O segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em Goiás bateu recorde com 58,4% de abstenções, um total de 122,1 mil inscritos. O número segue a tendência do primeiro dia de prova, que ocorreu no domingo passado (17). Na data, das 209,3 mil pessoas que confirmaram a inscrição, 112,9 mil (54%), se abstiveram. No Brasil, 55,5% das 5,5 milhões de pessoas que fizeram a inscrição na prova não compareceram para realizá-la neste domingo (24). No primeiro dia a abstenção no País foi de 51,5%.

Em 2019, a abstenção no segundo dia de provas em Goiás foi de 27,2%. A última vez que o número ultrapassou os 30% foi em 2017, quando chegou a 32%. Os estudantes que fizeram a prova nesta segunda etapa do Enem, assim como no primeiro dia, notaram o esvaziamento das salas. “Na minha sala tinham 19 pessoas presentes e 21 ausentes”, conta Karen Rodrigues, de 17 anos. A estudante Jade Gabrielly, de 18 anos, relata que na sala dela, onde havia 50 pessoas inscritas, apenas 21 compareceram no segundo dia do exame. “Semana passada foram 23 e agora caiu para 21”,relata.

Apesar do esvaziamento das salas de prova, O POPULAR, em cooperação com a Rádio CBN, acompanhou a abertura dos portões no início da tarde deste domingo e um pequeno congestionamento e aglomerações foram formadas na porta de universidades às margens da BR-153. No meio da tarde, a reportagem esteve na Praça Universitária e o fluxo de saída dos inscritos ocorreu sem aglomerações. As pessoas saíram aos poucos e todas usavam máscaras.

Proteção

No geral, os estudantes ouvidos pela reportagem afirmaram que se sentiram satisfeitos em relação às medidas de proteção adotadas pelo governo federal para conter a disseminação do coronavírus (Sars-CoV-2). Dentre as medidas instituídas pelo Ministério da Educação (MEC), estavam a redução da quantidade de participantes dentro das salas de aula e o uso obrigatório de máscara e álcool em gel. As abstenções contribuíram para que as medidas de distanciamento fossem respeitadas.

“Na minha sala todo mundo usou máscara e o distanciamento foi respeitado. Não enfrentei aglomeração em nenhum momento”, conta o estudante Guilherme Marques, de 17 anos, que afirma não ter ficado com medo de se infectar com a Covid-19 na hora de ir fazer a prova. Entretanto, alguns estudantes reclamaram da falta de álcool em gel nas salas. “Na minha não tinha e eu acabei me esquecendo de levar. Fez falta”, diz Isabella Simões, de 16 anos.

A mãe de uma estudante da 2ª série do ensino médio que foi fazer a prova relata que também não ficou com medo de a filha se infectar com a Covid-19 indo comparecendo ao exame. “A gente confiou que aglomerações não iam acontecer porque contávamos que muita gente não iria participar. Minha filha estudou muito em 2020 e não podia perder esta prova. Ia fazer de qualquer jeito”, explica a funcionária pública Maria Edivan, de 52 anos.

Desempenho

A estudante Rafaela Salvador, de 24 anos, conta que apesar de necessário, o uso de máscaras atrapalhou o rendimento dela na prova. “É muita coisa para ler. Por conta da pandemia, não pudemos usar ar condicionado neste calor e acabamos suando muito só com a ventilação natural. Com algumas horas de prova isso acabou me deixando muito incomodada e tirou minha concentração. Senti que meu rendimento caiu”, revela.

Já Adriney dos Santos, de 17 anos, diz que a pandemia da Covid-19 e o ano atípico de 2020 a atrapalharam na hora dos estudos e também da realização da prova. “Não consegui me preparar direito devido a tudo que aconteceu ano passado. Fiquei com meu emocional abalado e também mais ansiosa na hora de vir fazer as provas. Me senti insegura. Não sei se me saí tão bem quanto poderia”, afirma com chateação.

MEC

Durante a tarde deste domingo, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse que a previsão de abstenção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi eficaz e afirmou que caso o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) tivesse contratado espaços para todos os inscritos, poderia ter tido g um gasto excessivo de verba pública.

Entretanto, tanto no primeiro quanto no segundo dia de provas, estudantes relataram aglomerações nas portas das instituições de ensino onde houve a aplicação do exame em locais como Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo.

 

Prova não citou coronavírus

O segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), voltado para as questões de Matemática, Química, Física e Biologia, não teve nenhuma questão a respeito do coronavírus (Sars-CoV-2) como, por exemplo, assuntos relacionados à pandemia e vacinação. A única questão que citava um vírus na prova falava do HIV, que causa a Aids. 

O professor de Química do Colégio Prepara Enem, Saulo Godoy, diz que o fato de o assunto não ter sido abordado não surpreendeu. “Não estávamos esperando porque eles costumam fugir de assuntos polêmicos que envolvem o governo”, explica. Ainda em Biologia, foram abordados temas como o tratamento de câncer e o impacto do derramamento de óleo na Baía de Guanabara, no Rio.

Em Química, as perguntas foram mais ligadas à teoria do que aos cálculos. A matéria contou com muitas questões ligadas à química ambiental. “Achei uma prova bem conteudista e difícil. Apesar de os assuntos não serem novos, estavam formulados de uma maneira complexa. Os enunciados eram longos e isso acaba desgastando muito os estudantes”, explica Godoy. 

Em Física, a teoria também prevaleceu sobre os cálculos. “Entretanto, achei a prova mais fácil do que nos outros anos. As questões estavam mais simples e o conteúdo era aquele que foi ensinado dentro de sala de aula. Tive uma aluna que me relatou que achou a prova bem mais tranquila do que ano passado”, conta o professor de Física do Prepara Enem, Carlos Royal.
Em Matemática, foram abordados temas como geometria, fração, conversões de unidades de medida, dentre outros. Além disso, tiveram diversas questões que usaram a Matemática aplicada na vida real como, por exemplo, o cálculo de quantas pessoas existiam em uma manifestação. 

O professor de Matemática Paulo César, conhecido como PC, afirma que a prova estava dentro do esperado. “Tivemos aquelas questões que já sabíamos que iam cair, mas também tivemos algumas novidades na disciplina. Teve uma questão sobre inequações modulares que nunca tinha caído antes”, esclarece o professor. 

Entretanto, PC afirma que os inscritos que não estudaram e não se dedicaram ao longo do ano, devem ter tido dificuldades para concluir as questões de Matemática. “Foi uma prova bem elaborada e que exigia leitura. Quem não estudou de verdade acabou não se dando bem”, finaliza. 

 

Esvaziamento afeta vendas 

A grande evasão no segundo dia de aplicação das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste domingo (24), em Goiás, foi sentida pelas pessoas que aproveitaram a oportunidade para vender produtos para os estudantes na entrada e saída dos locais de prova.
O vendedor de salada de frutas Rafael Felício, de 33 anos, que estava com o carrinho posicionado em frente a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), na Praça Universitária, relata que comercializou poucas unidades do produto ao longo do dia. “Não vendi nem um terço do que trouxe. Veio muito pouca gente fazer a prova”, relata.
 
Rafael explica que já trabalhou em outros anos vendendo sala de frutas na porta de locais de prova do Enem e sempre terminava o dia com boas vendas. “Quando não acabava tudo, chegava bem perto.”
Esta foi a mesma realidade encontrada pelo vendedor de água mineral, João Firmino, de 44 anos. Ele, que também estava nos arredores da Praça Universitária, trabalhou no primeiro dia de provas do Enem e diz que o movimento também foi fraco. “De domingo passado (17) para cá um monte de vendedores já desistiu de vir. Da hora que os portões abriram para o horário que o pessoal foi liberado, o único vendedor que permaneceu fui eu”, relata.

O motorista de aplicativo Odair Fernandes Júnior, de 27 anos, relata que durante todo o domingo fez apenas uma corrida em que o passageiro estava indo para a prova do Enem. “Foi frustrante. O pessoal do aplicativo tinha avisado a gente que este seria um dia bom. Ficamos posicionados em locais estratégicos, mas não rendeu nada”, relata.