 12 anos e amadurece a cartilagem do amadurecimento. Se por acaso fechar essa cartilagem do crescimento, não adianta mais a pessoa tomar o hormônio, ou seja, existe uma faixa etária para esse tratamento dar certo e ela deve ser seguida”, explica.

DPE

No mês passado, a pedido da Defensoria Pública do Estado, a Justiça do Tocantins bloqueou R$ 194.644,80 para viabilizar a aquisição e o fornecimento da somatropina que estava em falta. Há uma sentença para que o medicamento seja fornecido, mas ela é sempre descumprida.