A presidente da ONG Casa 8 de Março, Bernadete Aparecida Ferreira, comenta que muitas das mortes de mulheres nas ruas está ligada ao tráfico de drogas, ao preconceito e ao desvalor da vida. “A violência não é só por causa da sociedade, mas também por conta da própria polícia. Essa violência tem se acirrado. Por este motivo, o trabalho dessas mulheres tem diminuído nos pontos. Muitas realizam o programa nos motéis e o contato é feito através das redes sociais. Várias delas são ameaçadas de morte e todas já sofreram violência física”.

De acordo com Bernadete, atualmente em Palmas existem em torno de 30 pontos de prostituição. E para orientar essas mulheres a buscarem ajuda, saúde e respeito, a Casa 8 de Março visita esses locais, priorizando os que têm mais problemas. “Nós focamos nos serviços de saúde e encaminhamos a demanda para os órgãos, mas é um trabalho de formiguinha e o retorno é muito lento”, observa.

A presidente conta que essas mulheres já sofreram muito, principalmente devido à violência. Por isso, quando a ONG as procuram para oferecer ajuda, a abordagem é delicada. “Sempre vamos duas ou três mulheres, no máximo, para fazer a abordagem. Primeiro conversamos com a equipe antes para que não faça perguntas muito invasivas. Focamos nas informações sobre a saúde e trabalho”.

Segundo Bernadete, em alguns casos, as mulheres cis ou trans são encaminhadas para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), onde é realizado o atendimento ambulatorial para aquelas que buscam abstenção. “No CAPS o acolhimento é de até 15 dias. Se elas desejam abrigo, nós tentamos encaminhar para um local seguro. Porém, essas mulheres sofrem muito preconceito. Às vezes ela está com o psicológico bom, outros dias não. Nossa missão é impedir que a violência se propague”.

“Essas pessoas são vítimas, então a mulher que se prostitui, às vezes, não tem nem dinheiro para comer, é algo que elas veem como troca para o seu sustento. Elas são vítimas e precisam ser vistas como alguém que necessita de ajuda. Então nosso trabalho tem a intenção de preservar a vida delas”, encerra a presidente, ao lembrar que em um ambiente onde prostituição, prazer, violência e dor convivem lado a lado, as mulheres prostitutas que tiram seu sustento nas ruas sob tanta insegurança são carentes do respeito a que tem direito qualquer ser humano.

Parte 1 - Na rua que se ganha o pão, também se perde a vida

Parte 2 - Em menos de dois anos, 25 mulheres foram assassinadas no Tocantins

Parte 3 - Defensoria Pública do Estado cria projeto para orientar profissionais do sexo