A bancada do PT no Senado decidiu nesta segunda-feira (11) apoiar Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para a presidência da Casa, na eleição que será disputada em fevereiro.

Pacheco é o candidato do atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) também explicitou seu apoio ao senador mineiro na última sexta-feira.

Alcolumbre inclusive chegou a levar Pacheco para um almoço com o presidente no Palácio do Alvorada, em dezembro.

O anúncio da posição petista aconteceu na tarde desta segunda-feira, após reunião virtual da bancada.

Em nota, o partido afirma que a decisão se deu por unanimidade. Apesar de declarar apoio ao candidato do presidente Jair Bolsonaro, o texto sugere certo antagonismo, ao defender em diversos pontos que a posição foi tomada para barrar a agenda de "retrocessos" do atual governo.

"Esses compromissos apresentados ao candidato Rodrigo Pacheco (DEM/MG) têm o sentido de enfrentar a agenda de retrocessos pautada pelo governo de extrema-direita no campo dos direitos humanos e dos direitos constitucionais, e em defesa do estado democrático de direito e da soberania nacional", afirma a nota.

"O PT tem bastante claro que a aliança com partidos dos quais divergimos politicamente, ideologicamente e ao longo do processo histórico se dá exclusivamente em torno da eleição da Mesa Diretora do Senado Federal, não se estendendo a qualquer outro tipo de entendimento, muito menos às eleições presidenciais", completa.

Apesar de criticar o governo e a extrema-direita, o partido estará lado a lado com bancadas cuja agenda é exatamente a criticada pela bancada. Mais notadamente, o PT estará na mesma aliança do Republicanos, partido de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho mais velho do presidente da República.

A nota também menciona que a decisão considerou dois aspectos centrais: o primeiro deles seria assegurar a independência do Poder Legislativo.

O segundo seria propor uma agenda para superar a "gravíssima crise" que o país atravessa.

"Propor agenda para contribuir com a superação da gravíssima crise que o Brasil atravessa, que perpassa esforço corrente para rejeitar iniciativas voltadas para o desmonte do Estado Democrático de Direito, incluindo propostas visando minar direitos civis, políticos, sociais e econômicos, muitas delas carentes de transparência e estofo técnico e científico.", afirma o texto.

A nota também afirma que o país segue comprometido com oito plataformas, entre elas a defesa da vida, compromisso com os mais pobres e necessitados, defesa de meio ambiente e direitos humanos.

​A bancada do PT se tornou nos últimos dias fiel da balança na eleição no Congresso. No Senado, a sigla conta com seis parlamentares, o que corresponde à sexta maior do Senado. Com a adesão da bancada, desconsiderando possíveis traições, Pacheco conta agora com o apoio de cinco bancadas —DEM, PSD, PROS, Republicanos e PT— que correspondem a 28 votos.

São necessários 41 votos para vencer a eleição, caso todos os senadores apareçam para votar.

Os petistas já pendiam para o lado de Pacheco desde o início da corrida pela presidência do Senado. No entanto, havia a expectativa de mudança de opinião de alguns senadores, após a oficialização de Bolsonaro à candidatura do senador mineiro.

Um dos argumentos em favor da aliança era que o partido já integra a aliança com o MDB na Câmara dos Deputados. Por isso, se tornaria impraticável replicá-la no Senado, o que poderia garantir o comando das duas Casas para o partido que capitaneou o impeachment de Dilma Rousseff (PT).

Além disso, Alcolumbre mantém proximidade com o líder petista, Rogério Carvalho. A reunião que decidiria a posição do partido chegou a ser antecipada para a quinta-feira da semana passada, após gestão do presidente do Senado, que queria fechar o máximo de alianças na semana passada, antes da definição do nome do MDB.

Após contato do líder do MDB, Eduardo Braga (MDB-AM), a bancada decidiu ouvi-lo antes de tomar uma decisão, em reunião que aconteceu na sexta.

Inicialmente, a bancada petista pretendia garantir o comando da CAS (Comissão de Assuntos Sociais). Como mostrou o Painel, o partido agora objetiva continuar com a presidência da CDH (Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa), atualmente sob o comando de Paulo Paim (PT-RS) e obter a Comissão de Meio Ambiente.

O eventual comando dessas duas comissões pode resultar em dificuldades para o governo Bolsonaro, que terá um adversário ideológico controlando o que será barrado ou avançará em relação à chamada pauta de costumes e de meio ambiente, dois temas de grande importância para o governo.

A definição petista tende a fortalecer a candidatura de Simone Tebet (MDB-MS), atual presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e considerada mais independente.

O MDB anunciou em dezembro que terá candidato único, sendo que a definição sairá nesta semana. Além de Tebet, havia três outros pré-candidatos: o líder da bancada, Eduardo Braga; o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE); e o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO).

No entanto, com a confirmação na sexta-feira do apoio de Bolsonaro a Pacheco, Gomes e Bezerra perderam força. Há a expectativa que desistam da corrida nos próximos dias.

Braga apostava no apoio do PT, uma vez que era o único pré-candidato do MDB com aceitação entre os petistas.

Com a adesão à candidatura de Pacheco pelos petistas, aliados avaliam que Tebet se tornou a opção mais viável. Liga ao movimento Muda Senado, ela contaria com os votos das bancadas de Podemos (10), PSDB (7), Cidadania (3) e PSL (2).

A bancada do MDB, a maior do Senado, tem atualmente 13 senadores, mas espera-se que esse número suba para 15 nesta semana.