Estadão Conteúdo
Especialistas em infectologia e virologia viram com preocupação a declaração da chefe do programa de emergência da Organização Mundial de Saúde (OMS), Maria van Kerkhove, de que a transmissão do novo coronavírus por pacientes assintomáticos é praticamente incipiente.
A declaração foi dada na segunda-feira, e nesta terça-feira, 9, foi objeto de comentário por parte do próprio presidente Jair Bolsonaro, em reunião do Conselho de Governo, como uma boa notícia, caso comprovada, pois poderia ensejar a abertura mais rápida do comércio e das demais atividades econômicas.
Nas redes sociais, perfis de apoiadores do presidente também bateram bumbo com a declaração. Mas especialistas se preocupam, porque consideram que, fora do contexto, a declaração da especialista da OMS pode levar a medidas equivocadas.
Para o biólogo Átila Iamarino, essa conclusão depende de uma testagem em massa e do que se chama de rastreamento ativo de contágio, duas coisas praticadas de forma muito precária no Brasil. O rastreamento ativo significa as autoridades de saúde refazerem os contatos de cada paciente para tentar precisar o momento, o local e o vetor da transmissão do novo coronavírus.
Só dessa maneira, diz ele, se poderia atestar com segurança que os indivíduos assintomáticos de fato não transmitem a Covid-19 numa proporção que requeira seu isolamento.
O médico infectologista David Uip demonstrou cautela com as conclusões e disse que não conhece o estudo em profundidade, mas que a relação dos assintomáticos com a transmissão do novo coronavírus está sendo estudada em grupos que ele coordena, como o da Universidade do ABC.
Outra distinção importante que a declaração da especialista da OMS não fez foi entre indivíduos assintomáticos e pré-sintomáticos. No caso dos que já foram infectados pelo vírus e ainda não desenvolveram os sintomas, mas virão a fazê-lo em alguns dias, não se tem tanta certeza quanto a se o contágio também é raro.
Bolsonaro, que fez uma fala estranhamente polida, contida e estudada na reunião, que teve trechos transmitidos pela TV Brasil, frisou que a conclusão a respeito dos assintomáticos ainda não é definitiva, mas que, caso seja comprovada a incidência menor de transmissão nesses casos, isso possibilitará o fim mais próximo de medidas de restrição à circulação e ao funcionamento da economia.
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