Na semana de prevenção à gravidez na adolescência (Lei 13.798/2019), o Tocantins à exemplo do que ocorre em todo o país vem registrando queda no número de adolescentes grávidas. Ainda assim, os índices continuam altos. A realidade nacional aponta que a taxa brasileira é de 68,4 nascimentos para cada mil adolescentes mulheres. Índice superior ao da América Latina que é de 65,5 e ao mundial que é de 46 nascimentos para cada mil adolescentes.

Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, cerca de 930 adolescentes e jovens dão à luz todos os dias no país, totalizando mais de 434,5 mil mães adolescentes por ano. De 2008 a 2018, o número baixou de 721.564 bebês de mães adolescentes para 434.573.

Os números recentes apontam que no Tocantins, do total de 23.853 nascidos vivos no ano de 2019, 4.486 eram filhos de mães adolescentes entre 10 e 19 anos (em 2018 foram 4.977). Em Palmas, no mesmo período, dos 5.207 bebês que nasceram, 593 foram de mães adolescentes (em 2018 foram 620).

Acesso à informação

O médico ginecologista obstetra e especialista em Medicina Fetal, Fábio de Moraes, pondera que mesmo com a redução, a incidência de gravidez na adolescência ainda é muito alta. Para o especialista está faltando informação adequada para essa população. “Um diálogo aberto e transparente e o acesso tanto a informação quanto aos métodos de prevenção é que vão evitar”, pontua Moraes.

Na opinião do médico, a sociedade machista e religiosa não contribui para esse acesso à informação, principalmente, em relação à meninas. “Fala-se muito mais de sexo com meninos do que com meninas. Os pais têm um pouquinho de bloqueio para conversar e essa informação é fundamental para a menina saber como se proteger, e nós vivemos numa sociedade extremamente religiosa. Eu sou religioso e eu brinco muito com as pacientes. Eu falo que o pecado não é namorar, o pecado é engravidar no momento em que não se quer. Então essa informação de como evitar, como se proteger, e não só da gravidez, mas as infecções sexualmente transmissíveis”, reforça.

Pré-natal de alto risco

O médico que também atua como chefe de Medicina Fetal no Hospital e Maternidade Dona Regina ressalta que a gravidez na adolescência por si só é um fator de risco e que como a unidade hospitalar é referência para gravidez de alto risco, acaba realizando vários partos em adolescentes. “Nós já fizemos parto aqui no Dona Regina de crianças de 12 e 13 anos, fizemos várias vezes partos de crianças que deveriam estar brincando ou estudando e estavam aqui na maternidade parindo”, ressalta.

No Ambulatório de Medicina Fetal, que funciona no hospital, o médico pontua que é comum bebês de mães adolescentes nascerem com hidrocefalia. “Todo mundo já ouviu falar de hidrocefalia, que é quando o bebê tem água na cabeça. Porque que esses bebês, muitos deles têm? Pela falta de uma vitamina chamada ácido fólico, que é baratinha e tem na rede pública, e essa vitamina tem que tomar três meses antes de engravidar, e a maioria das pacientes que têm esses bebês são as adolescentes que engravidaram sem planejar”, pondera.

Ele lembra que nem sempre a anatomia da adolescente está preparada para aquela gestação, o que aumenta as chances de uma cesariana, de diabetes gestacional e de pré-eclâmpsia, entre outros. “A gestação na adolescência é obrigatoriamente um pré-natal de alto risco e são poucos os municípios do Brasil que têm o serviço de pré-natal de alto risco diferenciado”, pontua.

O especialista defende que o planejamento é fundamental para evitar uma gravidez indesejada e até mesmo precoce. “A partir do momento em que a paciente adquiriu sua maturidade sexual, que ela já pode engravidar, deve ser conversado abertamente. O máximo de informação possível, justamente para poder prevenir e planejar e engravidar no momento que ela desejar”, ressalta.

Como conversar

Moraes lembra que legalmente os pais são responsáveis pela criação dos filhos e que proibir pode acabar estimulando. Portanto, se não se sentem preparados para conversar sobre o assunto, devem buscar ajuda; assim como os adolescentes não devem se envergonhar em buscar informação. “Identifique dentro do seu grupo familiar, o adulto que você vai ter mais acesso a informação; se é seu pai ou se é sua mãe. E pode falar abertamente: pai, mãe… estou amadurecendo, não sei quando vai acontecer a primeira relação sexual, mas eu quero ter acesso à informação. Eu não quero ser pai ou mãe antes da hora. Então eu quero saber o que eu posso usar para me proteger de doenças e para evitar uma gravidez”, aconselha.

Diante da proposta de conversa desse adolescente, os pais podem recorrer à unidade de saúde mais próxima e buscar apoio junto a equipe multidisciplinar. “Se esses pais não se sentirem preparados, não se sintam constrangidos em pedir o auxílio para quem tem conhecimento para isso, que é a equipe multidisciplinar de saúde da família, que vai poder ofertar esse preparo para esse adolescente, esse jovem que não quer engravidar antes da hora”, conclui.