Após quase dois anos do início da pandemia de Covid-19, as autoridades sanitárias começam a vislumbrar o fim da pandemia em 2022. “Esperamos estar da metade para o fim dessa pandemia”, diz Flúvia Amorim, superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO). Especialistas confirmam o cenário, mas destacam a importância de aumentar a cobertura vacinal no Estado.

Atualmente, Goiás possui apenas 60% da população vacinada com as duas doses ou dose única do imunizante. Flúvia destaca que é necessário atingir pelo menos os 80% de cobertura em 2022. “A vacinação é a melhor estratégia de combate que temos. Nenhuma pandemia até hoje foi eterna e essa também não vai ser”, enfatiza.

Na véspera do Ano Novo, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, emitiu uma nota afirmando que a pandemia pode acabar em 2022. “Estou relativamente otimista em relação ao que estamos vendo pensando na imunidade adquirida e na vacinação. Quero crer que não vamos ter tantos problemas com internações, mas precisamos esperar até janeiro para dizer isso com mais segurança”, diz Alexandre Diniz Filho, biólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), que faz parte do grupo de modelagem da expansão da Covid-19 no estado.

O infectologista Marcelo Daher aponta que casos novas variantes de importância epidemiológica não surjam e a vacinação continue avançando, a tendência é de que o cenário melhore cada vez mais. “Vivemos um cenário mais tranquilo na América Latina do que em outros lugares como os Estados Unidos. Entretanto, isso pode mudar. Não dá para prever.”

Prioridades

Flúvia aponta que no primeiro semestre de 2022, a SES-GO irá focar na vacinação de crianças de 5 a 11 anos. A imunização do grupo com a vacinação da Pfizer foi liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Porém, o Ministério da Saúde chegou a abrir uma consulta pública sobre a vacinação infantil no Brasil. “Ela é segura e eficaz. Milhares de crianças foram vacinadas nos Estados Unidos”, relembra Flúvia.

Além da vacinação de crianças, a superintendente afirma que a pasta também irá focar em resgatar as pessoas que ainda não completaram o esquema vacinal. Em Goiás, de acordo com o Painel da Covid-19, 1,1 milhão de pessoas ainda não tomaram a segunda dose da vacina ou a dose única. “Não adianta tomar a primeira dose e não tomar a segunda. Já estamos na dose de reforço. Essas pessoas formam bolsões de pessoas não vacinadas que são perigosos”, esclarece.

Especialistas concordam que os esforços do poder público devem ser voltados para aumentar a cobertura vacinal da população. “É isso que vai garantir um grau de tranquilidade, especialmente em relação a sobrecarga do sistema de saúde. Ir atrás de quem ainda não se vacinou ou está com o esquema é importante justamente para preservar o sistema”, diz Daher.

Retaguarda

Flúvia explica que apesar de boas expectativas, a SES-GO continua fazendo o monitoramento do cenário epidemiológico do estado constantemente. “Os leitos destinados para a Covid-19 não foram extintos, apenas mobilizados para atender outras demandas. Caso tenhamos aumento de casos, internações e óbitos, eles podem ser mobilizados novamente para o tratamento da doença.”


Mutação do coronavírus segue causando apreensão

Apesar do cenário otimista que 2022 apresenta, a circulação de novas variantes da Covid-19 podem alterar bruscamente o cenário epidemiológico e retardar o fim da pandemia. Quanto mais o vírus circula, maiores são as chances dele sofrer mutações que podem deixá-lo mais transmissível e virulento. Nesse contexto, de novo, especialistas apontam a importância de se aumentar a cobertura vacinal contra a doença. “Precisa ser um esforço coletivo. No Brasil e no mundo todo”, diz Julival Ribeiro, que é infectologista.

A variante ômicron, detectada pela primeira vez em dezembro, preocupa os profissionais da área por ser altamente transmissível. Entretanto, a superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim, acredita que a ômicron possa não causar tantos prejuízos ao sistema de saúde. “Temos observado outros lugares com cenário epidemiológico e cobertura vacinal parecido com o nosso e vendo que os casos têm sido mais leves. Por isso, ela (ômicron) pode não impactar tanto na internação.”

Porém, o infectologista Marcelo Daher aponta que mesmo que a ômicron não tenha dado indícios de estar ligada a casos mais graves da doença, o fato dela ser muito transmissível pode impactar a rede. “Tudo é uma questão de escala. Estamos batendo um milhão de casos da doença por dia no mundo. Se uma porcentagem pequena de grupo tiver gravidade, ainda sim é muita gente.”

Daher chama atenção ainda para o fato de que mesmo que as pessoas não fiquem internadas, elas podem sobrecarregar a rede de atenção primária com sintomas gripais. “Junto com os casos de dengue e influenza, isso se torna uma complicação pois é preciso fazer o diagnóstico diferencial, que demora. Além disso, existe a possibilidade de existirem surtos intra-hospitalares da doença”, explica. 

Goiânia e a região metropolitana da capital também tem enfrentado uma superlotação das unidades de saúde por conta da demanda aumentada. secretária-executiva da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, Luana Ribeiro, também revela preocupação com a sobrecarga do sistema de atenção primária da rede municipal. “Vivemos um momento muito delicado onde precisamos atender pacientes com sintomas parecidos, mas com doenças diferentes. Pedimos colaboração da população.”

Daher destaca que apesar de a variante já ter transmissão comunitária detectada em Goiás, apenas em meados de janeiro será possível saber qual o verdadeiro efeito que ela nos contornos da pandemia em Goiás. “Pode ser que ela seja como a delta, que não teve grandes efeitos. Entretanto, precisamos acompanhar um possível aumento de casos, mortes e internações para saber”, finaliza. 


Agenda para vacinas ainda é um mistério

A rotina vacinal contra a Covid-19 a partir de 2022 ainda não está definida. Atualmente, a indicação do Ministério da Saúde é para que toda a população com mais de 12 anos tome a primeira e segunda dose da vacina, além do reforço. 

A superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim, afirma que nenhuma orientação oficial ainda foi repassada pelo Ministério da Saúde sobre como ficará o calendário vacinal da Covid-19. “Sabemos que pelo menos uma vez por ano as pessoas terão que se vacinar contra a doença”, explica. 

A secretária-executiva da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, Luana Ribeiro, afirma que apesar de a pasta ainda não ter orientações sobre como funcionará a vacinação contra a Covid-19 a partir de 2022, ela já está inclusa no plano de imunização da cidade. “Assim como a vacinação contra a gripe acontece todo ano, ela também já foi incorporada.”

Em Israel, a quarta dose da vacina já está sendo aplicada. Porém, a presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBIm) do Rio de Janeiro, Flávia Barro, acredita que tudo depende da epidemiologia. “Não só a duração da proteção da terceira dose, mas também a evolução da ômicron e de outras variantes que podem escapar ou não das vacinas disponíves”, esclarece. 

O infectologista Marcelo Daher destaca a importância de se continuar desenvolvendo vacinas baseadas nas novas cepas em circulação. “Precisamos trabalhar em vacinas que são capazes de atuar em diferentes variantes. Se ficarmos apenas com imunizantes feitos com base no vírus de Wuhan (onde a Covid-19 apareceu pela primeira vez) vamos ficar enxugando gelo”, esclarece o médico.


Protocolos devem seguir

As autoridades da área de Saúde Pública alertam para o fato de que os protocolos sanitários de proteção devem ser mantidos até que a situação, de fato, esteja mais controlada. “Pensamos em flexibilizar o uso da máscara. Entretanto, veio a ômicron e tivemos que retroceder. Temos que ir fazendo esses ajustes”, explica Flúvia Amorim.

Entretanto, ela acredita que quando Goiás tiver uma cobertura vacinal satisfatória - acima de 80% -, é possível pensar no abandono total dos protocolos. Porém, até lá, o uso de máscara, higienização das mãos e a manutenção do distanciamento social são imprescindíveis. 

O infectologista Julival Ribeiro diz que a manutenção dos protocolos é especialmente importante nos primeiros meses de 2022. “Temos uma variante nova que circula pelo país e não sabemos como ela vai se comportar. Por isso, todo cuidado é pouco.”