A Controladoria-Geral da União (CGU) divulgou que o foco da investigação são quatro contratos que previam o aluguel de carros para atender diversas áreas da prefeitura de Palmas,  entre 2014 a 2020, na gestão do ex-prefeito Carlos Amastha (PSB), que renunciou em abril de 2018, com um custo de R$ 20.730.309,41. 
 
Desse montante, R$ 1.457.836,73 são do Fundo Municipal de Saúde, mas os recursos para pagar os contratos, além do dinheiro para bancar o Sistema Único de Saúde, vinha do Fundo Especial do Petróleo e do Salário Educação. Além de auditoria da CGU, diligências de campo, consulta ao COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) também sustentam a investigação dos indícios do crime de lavagem de dinheiro.
 
A decisão do juiz João Paulo Abe revela como funcionou o suposto esquema de desvio de dinheiro da Prefeitura de Palmas na gestão do ex-prefeito Carlos Amastha (PSB) com a locação de carros. 
 
Os contratos foram firmados com a empresa Marca (do empresário Marco Zancaner Gil, prisão temporária de 5 dias), que venceu a licitação da prefeitura de Porto Nacional, após se a única a apresentar proposta no certame que tinha como diretor de licitações e contratos, Douglas Resende Antunes (investigado, alvo de busca). 
 
Essa licitação foi destrinchada pela CGU que apontou dezenas de irregularidades, citadas pela PF na investigação, entre elas, ausência de justificativa do quantitativo de carros e necessidade da contratação, restrição à competição, restrição à competitividade, não utilização de Intenção de Registro de Preços (IRP), ausência de preço de mercado, sobrepreço e superfaturamento.
 
Segundo a apuração, os investigadores depois descobriram que outras empresas aparecem com propostas, mas as datas são depois do pedido de adesão feito pelo governo de Porto. As empresas são Unidas (Palmas Aluguel, do empresário Carlo Ranieri Soares Mendonça, prisão de 3 dias), Disbrava (de Luciano Rosa, prisão de 3 dias) e Localiza (MC Serviços). Esta última, a investigação aponta ser de propriedade de Cleide Brandão, que assumiu como secretaria de Desenvolvimento Econômico e Emprego de Palmas em março de 2014 (prisão temporária decretada de 3 dias).
 
Para a PF, estas empresas são integrantes de um "consórcio oculto", representado pela Marca, e participaram ativamente do processo de contratação daquela empresa pelos órgãos públicos.
 
Para aderir a essa licitação da cidade vizinha, a Prefeitura de Palmas rompeu o contrato com a Locavel, do empresário José Emílio Houat (prisão temporária decretada por 3 dias), que fornecia os carros. No processo, segundo a PF, a gestão de Palmas pediu orçamento à Disbrava e Unidas e as propostas tinha "uma relação constante de 2,3955% de diferença entre elas". A PF concluiu que a justificativa da contratação da Marca, via licitação de Porto Nacional, "contou com orçamentos locais estranhamente alinhados".
 
Entre os contratos, estão um no valor de R$ 1.287.000,00 com a Secretaria de Saúde, do então secretário Luiz Carlos Teixeira (investigado, teve o pedido de prisão negado pelo juiz), R$ 6.083.400,00 de Planejamento e Gestão, do então secretário Adir Gentil (prisão temporária de 5 dias decretada), e R$ 604.200,00 da então secretária Berenice Castro. Ela é irmã do vice-governador Wanderlei Barbosa e teve o pedido de prisão negado pelo juiz. A PF aponta que a forma de adesão acabou replicada para outros órgãos, como as secretarias de Secretaria Municipal de Acessibilidade, Mobilidade, Trânsito e Transporte, no valor de R$ 9.259.800,00 (179 veículos) e ainda pela Secretaria de Infraestrutura, estimando mais de 20 processos de adesão e contratos.
 
De acordo com a decisão, a investigação descobriu que a mesma empresa mantinha contratos de aluguel de carros com Porto Nacional, Palmas, e órgãos estaduais no Tocantins e no Maranhão, mas não teria frota suficiente para atender todas as demandas. A apuração levantou aproximadamente 390 veículos.
 
A partir da análise de contratos da Marca nos estados de Goiás, do Tocantins e do Maranhão, os investigadores apontam que a Marca "jamais poderia ter executado a contento" de fornecer os carros alugados tanto para a Prefeitura de Porto Nacional e para a Prefeitura de Palmas. Segundo a investigação, a empresa teve de se utilizar de veículos da Locavel, que havia sido rifada do contrato de Palmas, para cumprir o contrato em Porto Nacional. Na conta da PF os contratos exigiam pelo menos 823 carros nesses contratos e a empresa tinha registrado 390 em seu nome.
 
A PF cita a existência de uma planilha, existente em processo do Tribunal de Contas do Estado (TCE) com 682 pagamentos à Marca que soma R$ 33.654.793,37 reais. Os investigadores acreditam que são outros processos e contratos ligados diretamente ao contrato investigado, o que justificou a operação desta terça-feira, 21. Segundo a PF, o TCE concluiu que houve superfaturamento na contratação ao comparar os processos com o de outros estados.
 
A Policia Federal ilustra o superfaturamento ao mostrar outro contrato firmado pela Prefeitura de Palmas já em 2018, quatro anos após a contratação suspeita, com valores 40% mais barato. Um dos exemplos litados, um veículo tipo 'hatch', contratado em 2014 por R$ 1.850,00, saiu contratado novamente por R$ 1.104,10.
 
Informações coletadas pelo Departamento de Polícia Federal, citadas na decisão apontam para "a efetiva participação" de Claudio Schuller e Christian Amorim "na negociação pelo aumento do percentual a ser repassado para os gestores envolvidos, de 10 para 16% do valor do contrato". Para a PF, o fato coloca os dois gestores em destaque no esquema e aproxima o ex-prefeito Amastha "dos fatos delitivos, dada a relação de confiança e de proximidade que entre eles existia." Essa transação teria ocorrido quando vazou a abertura da investigação e o contrato com a Locavel sofreu redução de valores e depois um reajuste.
 
Segundo a PF, o ex-chefe de gabinete de Amastha, Alessandro Brito Barbosa, seria um dos principais operadores financeiros do ex-prefeito, e fez diversos depósitos na conta do político. O policial Gleydson Ranyere teria tomado parte em "atos destinados ao recebimento indevido de valores, e em atos supostamente qualificados como lavagem de capitais". Segundo a PF, entre 2014 e 2107, ele transferiu pelo menos R$ 350 mil apontados como suspeitos pelo COAF e comprou pelo menos três imóveis e se tornou sócio do balado bar Coronel's Grill, além de carro de luxo, como MMC/Pajero 4x4 Hpe.
 
A decisão do juiz João Paulo Abe autoriza a prisão temporária por 5 dias dos ex-secretários Adir Cardoso Gentil, Christian Zini Amorim e Cláudio de Araújo Schuller e do empresário Marco Zancaner Gil. Também autoriza a prisão temporária de três dias dos empresários Luciano Valadares Rosa, Carlo Raniere Soares Mendonça, José Emilo Houat e Cleide Brandão Alvarenga, (também ex-secretária municipal de Desenvolvimento Econômico) na gestão do ex-prefeito Carlos Amastha (PSB). O ex-prefeito é alvo de busca e apreensão.
 
Outros investigados tiveram a prisão temporária pedida pelos policiais, mas negado pelo juiz: Públio Borges Alves (ex-procurador), Otoniel Andrade Costa (ex-prefeito de Porto Nacional), Douglas Resende Antunes (ex-pregoeiro), Luiz Carlos Alves Teixeira (ex-secretário de saúde e infraestrutura) e Berenice de Fátima Barbosa de Castro Freitas (ex-secretária de Educação). Para o juiz, faltaram requisitos que autorizassem a prisão desses suspeitos.
 
O ex-prefeito se defendeu em vídeo no qual critica a operação “criminosa” da PF e diz que nunca vão pegar “alguma falcatrua” dele com dinheiro do povo de Palmas.
 
O JTO tenta contato com a defesa dos alvos. As manifestações serão acrescentadas nesse espaço.
 
São alvos de busca e apreensão:
Carlos Amastha (ex-prefeito, autorizou a contratação)
Adir Gentil (ex-secretário de Planejamento e Gestão)
Christian Zini Amorim (ex-secretário de Infraestrutura e também de de Acessibilidade, Mobilidade, Trânsito e Transporte, aderiu à ata)
Publio Borges Alves (ex-procurador-geral, autorizou a contratação)
Pedro Cursino de Oliveira (procurador municipal, opinou pela rescisão contratual e punição à Locavel)
Brenno de Souza Ayres (advogado, representante da Locavel, apontado como negociador com Adir e agir para evitar a rescisão)
Gleydson Ranyere Alves Barbosa (chefe de segurança institucional, apontado como participante)
Alessandro Brito Barbosa (chefe do gabinete do então prefeito, apontado como participante)
Claudio de Araujo Schuller (ex-secretário de Finanças, membro do grupo gestor, autorizou as contratações)
Luiz Carlos Alves Teixeira (ex-secretário de saúde, aderiu à ata)
Berenice de Fátima Barbosa C. Freitas (ex-secretária de Educação, aderiu à ata)
Otoniel Andrade Costa (ex-prefeito de Porto, realizou a licitação investigada)
Douglas Resende Antunes (pregoeiro e diretor de licitações e contratos de Porto nacional)
Marco Zancaner Gil (dono da Marca)
Paula Zancaner Gil (não identificada na decisão)
Luciano Valadares Rosa (dono da Disbrava)
Carlo Raniere Soares Mendonça (dono da Unidas)
Cleide Brandão Alvarenga (dona da Localiza)
José Emilio Houat (dono da Locacel)
 
Empresas
Disvrava Distribuidora de Veículos
Marca Representações Comerciais
Palmas Aluguel de Carros
MC Serviços
Locavel Serviços
Garagem Central da Prefeitura de Palmas