O temor de mais uma crise com o presidente Jair Bolsonaro (PL), contrário a exigências de vacinação contra a Covid-19 e crítico da imunização, fez o Exército cogitar um esclarecimento público sobre as diretrizes estabelecidas pelo comandante da Força, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

Na última segunda-feira (3), Oliveira concluiu um documento com 52 diretrizes a serem seguidas por órgãos de direção e comandos militares de área na atual fase da pandemia.

O item 22 propõe "avaliar o retorno às atividades presenciais dos militares e dos servidores, desde que respeitado o período de 15 dias após imunização contra a Covid-19".

O comandante deixou em aberto a possibilidade de análise de casos de não vacinados: "Os casos omissos sobre cobertura vacinal deverão ser submetidos à apreciação do DGP (Departamento Geral do Pessoal), para adoção de procedimentos específicos."

A vacinação contra Covid-19 não é obrigatória nas três Forças Armadas, ao contrário da imunização contra doenças como febre amarela, hepatite B e tétano.

O documento confeccionado pelo comandante do Exército recomenda o uso de máscaras, distanciamento social e o não compartilhamento de fake news sobre a pandemia.

Bolsonaro é crítico da vacinação e contra máscaras e distanciamento. Ele já disseminou diversas notícias falsas sobre a pandemia.

Durante toda a sexta-feira (7), integrantes da cúpula do Exército manifestaram preocupação com uma nova crise com o presidente. Em março de 2021, Bolsonaro demitiu o ministro da Defesa e os três comandantes das Forças, na maior crise militar desde a década de 70.

O ministro da Defesa, Walter Braga Netto, entrou no circuito e manteve conversações com o comandante do Exército. Interlocutores afirmam, porém, que não houve recomendação expressa para a confecção de uma nota com esclarecimento sobre a diretriz baixada por Oliveira.

Segundo esses interlocutores, as Forças têm autonomia para expedir orientações quanto ao enfrentamento da pandemia.

De acordo com militares, o Exército passou a avaliar a publicação de uma nota esclarecendo que a vacinação não será obrigatória na Força para aplacar o descontentamento de Bolsonaro.

No entanto, até o momento nenhum novo comunicado foi divulgado.

A contrariedade de Bolsonaro com o conteúdo das diretrizes gerou desconforto entre militares e um temor de que uma nova crise seja detonada.

A orientação ao longo do dia foi minimizar o curto-circuito e repisar que o documento do comandante do Exército não difere muito da diretriz de seu antecessor no ano passado, general Edson Leal Pujol, e da própria orientação apresentada por Braga Netto no fim do ano.

Segundo integrantes do alto comando do Exército, o entendimento segue o mesmo, apesar das diretrizes definidas no último dia 3: a vacinação contra Covid-19 não é obrigatória nas Forças Armadas, o que está alinhado aos desejos do presidente, comandante supremo das Forças conforme a Constituição Federal.

Militares afirmam ainda que a não obrigatoriedade das vacinas já estaria contemplada nas diretrizes, na parte em que se especifica que casos de não imunizados serão apreciados pelo departamento de pessoal do Exército.