O juiz Diego Paes Moreira, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, aceitou nesta quinta-feira (16) a denúncia do Ministério Público Federal contra o empresário Wesley Batista, que agora é réu por insider trading. O crime se caracteriza por utilização de informações privilegiadas para lucrar no mercado financeiro.A defesa do empresário tem 10 dias para se manifestar e oferecer resposta à acusação. De acordo com o MPF, Wesley comandou operações de câmbio quando era gestor da Seara Alimentos e Eldorado Celulose, em maio de 2017. Ele e o irmão, Joesley Batista, haviam firmado acordo de colaboração premiada com o com executivos do grupo J&F e com a Procuradoria Geral da República.A delação estava sob sigilo, mas trechos foram vazados em 17 de maio. Joesley gravou conversa com o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu. No diálogo, o empresário disse que “zerou pendências” com Eduardo Cunha e que os 2 estavam “de bem”. Temer comentou: “Tem que manter isso aí, viu”.Depois da divulgação das delações, o dólar teve alta expressiva. Segundo o MPF, empresário lucrou R$69,4 milhões por conta de negócios feitos dias antes. Além disso, relatórios periciais da CVM (Comissão de Valor Mobiliários) e da Procuradoria apontam que o grupo realizou transações atípicas nesta época.ACOMPANHE O HISTÓRICO DO CASO7 de março de 2017 – a gravaçãoJoesley gravou conversa com Michel Temer. No diálogo, o empresário disse que “zerou pendências” com Eduardo Cunha e que os 2 estavam “de bem”. Temer comentou: “Tem de manter isso”, numa frase que depois acabou virando a marca do caso e provocou grande controvérsia. O então presidente da República se explicou dizendo que sua assertiva (“tem de manter isso”) era referência ao seu costume (de fato conhecido) de dizer que as pessoas devem procurar sempre o caminho do diálogo. A Procuradoria Geral da República interpretou de forma diversa: achou que era uma alusão à necessidade de Joesley manter algum tipo de ajuda financeira a Eduardo Cunha e à família do político.10 de maio de 2017 – saída do BrasilJoesley e Ricardo Saud, 1 dos delatores do grupo JBS, entram num jato particular com destino aos Estados Unidos. Ambos tinham permissão da Justiça para sair do país. O vídeo, divulgado pela Política Federal 10 dias depois, escandaliza o país. Sobretudo quando ficou público o apartamento de mais de US$ 40 milhões usado por Joesley em Nova York.17 de maio de 2017 – o vazamentoA conversa entre Temer e Joesley é publicada por Lauro Jardim, no jornal O Globo. Nos dias seguintes, informações sobre o acordo inundam os veículos de comunicação, acrescidas de vídeos da delação na PGR. Nas gravações, Joesley aparece falando com naturalidade sobre como comprava e corrompia políticos com dinheiro. Nas contas dos delatores da empresa, 1.829 haviam recebido propina do grupo. No meio da exposição incessante de relatos de corrupção, a opinião pública é informada que o acordo de delação garantia que os irmãos não seriam presos. A mídia fica inundada de indignação em artigos opinativos e editoriais: como era possível que Joesley e Wesley Batista não estarem presos?18 de maio de 2017 – os rumores de insiderO jornal O Globo publica os primeiros rumores sobre operações de compra e venda atípicas da J&F no mercado financeiro. Em sua coluna (acesse aqui), a jornalista Lydia Medeiros informou: “O mercado financeiro estava morno ontem, com avaliações positivas sobre a aprovação das reformas. Mas, no fechamento, viu-se que a JBS comprou dólares em grandes quantidades. Agora sabe-se a razão”. A suspeita passou a ser replicada em vários jornais, com mais informações, nas semanas seguintes.26 de maio de 2017 – saída de JoesleyJoesley se afasta da presidência da J&F.4 de setembro de 2017 – o áudioO então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, determina investigação para apurar omissão de informação no acordo de delação premiada dos executivos. O anúncio veio após a PGR tomar conhecimento de gravação em que Joesley e Saud conversam sobre atuação do ex-procurador Marcello Miller para ajudar os executivos a fechar a delação. O áudio fazia parte do material entregue pela própria defesa das empresas à PGR. O procurador-geral passa a ser questionado sobre sua atuação no processo de investigação. Editoriais de jornais nos dias seguintes falam em “delação vulnerável” (Folha de S. Paulo) e que “Janot deveria se demitir” (Estadão).10 de setembro de 2017 – prisão de JoesleyJoesley e Saud se apresentam à Polícia Federal em São Paulo após Janot pedir a prisão dos executivos. A suspeita era de omissão de informações por parte dos delatores nos depoimentos.13 de setembro de 2017 – prisão de WesleyA Polícia Federal prende Wesley Batista na investigação por insider trading. Três dias depois, Wesley se afasta formalmente também da presidência da JBS. O mandado de prisão pelo mesmo crime de insideratinge também a Joesley, que já estava preso. Nunca ninguém havia sido preso no Brasil até essa data sob acusação, antes de ser condenado, de ter cometido crime de insider.16 de setembro de 2017 – caso avançaO juiz João Batista Gonçalves, da 6ª Vara Criminal Federal em São Paulo, recebe a denúncia oferecida pelo MPF (Ministério Público Federal) e torna réus Joesley e Wesley por insider trading e manipulação de mercado. Já presos, passam a responder em ação penal pelas acusações.20 de fevereiro de 2018 – Wesley é soltoSTF suspende a prisão dos irmãos Batistas no caso de insider trading. Wesley é solto. Joesley, no entanto, permanece preso a pedido da PGR.9 de março de 2018 – Joesley é soltoJoesley e Saud são soltos após 174 dias de prisão.9 de novembro de 2018 – nova prisão de JoesleyJoesley e Saud são novamente presos, agora em 1 desdobramento da Lava Jato. A Operação Capitu investiga a participação em esquema de corrupção com a Câmara dos Deputados e o Ministério da Agricultura.12 de novembro de 2018 – Joesley é soltoSTJ (Superior Tribunal de Justiça) concede habeas corpus a Joesley e outros presos na Operação Capitu.7 de maio de 2019 – Wesley é denunciado O Ministério Público Federal de São Paulo denunciou pela 2ª vez o empresário Wesley Batista pelo crime de insider trading.16 de maio de 2019 – Wesley vira réuO juiz Diego Paes Moreira, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo aceita a denúncia do Ministério Público Federal contra o empresário.DefesaEm nota, a defesa do empresário Wesley Batista informou que já foram apresentados dados e documentos para demonstrar a regularidade e necessidade de operações de câmbio para as empresas e também para comprovar a ausência de fundamento na acusação de uso de informação privilegiada, pois o empresário não tinha como saber quando a sua colaboração seria homologada pelo STF.