Atualizada às 9h23.

O chacareiro Elmi Caetano Evangelista, de 73 anos, acusado de dar apoio à Lázaro Barbosa de Souza contra cerco policial em Cocalzinho de Goiás em junho, foi solto na madrugada deste sábado (17) após decisão da Justiça. Ele estava detido há 23 dias no presídio de Águas Lindas de Goiás e era a única pessoa presa neste caso.

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Evangelista vai seguir aguardando o julgamento marcado para novembro em liberdade agora, mas com uso de tornozeleira eletrônica. A juíza Luciana Oliveira da Silveira acatou o argumento do advogado Ilvan Barbosa, que defende o chacareiro, e destacou que o réu é idoso e tem residência fixa.

A prisão foi no dia 24 de junho, um dia após a polícia afirmar que Evangelista impediu a entrada deles em sua chácara para procurar Lázaro. Isso levantou suspeitas da força-tarefa, que no dia seguinte, após nova investida na propriedade, viu um vulto que posteriormente descobriu-se se tratar de Lázaro. O caseiro também foi preso na ocasião, admitiu que era o foragido na chácara, que ele estaria ali desde o dia 18 e que o patrão o protegia.

Em audiência de custódia, Evangelista negou as acusações. Diz que não sabia que Lázaro se escondia lá e que permitia a presença da polícia em sua propriedade, mas que no dia citado pelos policiais ele só havia pedido que esperassem um pouco enquanto ele cuidava de umas galinhas. No dia da prisão, ele não respeitou um bloqueio policial na região e tentou chegar em sua chácara sem saber que já estavam procurando por ele para prende-lo.

Dois argumentos principais embasavam a prisão de Evangelista, a garantia da ordem pública, uma vez que Lázaro inda estava solto na época, e o porte ilegal de armas modificadas. Na chácara foram encontradas duas espingardas de chumbinho adaptadas para calibre 22. Entretanto, Lázaro foi morto no dia 28 após, segundo a força-tarefa, ter reagido a uma abordagem perto da casa da ex-mulher, em Águas Lindas, a 19 quilômetros da chácara de Evangelista. E laudo da Polícia Técnico Científica apontou que as duas armas não funcionavam e estavam em péssima conservação.

“Como bem ponderou a Defesa, finda a investigação, foi constatada a inaptidão das armas de fogo apreendidas. Ademais, houve a captura e morte de Lázaro Barbosa de Sousa, situação que elidiu a preocupação de outrora quanto à realização de novos atos de colaboração de Elmi com aquele criminoso e, portanto, o risco de sua liberdade à ordem pública”, escreveu a juíza na decisão assinada no dia 16.

Porém, o entendimento da Justiça vem duas semanas após os fatos citados, uma vez que Lázaro foi morto no dia 28 e o laudo ficou pronto no dia 30 e foi anexado ao processo judicial no dia 6, um dia antes de uma outra decisão que manteve a prisão de Evangelista na época.

A juíza também também apontou não haver provas de que as armas e munições encontradas na chácara seriam objeto de receptação, conforme chegou ser cogitado pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) no processo. O titular da Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), Rodney Miranda, no dia da prisão, deu entrevista afirmando que uma das armas havia sido roubada por Lázaro em outro local.

“No que concerne à suspeita de que as armas e munições seriam objeto, também, de receptação, no mesmo contexto fático, mencionada no parecer do Ministério Público, a mera probabilidade, desacompanhada da demonstração dos indícios de autoria, não é suficiente para respaldar, no bojo da ação penal em tela, a prolongamento da medida extrema da segregação cautelar”, afirmou Luciana.

A magistrada cita também como argumentos favoráveis para a soltura de Evangelista, o quadro de saúde dele, a idade, ter residência fixa, ocupação lícita e sem outras passagens pela “seara criminal”. Também em entrevista, Rodney afirmou que o chacareiro era um estelionatário complicado.

O advogado Ilvan Barbosa disse que Evangelista estava sendo usado pela polícia como um bode expiatório e que se encontra bastante abalado, física e psicologicamente. Após a soltura, o chacareiro vai passar por exames médicos para ver como está sua saúde, segundo a defesa.

Barbosa também diz que conseguiu durante a tramitação do pedido de soltura, que correu em sigilo na Justiça, provar que Evangelista não estava sendo investigado em nenhum outro inquérito nem respondia a outros processos criminais, o que reforçou a tese de que ele poderia aguardar o julgamento em liberdade.