Um relatório sigiloso da Polícia Militar que a TV Anhanguera e o Jornal do Tocantins tiveram acesso nesta sexta-feira, 11, aponta que 65 pessoas morreram no Tocantins em confrontos policiais entre junho de 2019 e outubro de 2021. O dado indica uma média de cerca de 2 mortes mensais nos três anos.

O relatório consta em uma comunicação da PM para a Polícia Civil em que solicita informações sobre desfecho de investigações sobre as mortes, alegando que houve, em tese, atuação de equipe da polícia militar durante o serviço operacional que levou aos óbitos.

O documento revela que 14 das 65 mortes são de pessoas ainda não identificadas. As mortes são investigadas na Polícia Civil e em inquérito militar instaurada pela Polícia Militar (PM). 

O ano de 2020 foi o mais letal com 28 vítimas, sete a mais que 2019.

No ano passado houve 16 pessoas mortas após intervenções policiais, número abaixo do ano de 2020, o mais letal da contagem, com 28 vítimas, sete a mais que 2019.

Também segundo o relatório, em 2019, das 21 mortes, cinco ocorreram em Palmas.  Um dos casos dentro destas estatísticas exposta no relatório são as mortes de Adagilson Taveira Bezerra, de 24 anos, e Bryan Felipe Inomata, de 27 anos. Os dois morreram em uma ação da polícia na capital, em 21 de novembro de 2019.  Na época, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que os jovens eram investigados em crimes como tráfico de drogas e homicídios e teriam reagido à abordagem. 

A mãe de Bryan Felipe Inomata, a agricultora Sandra Jane Inomata, desde a época do crime contesta a versão da SSP. Ela acusa a polícia militar de ter executado os jovens. 

Nesta sexta-feira, 11, em entrevista ao Jornal do Tocantins, a agricultora lamenta que as investigações não tenham avançado e afirma que a polícia mantém o caso ocioso. “A Justiça até agora não fez nada e até mesmo antes do assassinato, nós já havíamos pedido, em outubro de 2019, ao Ministério Público do Estado (MPE) segurança, porque todos nós da família recebíamos ameaças. Todo mundo na casa morreu. Eu escapei porque tinha levado meu carro na oficina, se eu estivesse lá com certeza teria sido executada também”

Sandra frisa que mesmo após mais de dois anos da morte do filho, até agora a Polícia Civil não fez um exame de balística para saber quem atirou no jovem. “Com certeza foi a PM que matou. Inclusive meu filho levou um chute no rosto com uma bota, que estourou o olho. As marcas do coturno ficaram expostas na parede. Meu filho tinha 1m97 de altura, mesmo assim ele foi colocado sentado no chão e executado. Então qual seria a altura do atirador para disparar na cabeça de cima para baixo em uma pessoa que tem 1m97 de altura? Essas outras respostas, a perícia nunca deu para a família”. 

Atualmente morando na África, a agricultora também diz que ela e o filho mais novo precisaram sair do Tocantins, porque tiveram medo serem mortos.  E atualmente, descrente no avanço das investigações e no empenho da Justiça em solucionar o caso, Sandra disse que até agora “só pizza, nada foi feito” e as famílias seguem sem nenhuma conclusão das mortes de Bryan e Adagilson. “Não confio no andar da carruagem, porque se não chegou à conclusão até agora, isso pode ser mascarado e velado daqui para frente. Eu não acredito na Justiça do Tocantins, olha o tempo que meu filho foi assassinado e se nada foi feito até agora é porque tem alguém calando a Justiça. Tem os poderosos que estão silenciando toda a investigação”, acredita. 

Casos no interior chamam a atenção

No geral, Palmas lidera o número de mortes, com 15 registros, seguida por Araguaína (8) e Gurupi (5). No interior, Porto Nacional registra três casos. Entre as cidades com 2 mortes por confronto estão Cariri; Paraíso ; Goianorte; Dianópolis; Lagoa da Confusão; Lagoa do Tocantins e Oliveira de Fátima.

Há registro de um caso em Porto Alegre; Guaraí; Natividade; Formoso do Araguaia, Barra do Ouro e Miracema, cidade que registrou uma tragédia no último final de semana.

A chachina de Miracema 

Nos dias 5 e 6 de fevereiro uma chacina em Miracema, região central do Estado, seis pessoas perderam a vida após a morte do sargento da Polícia Militar Anamon Rodrigues, que estava em serviço na inteligência na cidade. Na manhã de sábado, Édson Marinho, de 37 anos, e Manoel Soares, 67 anos,

foram executados dentro da delegacia de polícia por 15 homens fortemente armados que invadiram o local. Eles eram irmão e pai de Valbiano Marinho, 39, assassinado em casa por suspeita de ter atirado no policial.

Poucas horas depois, morreram assassinados Aprígio Feitosa da Luz, de 24 anos; Pedro Henrique de Souza Rodrigues, de 21 e Gabriel Alves Coelho, de 18 anos. Os três jovens foram mortos com um tiro na cabeça cada um, ao saírem de uma loja de conveniência na mesma cidade. 

Segundo a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia - Núcleo Tocantins (ABJD-TO) a ABJD-TO, nenhum dos três possuíam histórico criminal.