Luana Fernanda
Mulher, funcionária pública, 46 anos (identidade preservada a pedido), conta que se mudou para Palmas, vinda do Nordeste, há muitos anos. Em Palmas e longe da família, a solidão foi a porta de entrada para uma relação abusiva. “ O rapaz com quem me envolvi era o típico sedutor e aproveitador. Tornei-me o trampolim financeiro e social, pois apesar de nova na cidade, como tinha formação superior, consegui um emprego que remunerava bem. Ele não tinha trabalho fixo, vivia de bicos”, conta a servidora.
O abuso começou quando o namorado passou a viver completamente às suas custas, incluindo nas atividades sociais. “Em troca, eu era traída. Ele pegava meu carro com tangue cheio e usava meu dinheiro para pagar saídas com outras mulheres. Ele sequer disfarçava, porque isso era normal, ‘ele era homem’ e ‘homem’ faz essas coisas mesmo”, prossegue. A servidora conta também que se sentia péssima, mas não conseguia sair da relação abusiva. “A gente sente que as coisas estão erradas, que não estamos felizes, que não é aquilo que queremos para nossa vida, mas não conseguimos sair. É nisso que consiste o poder do abusador”, opina. Foi preciso a intervenção da família, especialmente da mãe, para que ela se libertasse da influência do namorado.
violência
Os abusos contra mulher podem ser configurados como uma simples cantada grosseira até o assassinato. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a média de assassinatos de mulheres chega a 4,8 para cada grupo de 100 mil mulheres. O Mapa da Violência de 2015 aponta que, entre 1980 e 2013, 106.093 pessoas do sexo feminino foram mortas simplesmente por serem mulheres. E as negras são ainda mais violentadas. Apenas entre 2003 e 2013, houve aumento de 54% no registro de mortes de mulheres negras, passando de 1.864 para 2.875 nesse período. Muitas vezes, são os próprios familiares (50,3%) ou parceiros/ex-parceiros (33,2%) que cometem os assassinatos.
Tocantins
O mesmo levantamento revela que no Tocantins, em 2015, foram registrados assassinatos de 48 mulheres, com aumento real de 37% em relação ao ano anterior. Já dados da Secretaria Estadual da Segurança Pública (SSP) apontam que desde 2015 até outubro de 2017, 83 mulheres foram vítimas de homicídio, isso em diversas faixas etárias.
A delegada Lorena Josephine reconhece que é inegável o fato de que, embora a legislação brasileira tenha avançado bastante no que se refere à proteção das mulheres vítimas de violência, a taxa de crimes dos quais as vítimas são mulheres é crescente.
A delegada reforça que a violência praticada em âmbito doméstico e familiar pode ser verbal, psicológica e sexual, o que pode existir mesmo entre cônjuges e companheiros, e ainda a violência física, que pode consistir desde agressões leves, que não deixam marcas, até agressões que causam danos permanentes e até a morte. Ela informa que atualmente, o Tocantins possui mais de dez Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher distribuídas em vários municípios.
violência contra a mulher só será reduzida com a educação de homens e mulheres para banir o machismo,
diz delegada
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