A maior universidade do país, a Universidade de São Paulo (USP), precisa de mudanças. É isso que propõe uma das chapas que pretendem disputar o comando da USP em eleições previstas para 25 de novembro.

A chapa lançou nesta quarta-feira (6) o seu programa com mais de 130 propostas, entre as quais se destaca uma mudança na estrutura central da USP: a criação de uma Pró-Reitoria de Inclusão Social e Diversidade.

O novo órgão se juntaria às quatro pró-reitorias hoje existentes, que têm a função de coordenar e centralizar ações em todas as unidades e nos dez campi da USP, cada uma em sua respectiva área: Graduação, Pós-Graduação, Pesquisa, Cultura e Extensão.

De acordo com o médico Carlos Gilberto Carlotti Júnior, candidato a reitor, a nova pró-reitoria "vai ajudar a coordenar, centralizar e apoiar políticas transversais na universidade para os alunos(as), docentes e servidores(as) que se refiram à permanência estudantil, saúde integral e políticas inclusivas sociais, étnico-raciais e de gênero".

Atual pró-reitor de Pós-Graduação e ex-diretor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, Carlotti encabeça a chapa "USP Viva: Responsabilidade Social, Protagonismo e Excelência".

Ao seu lado, como candidata a vice-reitora, concorre a socióloga Maria Arminda do Nascimento Arruda, ex-diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e coordenadora do escritório USP Mulheres. Para ela, a universidade precisa mudar, "ou terá sérios problemas para manter suas posições no futuro".

Um dos pontos levantados por eles é como as políticas inclusivas (caso das cotas) foram fundamentais para atrair alunos de minorias negras e indígenas e de escolas públicas para a universidade, mas por vezes falharam no acompanhamento e no auxílio à permanência desses estudantes.

"Hoje temos 50% das vagas para alunos de escolas públicas, mas ainda temos desistência e baixa permanência. Precisamos inclusive ter dados consistentes sobre isso para analisar e pensar nas melhores estratégias para manter esses alunos", diz o candidato a reitor.

"Por ser uma pró-reitoria, e não apenas um escritório dentro da Cidade Universitária, estamos falando de uma política de estado, não de governo, que deve se consolidar caso a chapa seja eleita", afirma.

Arruda diz que a iniciativa é pioneira e equipara a USP a outras universidades e instituições de ponta no mundo que veem hoje a inclusão e a diversidade como centrais no ensino e na pesquisa.

"A USP sempre teve um papel de protagonismo e de pioneirismo, ela é uma espécie de modelo. Esperamos que, se a nossa proposta sair vitoriosa, isso tenha um efeito enorme também nas outras universidades brasileiras", diz a candidata a vice-reitora.

"O que nos motivou a concorrer é que sentimos que a nossa gestão é mais preocupada com o diálogo, enquanto a atual é mais administrativa, com decisões tomadas em gabinetes, sem conversar com a comunidade. A universidade precisa também sair um pouquinho do seu mundo interno, de suas atividades, para ir para o mundo", afirma Carlotti.

A nova chapa quer ampliar esse debate com outros setores da sociedade, como a Assembleia Legislativa e o Executivo. "Queremos produzir a cada seis meses um ou dois documentos sobre determinados assuntos e apresentar ao Legislativo, Executivo e à sociedade civil o que a USP pensa, e estabelecer canais contínuos e frequentes com esses agentes", afirma o candidato a reitor.

O programa busca ainda responder a algumas das reivindicações dos corpos docente e discente da universidade. Professores vêm sofrendo com a redução salarial, enquanto alunos enfrentam constantes ameaças aos programas de pós-graduação e aos currículos de graduação.

"A nossa pós-graduação está ameaçada e precisamos nos posicionar. A Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] foi fundamental na ampliação dos programas de pós no país, mas parece que desmontar instituições é mais fácil do que construí-las", afirma Arruda.

Fortalecer as posições da USP enquanto instituição para outros temas centrais da sociedade é também um dos objetivos da chapa, afirma Carlotti.

"Hoje não temos a voz da USP para muitos dos debates que estão em curso. Quando surge alguma polêmica, como um funcionário que se coloca contrário às mudanças climáticas, precisamos que todos os colegas se reúnam para apresentar uma posição diferente à sociedade, com ampla divulgação nos meios de comunicação e que chegue ao público", diz.

A eleição também deve contar com o candidato da situação, o atual vice-reitor, Antonio Carlos Hernandes, professor titular do Instituto de Física de São Carlos, ainda sem definição de vice. Uma terceira chapa deve se candidatar para formar a lista tríplice, a partir da qual o governador do estado escolhe o novo reitor. Os candidatos têm até a próxima sexta-feira (8) para se inscrever.

Nas duas últimas eleições, a chapa da situação teve mais votos e foi eleita. Como regra, o candidato escolhido pela comunidade acadêmica é selecionado pelo governador, mas essa tradição foi rompida em 2009, quando o então governador José Serra (PSDB) preferiu o segundo colocado, João Grandino Rodas.

VEJA ABAIXO ALGUMAS DAS PROPOSTAS DA NOVA CHAPA

- Implementar estratégias para ensino pós-pandemia, como o ensino híbrido, sem substituir o ensino presencial

- Criar políticas que permitam ampliar a presença de mulheres nas instâncias acadêmicas da universidade e bolsas de pós-doutorado com financiamento USP para pesquisadoras com filhos pequenos Criar uma secretaria de apoio para os pesquisadores pós-doutores

- Retomar as obras da Praça dos Museus e das novas unidades da USP, como o campus de Lorena Promover e valorizar atividades de inovação em pesquisa

- Apresentar de maneira transparente os dados de folha de pagamento e arrecadação da universidade aos órgãos públicos

- Criar uma secretaria de sustentabilidade para gerar políticas mais sustentáveis tanto na universidade quanto nas grandes cidades