Um evento chamado Adoção na Passarela, realizado na terça-feira, 21, no Pantanal Shopping, da capital matogrossense Cuiabá, está gerando polêmica nas redes sociais.

A ação foi organizada pela Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Mato Grosso e pela Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara), com o objetivo de dar visibilidade para crianças e adolescentes de 4 a 17 anos que aguardam por uma família em abrigos.

No entanto, internautas criticaram a iniciativa, sob a alegação de que os jovens foram tratados como "mercadoria" ao desfilarem. O psicanalista e ex-candidato à presidência da República, Guilherme Boulos, considerou a iniciativa como uma perversidade.

Outros compararam o desfile com feiras de animais. "Muito cruel. [As crianças foram tratadas] como se fossem cães produzidos em passarelas. Se fosse um evento para a valorização da autoestima e integração social... mas não. Expuseram-os como objetos", afirmou uma usuária do Twitter. "Virou feira de pet? Que absurdo", disse outro.

No site da OAB do Mato Grosso, a presidente da CIJ, Tatiane de Barros Ramalho, afirmouque o evento finaliza as ações realizadas durante a Semana da Adoção, que incluíram palestras, seminários e recreação.

"Trata-se de uma noite para os pretendentes a adotar poderem conhecer as crianças e os adolescentes. A população em geral poderá ter mais informações sobre adoção e os menores em si terão um dia diferenciado, em que irão se produzir, fazer cabelo, maquiagem e usar roupa para o desfile", explicou a advogada.

De acordo com ela, dois adolescentes, de 14 e 15 anos, foram adotados na última edição do desfile. O E+ apurou recentemente que apenas 14% dos casais que querem adotar no Brasil aceitariam filhos de sete a 17 anos. Fora isso, muitos jovens se preparam emocionalmente para viver sem família ao atingirem a maioridade (leia mais aqui).

Procurada pelo E+, a OAB-MT enviou uma nota com seu posicionamento sobre o ocorrido, ressaltando que "em nenhum momento houve a exposição de crianças e adolescentes".

Além disso, a nota ressalta que a entidade e a Ampara "conclamam a sociedade em geral para uma discussão séria e efetiva sobre o tema para que mais estratégias possam ser adotadas em prol do direito de possibilitar o acolhimento familiar a essas crianças e esses adolescentes".

Confira abaixo a íntegra da nota enviada pela OAB-MT:

"Diante da repercussão do evento 'Adoção na Passarela', realizado pela Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara) e pela Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), as instituições vêm a público esclarecer que:

- Nunca foi o objetivo do evento – parte integrante de uma série de outros que compõem a 'Semana da Adoção' – apresentar as crianças e adolescentes a famílias para a concretização da adoção. A ideia da ação visa promover a convivência social e mostrar a diversidade da construção familiar por meio da adoção com a participação das famílias adotivas;

- Nenhuma criança ou adolescente foi obrigado a participar do evento e todos eles expressaram aos organizadores alegria com a possibilidade de participarem de um momento como esse. A ação deu a eles a oportunidade de, em um mundo que os trata como se invisíveis fossem, poderem integrar uma convivência social, diretriz do Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária. Esse evento, inclusive, ocorre pela segunda vez;

- Crianças e adolescentes que desfilaram o fizeram na companhia de seus 'padrinhos' ou com seus pais adotivos. A realização do evento ocorreu sob absoluta autorização judicial conferida pelas varas da Infância e Juventude de Cuiabá e Várzea Grande, bem como o apoio do Poder Judiciário.

- A OAB-MT e a Ampara repudiam qualquer tipo de distorção do evento associando-o a períodos sombrios de nossa história e reitera que em nenhum momento houve a exposição de crianças e adolescentes;

- Vale destacar que o desfile foi apenas uma das ações da 'Semana da Adoção'. Ao longo dos dias do evento foram realizados também palestras, seminários e recreação para as crianças;

- A falta de interessados na chamada 'adoção tardia' faz com que seja urgente a adoção de medidas como a Semana da Adoção, que tornam público esse problema social. Conforme o Relatório de Dados Estatísticos do Cadastro Nacional de Adoção do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 8,7 mil crianças e adolescentes aguardam por uma família.

- Na edição anterior do evento, realizado em 2016, dois adolescentes, cujo perfil está fora dos parâmetros de preferência da fila de interessados, foram adotados graças ao trabalho realizado, que deu visibilidade à questão. A iniciativa tem sido tão exitosa na forma como aborda o problema que outros Estados realizaram eventos semelhantes, como 'Esperando por você' (ES), 'Adote um Pequeno Torcedor' (PE) e 'Adote um Pequeno Campeão' (MG);

- Por fim, a Ampara e a OAB-MT, realizadoras do evento, agradecem a disposição de todos os demais órgãos e entidades apoiadores, dentre eles o Tribunal de Justiça de Mato Grosso e o Pantanal Shopping, por entenderem a grandeza de sua finalidade e abraçarem, de forma voluntária, a causa da adoção no Estado. Também conclamam a sociedade em geral para uma discussão séria e efetiva sobre o tema para que mais estratégias possam ser adotadas em prol do direito de possibilitar o acolhimento familiar a essas crianças e esses adolescentes."