A importância do cuidado com a natureza se eleva quando percebemos, em número e grau, os impactos sofridos no meio ambiente pelo desenvolvimento, ora desenfreado, tanto urbano quanto rural. Em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nesta quarta-feira, 5, a notícia não é tanto para comemorar, mas para conscientizar. Dentre os principais desafios e soluções para diminuir os problemas ambientais existentes no Estado, a resposta em todos os cantos é a mesma, com palavras diferentes:  a necessidade de um equilíbrio entre o desenvolvimento urbano e econômico e a preservação da natureza.

“Hoje a principal preocupação é como conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente, porque o desenvolvimento gera emprego, renda e um bem-estar, assim como o cuidado com o meio ambiente gera qualidade de vida que é extremamente necessária, então é preciso um equilíbrio”, analisa Fernán Vergara, professor de Engenharia Ambiental na Universidade Federal do Tocantins e pesquisador na área de recursos hídricos.

Para Vergara, o "custo ambiental é equivalente ao custo social". “Em Palmas por exemplo, temos problemas de poluição do ar devido as queimadas no tempo de seca, o que gera problemas respiratórios e tem um custo social muito alto, porque a mesma pessoa que queima e sente a fumaça é a que vai parar no hospital, que demanda despesas com médicos, remédios, horas de trabalho perdidas. Tudo isso afeta a população como um todo”, explicou.

Dados repassados pelo Ministério Público Estadual dão ênfase a essa questão ao revelarem que as queimadas no Estado teve mais de 139.202 mil focos de incêndio em 2018, ranking liderado pelo município de Lagoa da Confusão, seguido do Formoso do Araguaia e Pium. Todos esses incêndios são responsáveis por cerca de 40% das internações hospitalares no período de estiagem decorrentes de problemas ambientais.

Outro problema enfrentado  no Tocantins é a gestão de recursos hídricos, especialmente na Bacia do Rio Formoso , na região Sudoeste do Estado que já passou por períodos críticos de nível da água no último ano e teve a captação de água suspensa durante a estiagem.

Conforme Vergara, um projeto de Gestão de Alto Nível que permite saber a quantidade de água capturada em cada uma das 98 bombas da Bacia, bem como o nível do rio, através de hidrômetros instalados para impedir a escassez da água e prevenir efeitos colaterais no ecossistema.  O projeto é desenvolvido há mais de dois anos pelo Instituto de Atenção às Cidades da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Ministério Público Estadual (MPE), Tribunal de Justiça do Estado (TJ-TO), Naturatins, produtores da região e o Comitê de Bacia Hidrográfica do Tocantins (CBH-TO).

“Tendo esse monitoramento em tempo real, de 15 em 15 minutos, fica mais fácil gerir e ver quanto está sendo captado em cada outorga autorizada, e também se o Rio está chegando em uma situação crítica, mesmo que tenha uma margem de erro, já temos dados que ajuda os órgãos competentes a fazerem a melhor gestão possível e a população a ter um maior conhecimento e cuidado com relação a isso”, completa.

Participação social

Mas a preservação do meio ambiente não é uma responsabilidade somente dos órgãos públicos, mesmo que a gestão e administração dos recursos naturais sejam administrados por eles. “O importante para qualquer pessoa é entender que os corpos hídricos são ambientes vivos e que garantem uma vida não só para o ecossistema da bacia hidrográfica, mas para todos nós que bebemos água e precisamos dela. A Bacia Taquaruçu, por exemplo, abastece 80% de Palmas, então se há um problema de abastecimento, com o desmatamento ou captação indevida, pode comprometer a água da cidade, tudo está muito conectado”, frisa o pesquisador, lembrando que a população precisa se envolver e entender a relação entre “fogo na vegetação e o ar que ela respira, a degradação do rio com a água que ela bebe”.

Outras situações que precisam de atenção de acordo com o especialista são os problemas do desmatamento que afeta vegetação, condições climáticas e acaba levando a mais alagamentos nas cidades na época de chuva e um período mais agressivo de calor na estiagem, bem como a importância de legislações ambientais e fiscalização constante que trarão mais segurança e equilíbrio. “Não é para impedir o desenvolvimento econômico, o agronegócio, mas para ordenar esse tipo de atividade, para que se utilize dos recursos naturais que são da sociedade, de uma forma mais sustentável e reduzir os danos”, ressalta.

Para o engenheiro agrônomo e especialista em desenvolvimento urbano e ambiental, Ramis Tetu, a solução também passa pela participação social. “Para melhorar, precisamos transformar uma gestão ambiental baseada em comando e controle, tem que pedir permissão ao governo, por uma visão de governança, reunindo todos os setores, governo, mercados, empresas, instituições, academia e também a população para fazer um pacto em torno da preservação do meio ambiente como um todo”, afirma.

Economia verde

Segundo Tetu, a natureza é muito poderosa e pode ajudar a turbinar o aspecto social e econômico nas cidades. “Para isso precisamos de uma visão de economia verde, que usa o meio ambiente para turbinar o PIB [Produto Interno Bruto], com bioprospecção, turismo e muito mais que os recursos naturais no Tocantins tem a oferecer e pode ser usado, mas acaba sendo intocada pela gestão, o que é tão ruim quanto o abuso dos recursos naturais”, comenta.

Para o especialista, o Estado tem muito potencial de bom uso dos recursos naturais, tanto para sua preservação, quanto para melhoria da economia local. “Podemos ter o turismo social, náutico, também uma vasta quantidade de espécies de animais que poderiam ser observados, como a onça, as espécies de pássaros em que Palmas são mais numerosos que na Europa Inteira, os Estados Unidos hoje ganham US$ 50 bilhões por ano com a observação dessas aves e o Tocantins sequer despertou para o tema”, afirma Tetu.

Também é preocupante, para o engenheiro, a falta de políticas para valorização dos animais que também são seres importantes para o ecossistema. “Ainda mito comum a caça predatória no Tocantins, sendo que estamos indo para um processo de extinção de vários mamíferos, não temos uma política sobre as onças que vivem morrendo, também na região urbana não há um cuidado com os animais de rua, isso tem a ver com saúde humana”, frisa Tetu.

Conforme o especialista, a solução é migrar de um sistema reativo para um preditivo. “A gestão hoje é reativa, setorial, pontual e precisamos mudar para uma gestão preditiva que antecede problemas, integrada, com todo mundo junto, sistêmica, olhando para todo o sistema e não só para um único problema. Sustentabilidade simplesmente é cuidar de água, solos, clima, bichos, plantas e gentes tudo junto, ao mesmo tempo”, complementa.

Confira segunda matéria desta reportagem sobre programas e fiscalizações contínuas que pretendem reduzir danos ambientais e dar mais qualidade de vida e a terceira sobre um projeto do MPE-TO que visa a garantia da implantação de aterros em 129 municípios