Durou quatro dias a nomeação de Renan Bezerra de Melo Pereira como superintendente de Operações e Conservação da Agência Tocantinense de Transportes e Obras (Ageto). Ele havia sido nomeado no dia 20 deste mês para o mesmo cargo que ocupou na Agetrans na gestão de Sandoval Cardoso (SD), em 2014 e que o levou a ser alvo das operações da Polícia Federal, como a “Convergência” e a “Ápia”, nesta acabou denunciado por peculato, corrupção passiva, crime do colarinho branco e lavagem de dinheiro, até hoje sem julgamento. 

Contudo, no Diário Oficial de segunda-feira, 24, o governador interino Wanderlei Barbosa anulou essa nomeação, sem justificativa no ato. O JTo mostrou que Renan Bezerra de Melo Pereira estava de volta ao governo do Estado desde agosto do ano passado, como coordenador de Residências Rodoviárias no mesmo órgão onde atuava quando virou alvo da operação. 

A nomeação dele saiu no Diário Oficial do Estado (DOE) de 4 de agosto, no ato 927 assinado pelo hoje governador afastado Mauro Carlesse (PSL) e pelo então secretário da Casa Civil, Rolf Vidal. O cargo de coordenador de Residências tem o símbolo DAS-5 e remuneração base de R$ 5,5 mil. No cargo do qual acaba de ser exonerado, de símbolo DAS-3, o salário dele passaria a ser o de R$ 9,5 mil. A lei da "ficha limpa estadual",  2.744, de 2013, não prevê impeditivos para réu em ação criminal ser nomeado.

A operação "Convergência" alcançou a família do ex-procurador-geral de Justiça Clenan Renaut de Melo Pereira, incluindo três filhos dele, os advogados Juliana Bezerra de Melo Pereira Santana, Fábio de Melo Pereira e Renan Bezerra de Melo Pereira. O criativo nome dado à operação pela PF indica intersecção entre as operações Ápia e Reis do Gado, deflagrada em 2017.

A família do ex-procurador é investigada suspeita de mobilizar indevidamente a estrutura do Ministério Público do Tocantins pelo então Procurador Geral de Justiça, para potencializar os ganhos do escritório dos filhos, blindar atos de investigação no órgão e dar ar de licitude ao pagamento de medições feitas por Renan, quando era superintendente de Operação e Conservação de Rodovias no órgão estadual de obras, segundo os relatórios policiais da PF.

O material levantado resultou na  terceira denúncia feita à Justiça Federal, feita em 2019, por uma força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF). 

Renan responde à ação juntamente com o ex-secretário de Relações Institucionais e de Planejamento e Modernização da Gestão Pública, Eduardo Siqueira Campos, hoje deputado estadual pelo DEM. 

Também são réus os ex-governadores Siqueira Campos (DEM) e Sandoval Cardoso (SD) e do ex-presidente da Agetrans (Agência de Máquinas e Transportes do Estado do Tocantins) Alvicto Ozores Nogueira, conhecido como Kaká Nogueira, cunhado de Sandoval, e o empresário Wilmar Bastos, proprietário da empresa EHL.

Assinada pelos procuradores da República Rafael Paula Parreira Costa, Daniel Luz Martins de Carvalho e Jose Ricardo Teixeira Alves imputa aos denunciados, os crimes de peculato, corrupção passiva, corrupção ativa e lavagem de dinheiro. 

A denúncia passou a tramitar na Justiça Eleitoral após uma decisão, em 22 de junho de 2020, do juiz João Paulo Abe, ao declinar da competência para julgar o caso. No dia 14 de dezembro do mesmo ano, o processo deu entrada como ação penal eleitoral na 29ª Zona de Palmas. Em dezembro do ano passado, o juiz eleitoral Lauro Maia, manteve parte do processo para julgamento na especializada e devolveu parte do processo para a Justiça Federal processar e julgar.

O MPF os acusa de agirem dentro de uma organização criminosa que teria desvaido recursos públicos de contratos da Agetrans totalizando R$ 35.549.497,00. No pedido de condenação, o MPF pede o pagamento desse valor de forma solidária, como prejuízo material causado ao Estado mais R$ 10 milhões por dano moral coletivo. 

Sobre Renan, os procuradores imputam-lhe, na condição de superintendente de Operação e Conservação Rodoviária, a supervisão das atividades e a aprovação da suposta necessidade dos aditivos que, uma vez fraudados, são apontados por delatores como mecanismo de desvio. Renan também é acusado de ter atestado relatórios de aprovação e planilhas de medições fraudadas para respaldar pagamento por serviços não executados.