O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse nesta segunda-feira, 17, que quem estuda em escolas cívico-militares é de "direita" e defendeu o modelo de ensino, que é uma das bandeiras do governo Jair Bolsonaro, apesar de ter iniciado o ano letivo com uma série de indefinições.

Segundo o ministro, em escolas desse tipo "não tem caso de agressão, não tem professor ameaçado por filho de traficante e o rendimento das crianças é mais alto". Apesar de defender e anunciar o Programa de Escolas Cívico-Militares, o Ministério da Educação (MEC) não apresentou até hoje nenhum estudo ou avaliação que comprove que unidades nesse modelo têm desempenho superior ao das demais. 

"Se você fez escola cívico-militar, você é de direita. Mais de 80% das famílias de São Paulo são de direita e não sabem disso e ogoverno Bolsonaro veio para despertar isso", disse o ministro durante evento no Campo de Marte, na zona norte da capital, para a entrega de 120 ônibus escolares para 115 municípios paulistas. 

No início de fevereiro, o Estado mostrou que o ano letivo começou sem que o MEC tivesse definido as escolas que vão receber o modelo de escolas cívico-militares e sem ter contratado os militares que vão atuar nessas unidades. Até a segunda quinzena de fevereiro, os oficiais das Forças Armadas ainda não foram selecionados. Só houve a contratação de policiais militares e bombeiros, mas, neste caso, quem fez a contratação foram os Estados e municípios. 

Escolas cívico-militares têm gestão compartilhada entre militares e civis - elas são diferentes das escolas mantidas pelo Exército, que têm custo muito superior. Promessa de campanha, o governo anunciou em setembro o programa em 54 escolas em 2020, do ensino fundamental (6.º ao 9.º ano) e médio, em 23 Estados e no Distrito Federal este ano. A meta é chegar a 216 unidades até 2023.

O programa prevê que militares da reserva atuem em tutorias e na área administrativa - e não como professores ou em sala de aula. Apesar de esperar que o oficiais auxiliem na gestão educacional, a orientação do MEC às escolas é que iniciem as aulas e que, depois, os militares vão se “inserir” na rotina e na programação escolar.

O ministro não quis responder as perguntas da imprensa durante o evento. 

Entrega de ônibus 

O evento para a entrega dos ônibus nesta segunda-feira contou com a presença de prefeitos, deputados e vereadores. Estavam presentes o deputado federal Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli. Muitos políticos aproveitaram para gravar vídeos com os veículos e tirar fotos com o ministro e os deputados federais. 

O deputado Eduardo Bolsonaro disse que o evento era uma "festa dos pagadores de impostos" já que dava transparência ao gasto do dinheiro público. A cerimônia, no entanto, foi feita para a entrega de veículos que foram comprados ainda na gestão Temer, em 2018. O recurso para a compra dos ônibus foi empenhado em 2018. 

Desde o ano passado, o MEC tem promovido uma série de cerimônias como a desta segunda para entrega dos ônibus adquiridos em 2018. Em outubro do ano passado, por exemplo, Weintraub esteve em São Paulo para entregar 180 veículos. Antes, ele já havia promovido um evento em Santa Catarina para entregar 116 unidades. 

Disputa

Eduardo Bolsonaro aproveitou o evento para fazer elogios e defender o ministro do que chamou de "ativismo judicial" para tirá-lo do cargo. No início deste mês, deputados e senadores protocolaram um pedido de impeachmente de Weintraub no Superior Tribunal Federal (STF) depois de uma série de falhas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). 

"Não vim preparado falar e vou falar pouco porque vim para ouvir o que o ministro tem a dizer. Sou fã [de Weintraub], sigo no Twitter e tem meu apoio. O mundo não é como imaginam alguns deputados em Brasília, que insistem em tentar derrubar o ministro, fazendo ativismo judicial", disse. 

Ao final do evento, Weintraub agradeceu o apoio manifestado pelo filho do presidente. "Tem um monte de gente querendo me derrubar, mas quero agradecer porque tenho um monte de amigos me defendendo aqui e na internet", disse. O Estado apurou que a ofensiva do ministro tenta neutralizar a série de críticas que vem recebendo, inclusive de aliados de Bolsonaro.