Para muitas mulheres, o período menstrual é o momento mais crítico do mês. Oscilações de humor, fome excessiva e cólica costumam ser as principais queixas. No entanto, dores muito intensas que impedem a mulher de viver sua rotina diária precisa ser alvo de atenção para a detecção precoce e prevenção da endometriose.

De acordo com Francielle Batista, ginecologista e obstetra, a teoria principal da endometriose é que pequena parte da menstruação, que deveria sair toda pela vagina, reflui pelas trompas e cai no abdômen. “O local não é preparado para recebimento de sangue e são formados focos que geram um processo inflamatório com o passar do tempo e acentuam as dores associadas ao período menstrual”, afirma.

A partir de cólicas fortes e após anos desde a primeira menstruação, ocorrida precocemente, é que Marina Eduardo Assunção, 22 anos, foi encaminhada para uma especialista na doença. Ela conta que antes dos seus 18 anos, quando soube da doença, nenhum outro médico sequer tinha cogitado o diagnóstico.

“Recebi o laudo após uma médica resolver me passar uma ressonância magnética, que detectou o problema. Os médicos sempre disseram que era normal ter cólica, mas as que eu sentia eram absurdas, ficava incapacitada o dia todo. Era um dia de cama tomando remédios para dormir e usando bolsa térmica quente”, conta.

Por recomendação médica, Marina toma um complexo de hormônios que bloqueia a menstruação e faz acompanhamento médico de seis em seis meses. Se pudesse aconselhar, ela diz que incentivaria mulheres que passam pela mesma situação a não desistirem, ainda que o tratamento seja desagradável, pois é uma questão de saúde.

“Só o fato de não ficar incapacitada quando chegam ‘aqueles dias’ do mês já é um alívio muito grande porque não é uma simples cólica e não ter que parar sua vida só porque você está com dor é uma recompensa muito grande. Então continue seguindo o tratamento médico”, disse.

Estresse

Conforme a ginecologista, a doença é multifatorial, pois as causas podem envolver fator genético, dietético, hormonal, ausência de exercícios físicos e o estresse, que exerce bastante influência no surgimento da doença.

“Existe até uma máxima que aquela mulher que controla todo o seu dia a dia é mais propensa a ter endometriose. Quanto mais a mulher se irritar com o seu cotidiano, maior o risco de desenvolver a doença porque o nível dos hormônios do estresse são maiores”, aponta.

A prevenção da endometriose é possível e o tratamento pode ser feito com uso de medicamentos que cessem a menstruação ou até mesmo por meio de cirurgia de retirada dos focos, quando se trata de casos avançados em que até mesmo a evacuação e relações sexuais são dolorosas e o acúmulo de sangue chegou a um nível crítico.

“Se logo que a menina começa a menstruar é detectado que ela tem ciclos de sangramento dolorosos, vai para o hospital, fica acamada, o ideal é que se faça o bloqueio da menstruação com o uso do anticoncepcional contínuo para que evite o processo inflamatório prolongado e a evolução da doença. Quanto mais cedo for identificada melhor, pois as sequelas serão menores”, comenta.

Infertilidade

Mesmo para uma mulher jovem, receber a notícia de que está com endometriose não foi tarefa fácil para Marina. “No dia que descobri cheguei a chorar por causa da probabilidade de ser infértil. Com 18 anos as mulheres não pensam em serem mães, mas quando soube da possibilidade de não ter essa opção eu fiquei chocada e muito triste”, relembra.

Segundo a ginecologista, o principal mito acerca da doença é de que ela causa infertilidade, porém, chegar a esse nível depende de alguns fatores.

“Se a mulher tem uma endometriose inicial ela não será infértil. Já no caso de uma endometriose profunda, com vários focos, com muitos anos de evolução, sim. A doença não necessariamente gera a infertilidade, isso depende de onde ela está e da quantidade desses focos. Quando a mulher utiliza medicamentos para cessar a menstruação, além do controle da dor, dificilmente desenvolve esse problema”, finaliza.